O ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine chegou por volta de 13h40 à carceragem da Polícia Federal em Curitiba, base da Operação Lava Jato. Ele foi preso às 6 horas da manhã desta quinta-feira, 27, em Sorocaba, no interior de São Paulo, na Operação Cobra, fase 42 da Lava Jato, por suspeita de recebimento de propina de R$ 3 milhões da Odebrecht.
Leia Também
- Val Marchiori nega ilegalidade com Bendine e diz que não causou danos aos cofres públicos
- Bendine recolheu Imposto de Renda sobre propina, segundo investigações
- Bendine pediu propina 'na véspera' de assumir Petrobras, diz Lava Jato
- Saiba quem é Aldemir Bendine, ex-presidente do BB e da Petrobras preso na Lava Jato
Bendine viajou de carro até Curitiba, escoltado por agentes da Polícia Federal, que percorreram uma distância de aproximadamente 360 quilômetros.
Ele vai ficar em uma cela da PF por cinco dias, pelo menos - prazo da prisão temporária decretada pelo juiz federal Sérgio Moro.
Bendine assumiu Petrobras com missão de blindar estatal
O ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine foi confirmado no cargo em fevereiro de 2015, com a missão de ajustar o balanço da companhia e contabilizar as perdas com a corrupção diante do escândalo que já fazia a petroleira sangrar desde março de 2014. Dias antes, sua antecessora, Graça Foster, havia renunciado ao cargo diante da pressão por conta dos desdobramentos das investigações. Bendine foi preso nesta quinta-feira, 27, na 42ª fase da Operação Lava Jato, denominada Operação Cobra.
Vindo do Banco do Brasil, Bendine era um nome de confiança do ex-presidente Lula e foi indicado ao cargo pela então presidente Dilma Rousseff. A indicação foi uma surpresa para o mercado e foi recebida com mau humor pelos investidores. No dia de sua confirmação no cargo, as ações da Petrobras fecharam em queda de 6%, mas chegaram a recuar 9% durante as negociações.
Durante a gestão de Bendine, a Petrobras contabilizou em abril de 2015 o prejuízo recorde de R$ 6,2 bilhões por conta de baixas contábeis relacionadas à corrupção entre 2004 e 2012. O resultado referente ao ano de 2014 ficou negativo em R$ 21,6 bilhões, o primeiro anual da estatal desde 1991.
Bendine renunciou à presidência da Petrobras em maio de 2016, ainda durante a interinidade de Temer na Presidência da República. Naquele momento, a ex-presidente Dilma Rousseff acabava de ser afastada do cargo para responder ao processo de impeachment, concluído em agosto daquele ano.
Em seu lugar ficou Pedro Parente, ex-ministro da Casa Civil e do Planejamento do segundo governo Fernando Henrique Cardoso. O executivo tem uma gestão elogiada pelo mercado e, apesar dos cortes nos empregos e nos investimentos, a Petrobras voltou a mostrar resultados positivos sob seu comando.
Banco do Brasil
Bendine se tornou presidente do BB em abril de 2009, quando substituiu Antonio Francisco de Lima Neto. Também foi membro do Conselho de Administração da instituição. Assumiu a instituição na fase mais aguda da crise financeira global, com a missão de executar duas tarefas da agenda do ex-presidente Lula: ampliar a oferta de crédito para estimular a economia e liderar uma competição mais aguerrida com os bancos privados, para forçá-los a reduzir os juros. Seu antecessor não seguiu a cartilha do Planalto e foi retirado do cargo.
À frente do BB, Bendine conduziu o processo de redução dos juros e a ampliação do crédito. Como consequência, o BB aumentou a participação no mercado em meio à retração dos bancos privados. Pelos dados mais atualizados - do 3º trimestre do ano passado - o BB tem a maior carteira de crédito entre as instituições financeiras brasileiras, correspondente a 21,1% do mercado de crédito nacional.
O BB é o maior banco da América Latina, com mais de 100 mil funcionários e mais de 60 milhões de clientes. Bendine começou no banco aos 14 anos, como office-boy num programa chamado Menor Aprendiz. Sob seu comando, o volume de ativos do BB ultrapassou a marca de R$ 1,2 trilhões.
