Interessado em reforçar politicamente uma central sindical, o ministro do Trabalho e pastor da Assembleia de Deus, Ronaldo Nogueira, esteve no Cabo de Santo Agostinho, em 24 de agosto passado. Queria discursar e cumprimentar trabalhadores. Mas foi surpreendido com queixas e centenas de currículos lançados em sua direção. Uma turba de desempregados aproveitou a presença do ministro para protestar e, claro, pedir oportunidades. O choque de realidade para um ministro recém-empossado (assumiu após o impeachment de Dilma Rousseff) é a síntese de um ano economicamente trágico.
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Existem hoje, no País, cerca de 12 milhões de desempregados. Some-se a esta catástrofe social, cerca de 60 milhões de brasileiros com o nome sujo na praça, segundo entidades como SPC e Serasa. São pessoas que foram estimuladas a comprar em anos anteriores e agora não têm como pagar as dívidas. Sem consumidor, o comércio e serviços se retraem e a indústria produz menos. Vivemos sete trimestres seguidos de queda na atividade econômica, recessão considerada por alguns como a mais severa da história do País.
No final do ano, o governo Michel Temer, fragilizado pelas delações da Odebrecht, lançou dois pacotes para oferecer crédito, reduzir juros, facilitar renegociações de dívidas, flexibilizar as relações trabalhistas e tentar tirar o País do buraco. Em que pese o caráter politicamente oportunista, são ações bem-vindas. Precisam, claro, vir acompanhadas de um ajuste fiscal para evitar que o País vá à bancarrota. O ajuste, por sinal, é a grande missão do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fiador econômico de Temer.
Em 2016, pelo menos começamos a ver tramitar a reforma da Previdência. Ainda com vários pontos a serem aperfeiçoados, mas de fundamental importância para o País. A chamada PEC dos Gastos, aprovada em dezembro, também deve ajudar a colocar ordem nas contas públicas. A inflação, que passou de dois dígitos em 2015, começa a convergir para dentro da meta. Neste departamento de preços, porém, ninguém esquece que 2016 foi ano em que um quilo de feijão custou mais de R$ 15 no Brasil. Reflexo de questões climáticas.
PERNAMBUCO
Pernambuco sofreu ainda mais porque viveu um boom há seis anos, quando gozava de uma situação de quase pleno emprego. Nosso tombo em 2016 foi maior. A corrupção revelada pela Lava Jato paralisou diversas obras e, consequentemente, empregos foram ceifados. Porém, em meio a um turbilhão de notícias ruins, também há espaço para esperança. O Laboratório Aché anunciou um investimento de R$ 500 milhões; o Estaleiro Atlântico Sul, golpeado pela corrupção, conseguiu novas encomendas; Jeep, Grupo Petrópolis e Ambev aumentaram a capacidade produtiva; a Azul centralizou no Recife várias de suas operações.
Enfim, num ano ruim, são pequenos sinais positivos que nos fazem torcer para que o País, ao menos, pare de piorar.