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Futebol de cinco: a superação dos deficientes visuais

O futebol de cinco é jogado com ajuda de orientações e guizos nas bolas, além de silêncio da torcida nas arquibancadas

Elias Roma Neto
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Elias Roma Neto
Publicado em 25/05/2015 às 20:12
Fotos: Diego Nigro/JC Imagem
FOTO: Fotos: Diego Nigro/JC Imagem
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“Por gentileza, o pessoal das arquibancadas, por favor. Silêncio, tá, pessoal?”. O pedido é feito no sistema de som da quadra do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e logo o barulho é encerrado nas arquibancadas. Com as condições ideais, é soado o apito inicial do árbitro e, então, começa a partida do Regional Nordeste de Futebol de Cinco, esporte praticado por deficientes visuais. Se o silêncio de respeito vem das arquibancadas, dentro de quadra, o guizo na bola e as indicações dos treinadores, goleiros e “chamadores” orienta os atletas. Começa aí o futebol regido pelo som.

Na partida acompanhada pela reportagem do Jornal do Commercio, duelaram o Instituto de Cegos da Bahia (ICB-BA) e o Instituto Antônio Pessoa de Queiroz (IAPQ), de Pernambuco. Logo deu para serem destacadas as peculiaridades do futebol de cinco. Os quatro jogadores de linha de cada equipe são deficientes visuais, mas os goleiros enxergam e agem apenas em uma área específica, de 5m por 2m. Além disso, há uma espécie de técnico de ataque, localizado atrás da barra adversária, que é o “chamador”.

Basicamente, a quadra é dividida em três partes. Quando um time tem a bola na defesa, os jogadores são orientados apenas pelos arqueiros. No meio, as ordens são dos treinadores. Já no ataque, os chamadores são responsáveis por dar direções aos atacantes. Se a bola não estiver na área específica, os orientadores têm que ficar em silêncio para não confundir a comunicação.

“Para que o futebol de cinco seja praticado, a plateia deverá estar em silêncio, inclusive os membros da comissão técnica devem instruí-los usando um tom de voz que não atrapalhe os atletas a escutarem o guizo da bola. Além, claro, de só poderem falar na área determinada”, explica o árbitro Luiz Antônio Bezerra Alexandrino. Segundo ele, as regras são, de uma forma geral, adaptadas das regras do futebol de salão da Fifa, feitas pela IBSA (Federação Internacional dos Desportos para Cegos).

“Nossa base é a audição”, afirma Jeferson Gonçalves, Jefinho, atacante do ICB e da seleção brasileira desde 2010. “A gente depende do som para tudo. Para que o jogo flua bem e tenha boas jogadas e principalmente os gols, é preciso que haja a colaboração do público. Ele pode vibrar na hora do gol à vontade, mas na hora do jogo é muito importante o silêncio”, ressalta.

Jefinho é um grande exemplo de quem conseguiu se adaptar e brilhar. Durante o jogo, impressionava a quem podia observar seus movimentos. Seu bom controle de bola e percepção especial o tornam liso, passando pelos defensores com facilidade. Nada que não fosse esperado de quem já obteve o título de melhor jogador do mundo e ajudou a seleção brasileira a conquistar vários títulos, entre eles o da Paralimpíada de Londres, em 2012. Não é à toa que o ICB – que também tem os atletas de seleção Cássio e Tiaguinho e é considerado o melhor time do mundo – conquistou o título do Regional Nordeste no último domingo (24).

Ainda durante a partida chama a atenção outro fato, conhecido como a regra do “voy”, palavra espanhola que significa “vou”. Antes de dar o bote no adversário, os jogadores costumam dar um breve grito. Isso acabava evitando choques mais fortes e faltas, dando a possibilidade de o jogo correr mais solto. “Tem que falar que vai disputar a jogada. Não precisa ser a palavra voy, mas um aviso. O atleta que tiver posse de bola também tem que avisar se percorrer longa distância. E ambos têm que estar com a mão à frente para proteger sua integridade física”, disse Luiz Antônio.

Tantas regras requerem uma adaptação. Algo que, para Jefinho, veio fácil. “Desde criança, antes de perder a visão, eu já brincava de bola com meus amigos. Então, transformar essa brincadeira num esporte de alto rendimento foi fácil.” 

Seu companheiro de seleção, o pernambucano Raimundo Nonato, da Associação dos Deficientes Visuais de Petrolina (ADVP), também foi assim. Em 2010, começou a praticar. No ano passado, foi campeão mundial pelo País. “Quando fui participar da minha primeira competição de futebol de cinco, cheguei para a minha família e falei brincando que estaria em 2016, nos Jogos Paralímpicos. O bom é que consegui realizar o sonho de chegar à seleção antes. Agora, espero ir para o Rio.”

Fotos: Diego Nigro/JC Imagem
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