COPA DO MUNDO

Copa do Mundo de 1982: o Maracanazo de uma geração brasileira

Brasil chegou como favorito à Itália, mas sucumbiu à Itália de Paolo Rossi

Matheus Cunha
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Matheus Cunha
Publicado em 18/02/2018 às 9:03
Reginaldo Manente/Estadão Conteúdo
Brasil chegou como favorito à Itália, mas sucumbiu à Itália de Paolo Rossi - FOTO: Reginaldo Manente/Estadão Conteúdo
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A história do futebol brasileiro é feita, em sua grande maioria, de sucessos. Os cinco títulos da Copa do Mundo e as participações ininterruptas nos Mundiais são prova disso. Contudo, há também momentos inglórios nesses mais de 100 anos da Canarinho. E, um desses capítulos que brasileiro nenhum gosta de relembrar, é a disputa de 1982, quando os comandados de Telê Santana desembarcaram na Espanha com a pompa de favoritos ao título. Mas a taça nunca chegou. Escapou entre os dedos, diante de uma Itália cambaleante e de um goleador improvável: Paolo Rossi.

A seleção brasileira chegou à Europa recheada de craques. Leandro e Júnior ocupavam as laterais direita e esquerda respectivamente. No meio, Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico formavam o que ficou conhecido como “quadrado mágico”. Serginho e Éder eram os responsáveis por comandar o ataque - Careca sofreu uma lesão dias antes do Mundial. A Copa do Mundo em si também prometia grandes emoções, com 24 seleções na disputa, número superior ao anterior, em vigência desde 1954, com 16 equipes. Todos foram divididos em seis grupos com quatro seleções cada, com os dois melhores de cada chave avançando para a segunda fase, também dividida em grupos, mas desta vez com três times. Os vencedores passavam para a semifinal e depois para a final.

Não demorou muito para o Brasil confirmar o posto de favorito ao título da Copa do Mundo. Foram 100% de aproveitamento nos três jogos da primeira fase: 2x1 contra a União Soviética, um empolgante 4x1 diante da Escócia e 4x0 para cima da frágil Nova Zelândia. Os resultados espantaram a desconfiança criada durante as Eliminatórias em torno da seleção, que suou para vencer Venezuela e Bolívia fora de casa.

Outras equipes também chegaram à Espanha credenciadas ao título. Alemanha, Argentina, França, Inglaterra e os próprios donos da casa dividiam com os brasileiros o posto de prováveis vencedores do Mundial. Mas nem todos tiveram um início tão bom. Os espanhóis, por exemplo, venceram apenas uma partida e passaram por conta do número de gols feitos (3 contra 2 da Iugoslávia). Os argentinos, atuais campeões do Mundo à época, perderam para a Bélgica por 1x0 logo na estreia.

Nenhuma campanha foi tão ruim quanto a da Itália que, para azar do Brasil, deslancharia na reta final e seguiria em direção o título. Os italianos não venceram nenhuma partida na primeira fase. Empataram os três jogos e passaram por terem feito um gol a mais que Camarões, que disputava a sua primeira Copa do Mundo em 1982. Nem mesmo o carrasco brasileiro Paolo Rossi balançou as redes no início. O máximo que conseguiu foi uma assistência contra os africanos, no empate por 1x1.

A edição de 82 também marcou a estreia do então jovem de 21 anos Diego Maradona em Copas do Mundo. Mas o camisa 10 da albiceleste fez apenas dois gols na Espanha, contra a Hungria, na vitória por 4x1. Os hermanos avançaram para a segunda fase, caindo na mesma chave de Brasil e Itália. Coube aos brasileiros a missão de eliminar os vizinhos, na segunda rodada, com um 3x1 (já haviam perdido para os europeus por 2x1). Zico, Serginho e Júnior anotaram. O “baile” foi tanto, que Dieguito deu uma entrada violenta em Batista e acabou sendo expulso logo em seguida. A partida, de extrema felicidade para o Brasil, foi no estádio do Sarriá, em Barcelona, e que pertencia ao Espanyol. Ali, no mesmo local, três dias depois, o futebol brasileiro viveria um dos seus maiores dramas até hoje.

TRAGÉDIA DO SARRIÁ

Brasil e Itália entraram em campo às 17h15 (horário de Brasília) para disputar uma vaga na semifinal. Os dois chegavam empatados no número de pontos (2x2), mas com os sul-americanos levando vantagem no saldo de gols. Um simples empate selava a passagem para a semifinal.

Paolo Rossi tratou de tirar o branco do placar logo aos cinco minutos. O camisa 20 recebeu cruzamento de Cabrini e cabeceou dentro da pequena área, entre Luizinho e Júnior, para o fundo das redes de Valdir Peres. Sete minutos depois, Sócrates recebeu de Zico, chutou cruzado e empatou. A bola passou entre a trave e o goleiro Dino Zoff. O carrasco brasileiro anotou o seu segundo gol na partida aos 25 da primeira etapa, quando Toninho Cerezo errou a saída de bola e deixou o italiano sozinho para finalizar.

O Brasil até chegou a empatar outra vez, agora com Falcão, aos 27 da etapa complementar. O tento deu ânimo para os brasileiros, que, com aquele 2x2, estavam avançando. Contudo, o balde de água fria veio logo em seguida, aos 29, de novo com ele: Paolo Rossi. O carrasco aproveitou o chute de Tardelli e desviou para o gol. O time de Telê Santana parou de atacar. Deu apenas mais duas finalizações até o apito final. Saía de cena o futebol arte brasileiro, em uma partida que até hoje se procura explicações. A tragédia do Sarriá foi considerada o Maracanazo de uma geração (em referência à derrota por 2x1 para o Uruguai na final de 50) e ainda causa repulsas.

Com o principal concorrente ao título fora de combate, os italianos tiveram um caminho mais tranquilo ao título. Rossi marcou mais duas vezes na semifinal contra a Polônia, na vitória por 2x0. E ainda foi o responsável por abrir o marcador na final, contra a Alemanha. No fim, vitória da Azzurra por 3x1 e a faixa do tricampeonato no peito. Igualando o número de conquistas do Brasil na época. A Copa do Mundo de 1982 ficou marcada pelo fato da melhor seleção não ter levantado a taça. Graças à uma tragédia, a do Sarriá, e que até hoje está registrada no lado melancólico do vitorioso futebol brasileiro.

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