As imagens em sombras e vestígios de luz acompanham o universitário Diego Teixeira, de 28 anos, tanto quanto a força de vontade em provar que o impossível, para ele, ainda não existe. Portador de deficiência visual desde o nascimento, o paulista radicado em Pernambuco teve 95% da visão comprometida por uma doença congênita. Nem por isso, furta-se ao direito de viver novas experiências. De espírito aventureiro, Diego é movido pelo sonho de, um dia, descer a costa brasileira navegando. Há quase um mês, começou a trabalhar na concretização desse objetivo. Entrou em contato com o Cabanga Iate Clube de Pernambuco e foi aceito como aluno de vela, apesar de o clube nunca ter trabalhado com alguém que não enxerga.
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Além do e-mail contando o interesse em aprender a modalidade, Diego enviou também ao clube náutico um link do projeto Verlejar. A iniciativa acontece em São Paulo e trabalha para introduzir pessoas com deficiência visual nas classes da vela. “Fiquei muito entusiasmada. Comecei a descobrir, a partir dele, como a vela poderia ser ensinada a pessoas que não enxergam. Não sabia que esse trabalho existia. Uma frase que ele falou me marcou muito:‘podem até colocar dificuldades para mim, mas eu não desisto até tentar, até viver aquilo que eu quero viver’", contou Edna Melo, uma das treinadoras de Diego.
Por enquanto, o universitário treina uma vez por semana e é acompanhado também pelo coordenador de vela do Cabanga, Edval Júnior. Diego está aprendendo a velejar na categoria Day Sailer, que usa um barco escola para velejadores adultos. “Vem sendo uma surpresa. Diego usa a sensibilidade do rosto para sentir a direção do vento. É algo que nem todo velejador de alto rendimento consegue desenvolver”, contou Edval.
MÉTODO
Como Diego não pode ter um objetivo visual, durante os treinos, os técnicos colocam o barco em um rumo e o universitário vai comandando. Ele corrige o posicionamento usando o ângulo que o vento faz em relação ao deslocamento da embarcação. “A noção espacial no barco está totalmente dominada. Ele desvia da caixa da bolina e sabe o lugar de sentar”, contou Edval.
A confiança de Diego para não deixar a deficiência limitar a sua vida vem da maneira como ele foi criado. Como morou até os 12 anos em São Paulo, a sua rotina foi em instituições que o ensinaram a viver de maneira independente, sobretudo em razão da orientação de mobilidade que recebeu. “Eu não tenho medo de velejar. Tenho espírito aventureiro. Não sei se isso é defeito ou qualidade. O mar aparece para mim como sombras. Consigo perceber a luz do sol. Nesse momento, todas as preocupações desaparecem e sou invadido por um sentimento de liberdade”, relatou.
Quando estiver com toda a técnica dominada, Diego pretende arrumar um parceiro e embarcar em uma aventura rumo a Fernando de Noronha. Um dos grandes sonhos do universitário é fazer a travessia da Refeno. Posteriormente, sonha em descer toda a costa brasileira de barco. "Não adianta nada você ter a casa e não conhecer o quintal", argumentou.