Quem viu a festa da torcida coral no Arruda no último domingo, quando o Santa Cruz venceu o Operário-PR, por 1x0, pela ida das quartas de final da Série C, talvez nem imagine os transtornos enfrentados pelo público na entrada do estádio. A polícia teve muita dificuldade na contenção das quase 50 mil pessoas que se dirigiram à partida. Como consequência, houve relatos de violência policial, como o que duas integrantes do Movimento Coralinas denunciaram ontem à corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) e à Delegacia da Mulher.
De acordo com Maiara Melo, ela e as amigas tentaram entrar no Arruda uma hora antes do começo do jogo. Mas a antecipação não teria sido suficiente. A torcedora relatou, em redes sociais, que uma amiga começou a passar mal, em razão do spray de pimenta lançado pelos policiais. Na tentativa de ajudá-la, Maiara teria sido agredida física e verbalmente por um dos policiais. “Um policial nos abordou já de forma grosseira e mandou a gente sair. Eu disse que não ia sair, que eu ia ficar ajudando (a amiga), que estava passando mal por causa do spray de pimenta. Ele se irritou, abriu a grade, me puxou pelo braço gritando para a gente sair.
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As pessoas que estavam no entorno e eu fechamos a grade, e repeti que não ia sair. Ele deu um tapa com empurrão na minha cara”, relatou. “E gritou: ‘isso é pra você aprender a respeitar homem, sua put..’. Porque a tapa que ele me deu na cara não tinha sido humilhação suficiente”, completou.
A torcedora narrou detalhes do episódio em seus perfis nas redes sociais. “A truculência da polícia com a torcida não é novidade. Somos tratados como marginais, ridicularizados. Não tenho muita confiança na medida da polícia (sobre as agressões). Mas espero que ele (o policial) seja afastado dos estádios. É alguém que não tem preparo nenhum. Não sei se ele estava armado. Graças a Deus, que não aconteceu nada pior”, afirmou a torcedora do Santa Cruz.
Em nota, a Polícia Militar de Pernambuco declarou que as medidas tomadas pelos 400 homens envolvidos na segurança da partida seguiram as técnicas e orientações “dadas”. Procedimento que teria sido suficiente para contornar o problema do grande público em Santa x Operário-PR. “Se houve alguma queixa nessa atuação, o comando do BPchoque, a Ouvidoria da SDS e a Corregedoria da SDS estão à disposição para esclarecer os fatos”, diz a parte final do texto.
Ainda de acordo com a PM, os problemas de acesso ao Arruda foram provocados também pelo atraso na abertura dos portões. O fato foi confirmado pelo presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), Evandro Carvalho. Em entrevistas após a partida, ele afirmou que o Santa Cruz só liberou os acessos às 15h, duas horas após o previsto. O jogo começou às 17h.
Por meio do vice-presidente de futebol, Felipe Rêgo Barros, o clube coral lamentou os incidentes com a torcida. “Fizemos várias reuniões ao longo da semana. Disponibilizamos mais entradas ao estádio, abrimos todos os portões. Aumentamos o número de catracas. Reconheço que algumas não aguentaram a demanda e pararam de funcionar”, disse.
Na análise do dirigente, os problemas enfrentados pelo público foram gerados por uma culminância de fatores. “Sem querer transferir responsabilidade, tem a cultura do torcedor. Os ingressos estavam sendo vendidos desde a última terça-feira. Por incrível que pareça, a maior marca registrada foi no dia da partida. Tem a questão da infraestrutura do Santa Cruz, que tem de ser melhorada. A truculência policial é com eles e só lamento muitíssimo”, concluir Rêgo Barros.