POLÍTICA

Cristina Kirchner divide Argentina entre amor e ódio

A ex-presidente sempre negou as acusações acrescentando que se trata de uma "perseguição" política

Da AFP
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Publicado em 08/12/2017 às 3:52
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A ex-presidente sempre negou as acusações acrescentando que se trata de uma "perseguição" política - FOTO: Foto: Reprodução
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Mulher combativa, a ex-presidente e atual senadora Cristina Kirchner dominou a política da Argentina durante a maior parte deste século, junto com seu marido, o falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), despertando tanto o ódio como o amor.

Para muitos se trata de um casal que enriqueceu por meio de uma rede de corrupção; para outros é uma feroz "perseguição" e "caça judicial" por parte do atual governo de Mauricio Macri para evitar o peso do kirchnerismo na política.

"Cristina não tem o poder que tinha antes, mas é a figura de oposição mais importante da Argentina", disse à AFP o sociólogo Ricardo Rouvier, da consultora de opinião pública Rouvier e Associados.

"Tem uma base muito ativa que é devota e fiel", acrescentou.

Poucos dias depois de prestar juramento como senadora, um juiz pediu a retirada de seu foro e sua prisão preventiva por "montar um plano" para encobrir iranianos acusados de planejar o atentado a AMIA, que deixou 85 mortos em 1994. A ex-presidente (2007-2015) também enfrenta outras ações judiciais por suposta corrupção.

Ela sempre negou as acusações acrescentando que se trata de uma "perseguição" política.

Volta à política

Após deixar a Presidência, Cristina ficou sem ocupar cargos por dois anos, mas não despareceu do cenário político.

Suas aparições públicas se davam, sobretudo, nos comparecimentos à Justiça, que às vezes se transformavam em verdadeiros comícios.

Este ano decidiu se candidatar às eleições legislativas "para colocar um limite" nas políticas do presidente Mauricio Macri, e em outubro venceu uma cadeira no Senado com 37% dos votos na província de Buenos Aires.

Mas Macri saiu fortalecido da disputa eleitoral, lhe dando impulso para avançar com seus projetos de reforma da aposentadoria, trabalhista, fiscal e educacional, que caem por terra com grande parte das políticas de sua antecessora.

Enfrentando outros líderes do Partido Justicialista (PJ, peronismo) na disputa pelo poder interno, Kirchner assume no Senado com um bloco peronista dividido.

Para as eleições, lançou uma nova formação, Unidade Cidadã, de centro-esquerda, fora do PJ.

Somente 10 senadores a apoiam, enquanto outros 20 formarão um bloco à parte, de oposição moderada.

"A morena"

Ao longo de 12 anos, inicialmente como primeira-dama e senadora e depois como presidente, somou inimigos enquanto consolidava uma forte adesão nos setores favorecidos por suas políticas sociais que a chamam de "a morena" do povo.

E parte da sociedade argentina a critica de ser viciada em grandes marcas de luxo, dinheiro e cirurgias.

Enfrentou dois grandes grupos midiáticos, setores do Poder Judiciário, a patronal agrária e do empresariado.

Em sua juventude militou nas forças estudantis da esquerda peronista. Passou para a política formal e centrista depois da ditadura, em uma trajetória comum à de Néstor Kirchner, falecido em 2010, com quem teve dois filhos - Florencia e o atual deputado Máximo Kirchner -, que lhe deram dois netos.

Após oito anos de mandato, mediados por uma reeleição em 2011 que venceu com 54% dos votos, mas sem poder voltar a se candidatar, Kirchner deixou o poder em 9 de dezembro de 2015 com uma grande manifestação de despedida na Praça de Maio.

Ao ir embora, disse que entregava um "país normal", mas o governo de Macri não para de acusá-la de deixar uma "pesada herança".

Causas

Desde que saiu do governo, começou a acumular acusações judiciais por suposta corrupção, que se somam ao pedido de retirada do foro pelo caso AMIA, desconsiderado em várias instâncias judiciais, mas reaberto este ano pelo juiz Claudio Bonadio.

Bonadio já havia processado uma operação conhecida como "dólar futuro", ao considerar uma fraude a medida de política monetária.

Sobre Kirchner pesam outros processos confirmados pela Câmara Federal (apelações): é acusada de favorecer o empresário Lázaro Báez com obras por 2,6 bilhões de dólares na província de Santa Cruz (sul) e como suposta chefe de uma associação criminosa para lavar dinheiro por meio de uma imobiliária.

Seus inimigos predizem que ela passará pelos tribunais.

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