À frente do BB, ele não se importou com críticas de que o banco é um braço do governo na aplicação da política econômica. "Eu resgatei um pouco esse papel do Banco do Brasil enquanto agente de desenvolvimento econômico e social. Queria dizer: ele tem um papel de governo, de fato", disse, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em agosto de 2013.
"Sei que o mercado ainda precifica muito a gente negativamente por causa dessa possível interferência, ou intervenção, governamental", afirmou, na ocasião. "Muitas vezes, as pessoas não entendem a governança no Banco do Brasil. Hoje, ela está num nível igual ou superior à das grandes empresas brasileiras", completou.
É bacharel em administração de empresas e cursou MBA em Finanças e em Formação Geral para Altos Executivos.
Bendine pegou propina 30 dias antes de evento com Janot
Aldemir Bendine 'Cobra' era presidente da Petrobras quando encontrou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em 31 de julho de 2015, para celebrar a devolução de R$ 139 milhões desviados da estatal e recuperados pela Operação Lava Jato. Trinta dias antes do evento - um marco na guerra contra a corrupção que devastou a estatal petrolífera -, Bendine recebeu, segundo o Ministério Público Federal, a terceira parcela de R$ 1 milhão da propina paga pela Odebrecht.
Bendine foi preso nesta quinta-feira, 27, por suspeita de receber R$ 3 milhões em razão de sua atuação na estatal. Ele foi presidente da Petrobras entre 6 de fevereiro de 2015 e 30 de maio de 2016. Na planilha de propinas da empreiteira, ele era identificado pela alcunha 'Cobra'.
Segundo a força-tarefa da Lava Jato, na véspera de assumir a presidência da Petrobras, Aldemir Bendine e um de seus operadores financeiros exigiram propina aos executivos Marcelo Odebrecht e Fernando Reis, da Odebrecht. O pedido teria sido feito para que o grupo empresarial não fosse prejudicado na Petrobras e em relação às consequências da Lava Jato.
Em decorrência deste novo pedido e com receio de ser prejudicada na estatal petrolífera, a Odebrecht optou por pagar a propina de R$ 3 milhões. O valor foi repassado em três entregas em espécie, no valor de R$ 1 milhão cada, em São Paulo. Esses pagamentos foram realizados no ano de 2015, nas datas de 17 de junho, 24 de junho e 1º de julho, pelo Setor de Operações Estruturadas - o departamento de propina da empresa.
O encontro com Janot ocorreu 30 dias depois do pagamento da última parcela de propina da Odebrecht a Bendine 'Cobra'.
Em 31 de julho de 2015, em clima solene, o então presidente da Petrobras e o procurador-geral da República assinaram um termo de restituição de R$ 139 milhões aos cofres da estatal.
Deste total, R$ 69 milhões foram devolvidos pelo ex-gerente executivo da Petrobras Pedro José Barusco Filho e R$ 70 milhões devolvidos pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa
Na ocasião, Bendine anunciou que a estatal havia tornado mais rigoroso o processo de gestão de fornecedores. O então presidente da Petrobras, que chegou à estatal com a missão de implantar um modelo exemplar de governança, afirmou que a corrupção era 'uma prática individual, mas cabia às empresas criar mecanismos para impedir danos à reputação'.
"Fornecedores que falharem nessas condições serão excluídos de cadastro", advertiu Bendine, com autoridade. E lançou um desafio aos corruptos. "Não aceitaremos passivamente o papel de vítima. Fomos vítimas de pessoas que usaram seus cargos para obter benefícios."
R$ 139 milhões foram a segunda parcela devolvida à Petrobras. Em 11 de maio de 2015, Bendine já havia participado da primeira devolução de dinheiro desviado da estatal. Naquele dia, o Ministério Público Federal fez uma entrega simbólica de mais R$157 milhões, também recuperados de contas secretas de Pedro Barusco na Suíça.
"A orientação que eu recebi da presidente Dilma é clara: não hesitaremos em defender os interesses da companhia diante dos malfeitos e buscaremos sem descanso a reparação integral por todos eles", bradou Bendine 'Cobra', na ocasião.
"Um dia como esse em que retomamos a primeira parcela dos recursos perdidos por conta destas práticas reforça que a Petrobras está no rumo certo para superar essa crise e voltar a ser a fonte, não só de orgulho, mas de boas perspectivas e de bons resultados para seus empregados, seus acionistas e todo o conjunto da sociedade brasileira."
