O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse nesta quinta-feira (7) que sua campanha em 2010 custou cerca de R$ 100 milhões a mais do que foi declarado de forma oficial. A alegação foi feita ao juiz federal Marcelo Bretas, durante interrogatório na Operação Ratatouille. Trata-se de um dos desdobramentos da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Cabral teria liderado uma organização que recebeu propina de R$ 16,7 milhões de empresas do ramo da alimentação.
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De acordo com a acusação, os recursos foram pagos pelas empresas Mazan e Milano. Ambas são fornecedoras de merenda escolar e alimentação para presídios e mantinham contratos com o governo de Rio de Janeiro. Elas eram representadas pelo empresário Marco Antônio de Luca, que está preso desde junho. O ex-governador, que já soma 72 anos de prisão em condenações de primeira instância envolvendo esquemas apurados em outros três processos, nega as acusações.
Cabral afirma nunca ter pedido propina, mas reconhece ter recebido, de diversas empresas, recursos de forma não declarada para campanhas eleitorais. Ele também assume que usou parte desta verba para despesas pessoais. "Sou o único político do Brasil que está falando com essa franqueza. (...) A campanha para governador em 2010, para citar minha última eleição, deve ter girado em um valor, vou chutar um número, R$ 25 milhões. Não sei se estou perto do número oficial. Mas, na verdade, ela custou R$ 130 milhões ou R$ 120 milhões", disse.
No caso das empresas Mazan e Milano, porém, ele diz que nem dinheiro para campanha recebeu. "Nesse caso, nunca houve nem propina e nem caixa dois. Propina eu rejeito em todas as denúncias, porque eu jamais pedi. E caixa dois também, não com o Marco de Luca, porque a nossa relação é de amizade e eu diria que nunca falamos sobre esse assunto". Segundo Cabral, ambos tinham um convívio familiar.
O empresário Marco Antônio de Luca também prestou depoimento e igualmente negou as acusações. Segundo ele, o governo do Rio de Janeiro deve às suas empresas cerca de R$ 70 milhões, situação que não deveria ocorrer caso houvesse um sistema de pagamento de propina no valor de 5% do faturamento.
Antes dos dois, depôs o ex-assessor de Cabral, Carlos Miranda. Apontado como operador do esquema, ele teve seu acordo de delação premiada homologado pela Justiça. Carlos Miranda admitiu ter sido responsável por receber recursos de propina, enquanto o ex-governador e o ex-secretário de governo, Wilson Carlos, tratariam da negociação com os empresários. Segundo ele, a regra era cobrar 5% do faturamento dos contratos com o governo do estado. O esquema teria começado ainda na época em que Cabral presidiu a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
O ex-governador disse que Miranda "pegou carona" nos depoimentos de outros denunciados para conferir veracidade à sua delação premiada. "Nós presos assistimos à televisão, lemos o jornal. Aí ele vem e diz: é isso mesmo".
Enem
Ao final do depoimento, Sérgio Cabral lembrou ao juiz Marcelo Bretas de um pedido já apresentado pela sua defesa para realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no dia 12 de dezembro. Ele pretende ingressar no curso de história. O magistrado concedeu a autorização. De acordo com a legislação penal, os estudos possibilitam reduzir o cumprimento da pena.