Além dos Limites

Surdos criam código especial para competir na categoria dingue da vela

Como o trabalho manuel é intenso, Renê e Alan não podem usar as mãos para falar na linguagem brasileira de sinais (libras)

Luana Ponsoni
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Luana Ponsoni
Publicado em 28/05/2017 às 10:39
Bobby Fabisak/JC Imagem
Como o trabalho manuel é intenso, Renê e Alan não podem usar as mãos para falar na linguagem brasileira de sinais (libras) - FOTO: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Em algumas situações, o mundo sem sons pode ser mais confortável para quem nasceu sem escutar. Foi apenas depois de conhecer o paulista Alan Godinho, 32 anos, que o pernambucano Renê Hutzler, 39, conseguiu ressignificar a sensação de velejar. Com o parceiro radicado no Recife, ele descobriu o quanto a atividade pode ser prazerosa. Ambos têm 100% de déficit auditivo e criaram códigos para se comunicar nas regatas da classe dingue. O improviso garante o sucesso da dupla nos torneios. Com a dinâmica do barco, é praticamente impossível eles usarem as mãos para fazer os gestos da língua brasileira de sinais (libras).

“Antes eu velejava com pessoas sem deficiência. Falam muito. Não sentia o que sinto hoje. Não têm paciência. Não tenho nada contra elas, sou amigo de todos com quem velejei, mas é complicado. Só descobri essa sensação boa quando comecei a velejar com Alan. A relação é importante. Ele é calmo e consciente”, contou Renê.

No barco, eles estabeleceram que cada cabo tem um significado. Também adaptaram alguns gestos simples da libras para sinalizar ações durante a competição. “Quando bato no barco uma vez, está no momento de parar e montar a boia. Duas vezes, precisamos soltar o burro (peça associada à vela)”, contou Renê.

DE IGUAL PARA IGUAL

Competindo contra velejadores sem qualquer deficiência, os dois estrearam em maio do ano passado no Campeonato Pernambucano da classe. Ao término da temporada, ficaram com o terceiro lugar geral. Também acumulam um quarto lugar no Norte/Nordeste. O próximo desafio deve ser o Brasileiro da categoria, marcado para novembro, em São Paulo.

“Eu tenho planos. Penso no futuro. Se, um dia, Alan voltar para São Paulo, vai ensinar outro surdo a velejar. E eu vou encontrar outro parceiro assim. Quero que isso seja disseminado Brasil afora e mais pessoas com deficiência possam estar na vela”, finalizou Renê.

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