Condenação

Para cientista, é prematuro prever impacto na carreira de Lula

O professor Pedro Fassoni, da PUC-SP, analisa a condenação do ex-presidente, o cenário da esquerda e do PSDB numa futura eleição presidencial

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Publicado em 12/07/2017 às 17:01
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O professor Pedro Fassoni, da PUC-SP, analisa a condenação do ex-presidente, o cenário da esquerda e do PSDB numa futura eleição presidencial - FOTO: Divulgação
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O doutor em ciências sociais Pedro Fassoni Arruda, professor do Departamento de Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), avalia que ainda é prematuro prever impacto da sentença do juiz Sérgio Moro na carreira política do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para ele, “foi uma condenação política”, tendo em vista “os laços do juiz  Moro com a cúpula do PSDB”. Nessa rápida entrevista, Fassoni analisa o cenário político, comenta sobre as possibilidades da esquerda sem uma candidatura Lula e as chances dos tucanos.

JC -Qual o significado dessa condenação na carreira política de Lula?
PEDRO FASSONI - Ainda é prematuro fazer um diagnóstico, quanto mais um prognóstico. Em primeiro lugar, é importante destacar que o processo foi alvo de críticas feitas por juristas, jornalistas, cientista políticos, militantes de partidos políticos e de movimentos sociais. As críticas vão desde a condução coercitiva sem fundamento no Código de Processo Penal (Lula jamais se recusou a prestar depoimento) até a condenação baseada em indícios, sem provas concretas. Foram cometidas diversas arbitrariedades durante o processo, como a violação do princípio da ampla defesa. Além disso, despencou o apoio popular à Lava Jato. Segundo uma pesquisa do Datafolha divulgada em maio, 51% dos entrevistados disseram não acreditar que a corrupção diminuiria com a operação. A desconfiança em relação ao juiz Sérgio Moro também aumentou, e as simulações dos institutos de pesquisa também indicam que, nos cenários que incluem a candidatura de Moro à presidência, este perdeu intenção de votos enquanto Lula não parou de crescer, mesmo com todo o bombardeio midiático. Hoje, Lula é o favorito para vencer a eleição em 2018, caso sua candidatura não seja impugnada. Temos que levar em consideração que a Lava Jato afetou a confiança da população em todos os partidos políticos, inclusive o PMDB de Michel Temer e o PSDB de Aécio Neves.

JC - Trata-se de uma condenação política na sua opinião?
PEDRO FASSONI - Foi uma condenação política. Os laços do juiz Sérgio Moro com a cúpula do PSDB (laços de amizade e até de parentesco) já foram mais do que demonstrados. O rigor utilizado pelo juiz contra acusados e réus do PT contrastam com a benevolência com que foram tratados os acusados (que sequer viraram réus) do PSDB. Trata-se daquilo que os juristas chamam de Lawfare, ou seja, a utilização do direito como instrumento da guerra político-partidária.


JC - Lula deve recorrer e, mesmo que reverta a condenação, há prejuízo a uma futura candidatura?
PEDRO FASSONI - A defesa de Lula já anunciou que irá recorrer. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com sede em Porto Alegre, já reverteu algumas decisões da primeira instância em Curitiba. Por exemplo: O ex-tesoureiro do PT, Vaccari, foi condenado pelo juiz Sérgio Moro no mesmo episódio do triplex no Guarujá, mas acabou sendo absolvido na segunda instância justamente por falta de provas. Foi uma dura derrota para o juiz Sérgio Moro. De qualquer modo, a condenação em primeira instância pode arranhar um pouco a candidatura de Lula, e ser explorada pelos seus adversários na campanha eleitoral. Mas ainda é prematura avaliar o impacto, será preciso analisar os desdobramentos da condenação.

JC - Mantida a condenação de Lula, quem poderia salvar as esquerdas numa futura disputa presidencial?
PEDRO FASSONI - Alguns apostam em Ciro Gomes (PDT), que tem um perfil de centro-esquerda. Mas existe também bastante desconfiança em relação a ele, especialmente por seu passado na velha Arena, no PSDB e em outros partidos da ordem. Ciro deu uma guinada nos últimos anos, chegou a apoiar Lula e Dilma nas eleições anteriores e hoje faz uma crítica ao neoliberalismo, adotando um discurso desenvolvimentista. Mas Ciro tem pouca penetração no movimento social organizado, e sobretudo junto aos movimentos identitários. Outros apostam em Roberto Requião, senador peemedebista do Paraná. Dentro do PT, são fortes os nomes de Lindbergh Farias e Gleisi Hoffman. E à esquerda do PT, podemos encontrar legendas como o PSOL, que possuem reduzidas chances numa eleição presidencial.

JC - A condenação de Lula somada à absolvição de Aécio no Senado, mais o desempenho de Dória (prefeito tucano de São Paulo) nas pesquisas de intenção de voto para presidente, seria a coroação do PSDB rumo a um lugar na liderança nacional?
PEDRO FASSONI - Aécio livrou-se da cassação entre os seus pares no Senado, mas o processo contra ele no STF continua e existe a possibilidade dele ser condenado. Aécio está praticamente descartado. Aliás, muito antes dessas denúncias de Joesley Batista, Aécio já tinha sofrido uma dura derrota para Dilma em 2014, no seu Estado de origem que é Minas Gerais. João Dória revelou-se um grande marqueteiro, com intensa exposição midiática (e nas redes sociais), mas até agora não apresentou nenhum resultado. Inclusive, depois de crescer a aprovação ao prefeito no início do mandato, hoje existem sinais de um desgaste e aumento à sua rejeição. João Dória não conta sequer com o apoio dos caciques de seu próprio partido; aliás, uma das lições da sua vitória foi justamente essa: o custo de sua eleição foi a profunda divisão dentro do diretório estadual do PSDB.

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