A União Europeia (UE) precisa redobrar esforços contra a desinformação on-line durante o período eleitoral, afirma a comissária europeia Mariya Gabriel, em um momento em que se teme ingerências russas nas votações realizadas no bloco.
"É precisamente durante as eleições que percebemos o tamanho do impacto que este fenômeno pode ter nos eleitores", diz em entrevista à AFP a comissária de Economia e Sociedade Digitais. "Recebemos a mensagem que em período eleitoral, é necessário realmente redobrar esforços", acrescenta.
Esta reflexão fará parte das recomendações da Comissão Europeia, previstas para abril, com base no informe que deve receber na segunda-feira do grupo de especialistas implementado para abordar as 'fake news' e que conta com a participação de um jornalista da AFP, junto com representantes de outros meios e gigantes da internet.
Diante dos temores sobre o eventual papel dos "bots" russos - programas informáticos que realizam operações de internet sozinhos -, a UE prepara sua defesa. A Alemanha adotou, em 2017, uma lei para lutar contra a desinformação nas redes sociais, e a França espera apresentar sua proposta "em algumas semanas".
Gabriel, representante búlgara da Comissão, de 38 anos, prefere o termo "desinformação on-line" ao mais popular 'fake news' (notícias falsas). "Conhecemos atualmente os efeitos perversos do uso da expressão 'fake news', que políticos podem utilizar para desacreditar seus adversários e danificar a liberdade de expressão".
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A 'urgência' da 'educação'
A sombra da Rússia plana sobre a UE. Em janeiro, Bruxelas acusou Moscou de lançar uma campanha de desinformação para desestabilizar o bloco. E a Espanha alertou em novembro sobre a existência de mensagens de "desinformação" relativas à crise política na Catalunha procedentes de "território russo".
A análise da UE se baseia no trabalho de dois anos do grupo de trabalho Stratcom East, que administra um site de "mitos" e meios sociais para desmontar as informações falsas procedentes em grande parte de meios russos e contrabalançar, assim, as campanhas de desinformação da Rússia de Vladimir Putin.
Perguntada sobre se a resposta europeia tem no ponto de mira seu grande vizinho do Leste, a comissária europeia, procedente de um país da ex-órbita soviética, estima que "não há um único culpado" e defendeu uma estratégia muito mais ampla baseada na "transparência" e na educação.
"Por exemplo, em período eleitoral", "é preciso ter uma indicação muito clara sobre o que um partido político pagou para mostrar aos cidadãos que isto faz parte de uma campanha planejada", assegura Gabriel durante a entrevista realizada em seu gabinete da Comissão Europeia.
Mas a "urgência", em sua opinião, passa atualmente pela "educação". "A educação em mídia deve fazer parte do programa de nossas universidades, de nossas escolas" e, para isso, "também se deve prestar atenção aos professores", acrescenta.
Para Gabriel, "os jovens têm muitos instrumentos e muitos meios à sua disposição (...), mas são realmente os professores que necessitam dominar esta tecnologia para poder transmiti-la aos jovens".