Bendine e operador destruíam mensagens a cada 4 minutos, diz Lava Jato
O Ministério Público Federal afirma que o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine e seu suposto operador André Gustavo Vieira da Silva, presos pela Operação Lava Jato nesta quinta-feira, 27, 'para evitar eventuais interceptações das comunicações entre eles, utilizavam o aplicativo Wickr e, após as conversas que travavam, destruíam as mensagens a cada 30 minutos’. Segundo a força-tarefa da operação, em alguns casos, as mensagens eram destruídas 'a cada 4 minutos para evitar a utilização como prova de ilícitos praticados'.
"O aplicativo Wickr permite a troca de mensagens instantâneas entre contatos por meio de sistema de criptografia ponta-a-ponta, com a possibilidade de destruição de todas as mensagens recebidas e lidas pelos interlocutores após um período pré-determinado", afirma a Lava Jato. "De se ver ser rotineira a utilização do aplicativo Wickr por Aldemir Bendine com intuito de efetuar conversas ilícitas e rápida destruição de provas."
Aldemir Bendine e operadores financeiros são suspeitos de operacionalizarem o recebimento de R$ 3 milhões em propinas pagas pela Odebrecht em favor do ex-presidente da Petrobras. Segundo o Ministério Público Federal, na véspera de assumir a presidência da estatal, em 6 de fevereiro de 2015, Aldemir Bendine e um de seus operadores financeiros solicitaram propina aos executivos Marcelo Odebrecht e Fernando Reis, da Odebrecht. O pedido teria sido feito para que o grupo empresarial Odebrecht não fosse prejudicado na Petrobras e em relação às consequências da Lava Jato.
A força-tarefa destacou, no pedido de prisão do ex-presidente da Petrobras ao juiz federal Sérgio Moro, que 'por algum tipo de descuido’, Bendine fez quatro prints de conversas mantidas com André Gustavo no aplicativo. 'Entre os 'prints’ foi localizada uma mensagem que ser refere ao endereço do operador em Brasília
"O referido endereço foi utilizado no contexto desta investigação para encontros nos quais foram acertadas as vantagens indevidas destinadas a Aldemir Bendine, como revelados pelos colaboradores a Fernando Reis e Marcelo Odebrecht", diz a Lava Jato.
"Em um destes encontros realizados às sombras estiveram presentes Aldemir Bendine e Marcelo Odebrecht para acertar valores da propina. Em outro "print" do aplicativo Wickr, André Gustavo compartilha com Aldemir Bendine nomes relacionados a pessoas próximas ao operador financeiro Lucio Funaro."
Funaro foi capturado na Operação Sépsis em 1º de julho do ano passado e está preso desde então. Ele negocia delação premiada.
Prints
A Procuradoria da República afirma que o operador André Gustavo também fazia prints das conversas que tinha com Bendine no aplicativo e 'promovia a destruição da prova'.
"Nestas conversas, André relata que terceira pessoa não identificada estava tentando, sem sucesso, contato com Bendine. De pronto, Aldemir Bendine (identificado como: "oi") ratifica o número de seu telefone. Em outra conversa, novamente Aldemir Bendine encaminha o número de seu telefone para André Gustavo. Em outra ocasião, Aldemir Bendine sugere a André Gustavo que entre em contato com Silvana, esposa daquele", relata a Procuradoria.
"No contexto destas conversas no Wickr em que foram efetuadas captura da tela do celular, uma delas refere-se a licitação promovida pela Petrobras, por meio do Convite 1930344.16.8. O "print" efetuado por Aldemir Bendine em conversa com André Gustavo corrobora os dizeres de Fernando Reis no sentido de que André Gustavo tinha acesso a informações internas, privilegiadas e confidenciais da Petrobras, fornecidas por Aldemir Bendine."
Defesa
O advogado Pierpaolo Bottini, que defende Aldemir Bendine, afirmou que desde o início das investigações "Bendine se colocou à disposição para esclarecer os fatos e juntou seus dados fiscais e bancários ao inquérito, demonstrando a licitude de suas atividades". "A cautelar é desnecessária por se tratar de alguém que manifestou sua disposição de depor e colaborar com a justiça", disse Bottini.