Os últimos meses têm sido particularmente desafiadores para o presidente Michel Temer (PMDB). Depois da delação da JBS e da denúncia por corrupção passiva oferecida contra ele pela Procuradoria Geral da República (PGR) – a qual ele conseguiu barrar no Congresso –, novas pedras se colocam no caminho entre o peemedebista e seu maior objetivo no momento: a aprovação das reformas Previdenciária, tributária e política. Para alcançar essa meta, Temer precisará de um apoio maior do que o que recebeu na última semana. Isso porque os 263 votos dos deputados que conseguiu para se livrar, ao menos por enquanto, de uma investigação, não são suficientes para que ele aprove a reforma da Previdência, por exemplo, que precisa de pelo menos 308 votos para seguir para o Senado. Apesar disso, outros fatores podem contribuir para, mesmo que com dificuldade, o presidente alcance mais essa vitória política.
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“De fato, Temer não conseguirá aprovar as reformas com a quantidade de votos que obteve na votação da denúncia por corrupção, porém, muitos deputados que votaram contra o presidente já se disseram favoráveis à reforma da Previdência, por exemplo, como é o caso dos parlamentares do PSDB, pois esta é uma agenda histórica do partido”, explica o cientista político Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O PSDB foi a legenda da base do governo que mais registrou “traições” ao presidente na votação de quarta-feira. Dos 47 deputados da sigla, 21 disseram sim à admissibilidade da denúncia contra Temer.
O ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), se mostrou otimista em relação à aprovação das reformas. “Boa parte da sociedade tem consciência que o Brasil não pode viver o que nós vivemos e o que nós herdamos. Precisamos fazer com que o País retome o crescimento, com inflação sob controle, gerando oportunidades de trabalho. Para consolidarmos esses avanços, há a necessidade de aprovarmos reformas estruturantes como a tributária e da Previdência”, defende.
O deputado federal Silvio Costa (PTdoB), por sua vez, acha difícil que o peemedebista consiga aprovar algum projeto depois de, segundo o parlamentar, ter sua imagem desgastada com tantas acusações. “O Temer obteve uma vitória matemática, mas uma derrota política. O que ele sempre vendeu para o setor produtivo? Que tinha 400 votos no Congresso e que por isso era um governo que iria aprovar as reformas. Qual se mostrou ser a base dele? De 263 deputados. Destes, eu acredito que boa parte vota contra a reforma da Previdência, pois estamos na véspera de um ano eleitoral e a medida é extremamente impopular. O governo está moribundo, acabou”, disse o parlamentar.
NOVA DENÚNCIA?
Outro fantasma que assombra os planos do presidente é a possibilidade de a PGR apresentar uma nova denúncia contra ele, desta vez por obstrução de Justiça. Segundo o deputado federal Tadeu Alencar (PSB), caso isso se concretize e o peemedebista queira conquistar aliados da mesma forma como fez antes da última votação, liberando emendas em troca de apoio, por exemplo, ele encontrará obstáculos com os quais até então não tinha se deparado.
“A vida do governo não será fácil. Parte do parlamento trabalha na base do toma lá, dá cá, da troca de favores, com um apetite insaciável. Cada votação será uma chantagem diferente. O País não vai aguentar e, mesmo que o governo queira continuar negociando com esses parlamentares, essas ações serão acompanhadas de perto pelos órgãos de controle”, detalha.
CUNHA
Pressionado pela PGR a assinar um acordo de delação premiada, o ex-deputado Eduardo Cunha é mais uma peça-chave do futuro do presidente. Há rumores de que, caso decida colaborar com a Justiça, Cunha revele uma série de ilícitos envolvendo aliados, entre eles Michel Temer. “Se essa delação sai, se ele (Eduardo Cunha) consegue fechar o acordo e realmente mostrar que tem bala na agulha, pode vir uma denúncia extremamente fundamentada e, neste caso, o presidente não sobreviveria”, opinou a cientista política Priscila Lapa.
Em março, Temer foi gravado em conversa com Joesley Batista, da JBS, orientando o empresário a “manter” o pagamento de mesada a Cunha. O áudio foi divulgado no mês de maio.