Em seu primeiro discurso como presidente de Cuba, difundido integralmente pela imprensa local nesta sexta-feira (20), Miguel Díaz-Canel fez poucos anúncios, mas enviou mensagens a vários setores da sociedade cubana e do mundo.
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Em referências breves, o sucessor de Raúl Castro responde dúvidas e especulações sobre o futuro das reformas, o castrismo e a continuidade sem ruptura na passagem geracional.
Ele também comentou o apoio das influentes forças armadas, que pela primeira vez terão um chefe civil, as relações com os Estados Unidos e a importância do Partido Comunista.
Continuidade das reformas
"O mandato dado pelo povo a essa Legislatura é o de dar continuidade à Revolução Cubana em um momento histórico crucial, que será marcado por tudo o que conseguiremos avançar na atualização do modelo econômico e social, aperfeiçoando e fortalecendo nosso trabalho em todos os âmbitos da vida da nação".
O Partido Comunista
"Para nós está totalmente claro que só o Partido Comunista de Cuba, força dirigente superior da sociedade e do Estado, garante a unidade da nação cubana e é o herdeiro legítimo da confiança depositada pelo povo em seus líderes".
Apoio das Forças Armadas
"Contamos com a força, com a inteligência e com a sabedoria do povo, com a experiência e a liderança do Partido, com as ideias de Fidel, com a presença de Raúl (...) e com a força, o prestígio, a lealdade e a exemplaridade de um exército fundado por eles que jamais deixará de ser o povo fardado".
EUA
"Ratifico que a política externa cubana se manterá inalterada e reiteramos que ninguém conseguirá enfraquecer a Revolução nem vencer o povo cubano, porque Cuba não faz concessões contra sua soberania e independência, não negociará princípios nem aceitará condicionamentos. Jamais cederemos a pressão ou ameaça; o povo cubano é quem vai dizer soberanamente as mudanças que são necessárias".
Condução coletiva
"Teremos que exercer uma direção e condução cada vez mais coletiva, como sempre em permanente vínculo com a população e facilitando a participação do povo nas tarefas revolucionárias e na tomada de decisão através de processos amplamente democráticos que já são parte inseparável da política nacional".
A expectativa popular
"Não venho prometer nada, como jamais fiz a Revolução, em todos esses anos. Venho entregar o compromisso de trabalhar e exigir o cumprimento do programa que nos demos como governo e como povo nas Diretrizes da política do Partido e da Revolução, a curto, médio e longo prazos".
A oposição
"Aqui não há espaço para uma transição que desconheça ou destrua o legado de tantos anos de luta. Em Cuba, por decisão do povo, só cabe dar continuidade à obra, unidas as gerações nascidas e educadas na Revolução e a geração fundadora, sem ceder às pressões, sem medo e sem retrocessos".
Ao mundo
"Sempre estaremos dispostos a dialogar e a cooperar com aqueles que estejam, no respeito e no tratamento, entre iguais".
Aos artistas e intelectuais
"O esforço e o sacrifício dos revolucionários cubanos sempre estiveram abraçados pela poesia e pelo canto, pela arte e pela crítica. Somos uma Revolução que pode presumir de ter sido contada e cantada, de suas origens, com o talento e a originalidade de seus artistas e criadores, intérpretes genuínos da sabedoria popular e também das insatisfações e esperanças da alma cubana".
Aos que anunciam o fim do castrismo
"Lá fora há um mundo que nos olha com mais dúvidas do que certezas. Por muito tempo e das piores maneiras recebi a mensagem equivocada de que a Revolução termina com seus guerrilheiros".
Aos idealizadores e à imprensa
"Na era das comunicações nossos adversários foram hábeis para mentir, tergiversar e silenciar a obra revolucionária. E nem assim puderam destruí-la. Devemos ser mais criativos na difusão de nossas verdades".
"Devemos aprender a empregar mais e melhor as possibilidades da tecnologia para inundar de verdades os infinitos espaços do planeta internet onde a mentira reina hoje".
Novo presidente de Cuba
Engenheiro eletrônico, Diaz-Canel deve continuar com as reformas que introduzem uma certa dose de mercado em uma economia predominantemente estatal, na qual o salário médio não excede os 30 dólares.
Essa "atualização", empreendida por Raúl Castro, deve ser aprofundada para reativar uma economia altamente dependente de importações e da ajuda de sua aliada Venezuela, agora em crise.