Reforma política

Relator da reforma política, Vicente Cândido é 'cartola' da CBF

Vicente Cândido foi escolhido por Rodrigo Maia para ser relator da Reforma Política

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Publicado em 24/07/2017 às 9:58
Foto: Lula Marques/Agência PT
Vicente Cândido foi escolhido por Rodrigo Maia para ser relator da Reforma Política - FOTO: Foto: Lula Marques/Agência PT
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Em fevereiro do ano passado, os principais líderes sindicais do PT se reuniram em São Paulo para organizar a defesa política da presidente Dilma Rousseff e denunciar "o golpe" que, segundo eles, estaria sendo tramado por seu vice, Michel Temer. Apesar do clima exaltado, um dos oradores presentes, o deputado federal Vicente Cândido (PT-SP) causou espanto ao pedir a palavra para defender a legalização dos cassinos no Brasil. Após a fala, um silêncio constrangedor tomou conta do ambiente.

O episódio ilustra bem o perfil do petista escolhido por Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, para assumir relatoria da reforma política. Há alguns dias, Cândido ganhou destaque no noticiário nacional após o Estado revelar que ele incluiu no projeto uma emenda que impediria a prisão de candidatos até oito meses antes das eleições. Ou seja: sob medida para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se articula para disputar o Planalto em 2018.

"Lula nem sabia (da emenda). Ficou sabendo pelo Estado (jornal O Estado de S. Paulo) Não achei relevante", disse o deputado. Integrante do Campo Majoritário petista, Cândido, porém, é classificado pelos colegas do Congresso como alguém "pragmático" e "bem relacionado" com o campo governista. Em parte, um estranho no ninho petista. "Ele foi escolhido relator devido ao trânsito que tem com os partidos conservadores", disse o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), que foi companheiro de Cândido nos tempos que era do PT.

Cartola

Diretor de Relações Internacionais da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), cargo pelo qual recebe um salário de R$ 35 mil mensais (que se somam aos R$ 33,7 mil do salário de parlamentar), Cândido é também um dos líderes da chamada "bancada da bola".

Até o ano passado o petista era sócio do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, em um escritório de advocacia. O dado curioso é que a sociedade começou em 2007, quando Cândido se formou em direito.

No mesmo ano ele foi nomeado vice-presidente regional do ABC na Federação Paulista de Futebol, então dirigida por Del Nero.

Em tempo: depois da graduação, o deputado fez uma pós em direito tributário no Instituto de Direito Público (IDP), onde foi orientando do ministro Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Mas porque Del Nero convidaria um recém formado para ser seu sócio? "Fiz estágio antes. Eu já trabalhava com matéria tributária no Parlamento e tinha muita relação criada", afirmou o deputado à reportagem.

Segundo o petista, a sociedade com Del Nero terminou para que os negócios não fossem prejudicados. O presidente da CBF é investigado pelo FBI (equivalente à Polícia Federal dos Estados Unidos) por suspeita de receber propina em negociações envolvendo direitos de TV.

"O meu nome estar junto do dele nessa conjuntura política atrapalhava o escritório. Nossos nomes caíam em matérias sensíveis na mão de juízes. Não valia a pena. Sugeri que ele saísse também", disse. Procurado por meio de sua assessoria, Del Nero disse que não iria se manifestar.

O salto político de Cândido ocorreu em 2010, quando ele se elegeu deputado federal. Dois anos depois assumiu a relatoria da Lei Geral da Copa do Mundo no Brasil. Nessa função, assumiu a mediação envolvendo delicadas e tensas negociações para o torneio no País. Cândido, por exemplo, alterou o Estatuto do Torcedor para permitir a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, como queria a Fifa. A partir daí, ampliou seu trânsito com parlamentares de diferentes agremiações partidárias.

Atualmente, o leque de atuação de Cândido na Câmara é amplo. Integra o "lobby" da legalização do jogo, protagoniza a defesa de anistia ao caixa 2 e foi um dos idealizadores da campanha de Maia à Presidência da Casa.

"A relatoria da reforma política foi um dos pontos que negociei com Rodrigo Maia para arrumar votos para ele no mandato tampão. Em troca, ele precisaria dar espaço para o bloco de oposição. Então ele deu relatoria para o PT e disse: ‘Vai você, que tem uma relação mais ampla’. No segundo turno arrumei uns 32 votos no PT para o Maia do total de 58", contou o petista. "Ele não foi escolhido por isso, mas de fato foi um dos primeiros deputados a defender meu nome. É meu amigo", disse Maia à reportagem.

Bens

O patrimônio declarado por Vicente Cândido à Justiça Eleitoral aumentou nove vezes nos últimos nove anos (já descontada a inflação do período). Em 2006, o então candidato a deputado federal declarou possuir pouco mais de R$ 170 mil.

O bem de maior valor, na ocasião, era um apartamento na Vila Andrade, que ele declarou por R$ 148 mil.

Quatro anos depois, seu patrimônio declarado já havia mais que triplicado nominalmente. Em 2010, Cândido declarou possuir R$ 522,9 mil em bens. Nesta declaração, ele informa um aumento do que dispunha em espécie: R$ 292,7 mil em contas correntes. Quatro anos antes havia declarado ter pouco mais de R$ 11 mil em espécie.

Na prestação de contas da campanha de 2014, o patrimônio declarado de Cândido saltou para R$ 2,12 milhões.

Racionais

Cândido já se arriscou como empreendedor. Foi dono de padaria na periferia de São Paulo, vendida recentemente. Aos 58 anos e nascido em Vargem Alegre, Minas Gerais, ele chegou à capital paulista em 1970, ainda criança.

Sua militância política começou nos grupos de juventude da Igreja Católica na Zona Sul de São Paulo. Durante a gestão da prefeita Luiza Erundina (1989-1993), foi administrador regional do Campo Limpo e presidente do PT paulistano - sempre alinhado ao Campo Majoritário.

Na juventude, foi criado junto com os integrantes da banda Racionais Mc’s, que fizeram comícios para ele em 1994. No começo da carreira era um político radical, mas foi mudando de perfil. Hoje se orgulha de ser próximo de João Doria, prefeito de São Paulo (PSDB), do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e, claro, de Lula (Colaborou Marianna Holanda)

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