Alvo de um mandado de prisão preventiva na Operação Eficiência, desdobramento da Operação Calicute no âmbito da Lava Jato no Rio, Eike Batista já foi considerado o homem mais rico do Brasil e o sétimo com a maior fortuna do mundo em 2012. A carreira dele começou na mineração e teve apogeu no mercado de petróleo. Já a derrocada do empresário teve início quando a produção de sua petroleira decepcionou e causou um efeito dominó nas outras empresas do seu grupo em 2013. Hoje, Eike é réu em ações penais por crimes financeiros e suspeito de pagar propina a Sergio Cabral.
Leia Também
- Sem curso superior, Eike Batista deverá ficar em cela comum
- Eike pode ter saído do País com passaporte alemão, suspeita PF
- Eike pagou propina de US$ 16,5 milhões a Cabral, afirma Procuradoria
- Eike Batista: de bilionário a alvo de mandado de prisão na Lava Jato
- Operação que determina prisão de Eike mira propinas a Cabral
Leia o perfil do empresário, escrito pelo jornalista Fernando Castilho, em 2014
Eike Batista é uma espécie de marca que todo mundo quer saber o que faz e o que fez. Importa pouco se ele deu errado nos últimos 12 meses e perdeu 93 posições no ranking da Revista Forbes e está cada dia mais próximo de sair da lista dos 100 mais ricos. Eike dá audiência.
O problema é que, de um ano para cá, ele ganha audiência, mas está perdendo patrimônio. Daí a tentativa de se aproximar cada vez mais do governo, haja vista o interesse na futura privatização do Maracanã e as ações para salvar seu Porto de Açu via Petrobras.
Até agora, apesar do inferno astral do ex-marido de Luma de Oliveira, quem de fato perdeu dinheiro foram seus investidores. E o BNDES, que emprestou muito ao Grupo EBX.
Mas, a fortuna de Eike perdeu mesmo valor de mercado.
Antes, porém, quem colocou dinheiro real no bolso foi o próprio empresário. Ou melhor, suas empresas, cuja maioria não passava de uma bela apresentação em Power Point. Mas, fazer o quê? Ele convenceu muitos a investirem nas suas empresas, caracterizadas sempre por um X (sinal de multiplicação).
Mas, pouca gente entende porque a fortuna de Eike Batista é tão volátil. Afinal, como explicar que num ano ele fosse dono de uma fortuna de US$ 34 bilhões e no outro tivesse “apenas” US$ 10 bilhões. Simples: a maior parte dessa fortuna foi criada e até continua no cofre de sua holding, a EBX, sob a forma de papel o que leva à pergunta: como esse papel se tornou recebível?
Bom, não é de hoje que Eike Batista vende seus projetos. Em 2005, por exemplo, depois de muito trabalho no setor de mineração ele tinha, de fato, uma mineradora, a MMX. Estava no começo e levaria tempo para produzir, mas, existia. Eike também tinha comprado áreas na 9 ª Rodada da ANP (direito de exploração de petróleo). Ele chamou essa futura empresa de OGX. Quando, em 2007, Eike vendeu uma fatia da sua empresa ainda embrionária para outra mineradora, a gigante Anglo-American e recebeu US$ 5,5 bilhões (em dinheiro), tornou-se o homem mais rico do Brasil.
Foi quando decidiu catapultar esse dinheiro criando aquilo que os analistas de mercado chamam de ecossistema de empresas. Começava assim, a juntar os futuros interesses da mineradora MMX com os da futura petrolífera OGX.
E daí? Toda mineradora precisa de porto com equipamentos especiais para escoar a produção. “Então, porque não juntar a mineradora com o porto?”, pensou Eike. E criou uma nova empresa focada em logística e dedicada à construção de portos, a LLX. Foi com ela que nasceu o projeto Porto Açu, no Rio de Janeiro.
Só que mineradoras e portos usam muita eletricidade. Então por que não uma geradora de energia? E criou também uma grande companhia no setor elétrico. Eike que já tinha uma termelétrica desde 2001, a MPX (apelidada de Termoluma). Ele a ampliou e passou a oferecer ao mercado futuro projetos de térmicas que alimentariam as minas da MMX, os portos da LLX e instalações da OGX. Nesse meio tempo, Eike trouxe à Bolsa de Valores de São Paulo outra mineradora a CCX, companhia de mineração de carvão no Chile, que segundo disse ao mercado, seria dedicada a fornecer combustível (carvão) para suas termelétricas no Brasil. Naturalmente, quando elas existissem de fato.
Finalmente, ele viu que todas essas empresas precisavam de fornecedores de equipamentos de perfuração e de plataformas marítimas para a futura OGX. Então, fundou a OSX, um megaestaleiro que seria criado para atender às necessidades da petrolífera que ainda nem saíra do papel. Foi assim que nasceu o ecossistema X no mercado de capitais.
Na teoria tudo isso parece uma maravilha. E é quando funcionava bem. Uma companhia complementa a outra, num círculo rentável e todos ganhavam. E foi com esse discurso que o mercado, em cinco grandes IPOs (abertura de capital) colocou nas mãos de Eike US$ 15 bilhões apenas para ter parte das empresas. Com esse dinheiro, mais o valor atribuído às ações que ele tinha no cofre, o brasileiro chegou à sétima posição entre os ricaços mundiais listados na Forbes. Era 2012 e suas empresas valeria os famosos US$ 34 bilhões.
O danado é que assim como Eike teve argumentos de convencer muitas pessoas que todas essas empresas (a maioria apenas uma ideia no seu computador), um terreno ou uma autorização da ANP, precisou entregar aos seus investidores uma parte do seu negócio. Pouco, mas entregou.
Outro ponto: como ainda não havia negócio de fato, a garantia foi representada por um monte de ações e participações das futuras empresas. E como todas essas empresas seriam controladas por ele, naturalmente, ficou com a maior parte desses papéis e contabilmente mais rico. Pode-se dizer que isso não se sustenta? Pode-se! Mas, foi graças a esse modelo que Eike Batista pôs bilhões no bolso.