Uma amizade que resistiu a tudo. Ao tempo, a distância e até a uma tragédia. O jornalista Rafael Henzel é um dos seis sobreviventes do desastre com o avião da Chapecoense, na Colômbia, em novembro do ano passado, e o empresário Julião Konrad, dono da rede de restaurantes Spettus, era para estar naquele voo. A vida os uniu. Nem a quase morte conseguiu separá-los. Pela primeira vez depois do acidente se reencontraram na última quinta-feira. Abraços, sorrisos e uma certeza: a de que ainda têm muito a viver.
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A cidade do encontro foi o Recife. Onde Julião – nascido em Lajeado, Rio Grande do Sul, e morador de Chapecó, Santa Catarina, por 12 anos – escolheu viver. Onde Rafael veio cobrir o jogo da Chape contra o Sport e aproveitou para lançar o livro "Viva como se estivesse de partida", sobre a trajetória dele e do time antes e depois do acidente aéreo que comoveu o mundo. Em qualquer conversa entre dois bons velhos amigos, assuntos não faltam. Todavia, um não poderia ser ignorado: Como ambos escaparam da maior tragédia do esporte mundial que deixou 71 mortos. A maioria grandes amigos dos dois.
Milagre é a melhor palavra para definir o que aconteceu a Henzel. “Isso pode até soar presunçoso, eu costumo fazer essa ressalva antes, mas eu sou um milagre de Deus. Aconteceu algo muito forte lá para seis pessoas. Você cair com um avião a 240 quilômetros por hora, ficar no frio, ter pneumonia, costelas quebradas, esperar um resgate, diversos fatores que te levariam a morte. Mas eu recebi um milagre de Deus e hoje estou aqui por conta disso”, disse Henzel. Outras cinco pessoas que estavam no voo também escaparam.
Sorte ou destino é como pode se classificar o jeito como Julião se salvou. Um dia depois da festa da classificação para a final da Copa Sul-Americana, em seu restaurante, em Chapecó, ele foi convidado pelo time a integrar a delegação do time do coração que viajaria para Medellín. O empresário só declinou da quase irrecusável proposta porque a esposa faria aniversário um dia depois da data da viagem. “Acredito muito em destino. Só estou no Recife pelo destino. Acho que tudo está traçado. Acredito no fator sorte, de estar no lugar certo, na hora certa. Acho que você nasce e tem uma missão”, disse o empresário, na primeira vez que falou sobre o assunto.
O certo é que ambos seguiram suas missões e se permitiram um novo encontro. “Nós nos esbarramos algumas vezes em Chapecó, mas não conseguimos conversar. Aqui no Recife tivemos essa possibilidade. Há um ano eu estava nesta mesma mesa em que estou hoje com a minha família e como é bom poder voltar. Como é bom compartilhar com amigos a alegria de viver. É bom estar aqui com com um amigo de longa data de todo o povo da Chapecoense”, contou Henzel.
POSITIVIDADE
Os amigos, mais do que nunca, agora querem celebrar a vida e tudo o que ela ainda há de trazer. “O importante é que estamos aqui, continuamos vivos e está tudo certo. A vida continua. Com certeza ainda temos muita coisa pra viver. A vida começou do zero agora”, brincou Julião. No mesmo tom, Henzel confessou o que (não) mudou. “Minha maior mudança foi não mudar, eu não pensei em ficar na minha casa sem trabalhar, não pensei em deixar de fazer o que gosto”, contou.
E é assim, levando a vida positivamente, que se consegue até fazer piada do que antes era uma preocupação. “Quando eu voltei a jogar bola, até brinquei com os colegas do futebol. Eu tive sete costelas quebradas, o pulmão perfurado, aí na pelada ainda vem um colega de pé torto dar um chute pra eu ter que desviar a bola com o peito”, brincou Henzel.
