Ele começou a trabalhar como estagiário da Chesf, em 1976. Depois disso, passou por várias empresas, chegando à presidência da estatal em janeiro de 2017. Nessa entrevista ao Jornal do Commercio, Sinval Gama fala sobre os principais desafios da Chesf, considerando que o principal é aumentar a receita da estatal.
JORNAL DO COMMERCIO – Dá pra gente ter uma ideia do quanto esse sistema de cotas traz de prejuízo a Chesf por ano?
SINVAL GAMA - Hoje recebemos R$ 450 milhões por ano para fazer a gestão dos ativos da geração da energia que vendemos em cotas, o que corresponde a 87% de toda a energia que produzimos. Na média, essa energia é vendida por R$ 9, o megawatt-hora (MWh). É um número tão imoral. O preço da energia varia dependendo do dia, se tem menos água etc. No entanto, a preços de hoje, a Chesf poderia estar recebendo R$ 3 bilhões por ano com a venda dessa energia. Desses R$ 3 bilhões, poderíamos investir mais de R$ 2 bilhões por ano em empreendimentos de geração eólica, solar e em linhas de transmissão.
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]JC – E por que a Chesf não participa mais de leilões para implantar futuros empreendimentos na área de geração de energia?
SINVAL – Não temos receitas para fazer investimentos, comprar equipamentos. Quando se trabalha com empresa, é preciso ter dinheiro para alavancar recursos. Ninguém empresta a quem não pode pagar. Atualmente, estamos fazendo empreendimentos do porte com a capacidade instalada para gerar 500 megawatts (MW) a 1 mil MW. Não é do tamanho que a Chesf quer e nem do tamanho que precisa ter uma expansão da geração no Nordeste. Uma coisa é a Chesf fazer uma expansão, outra é uma empresa italiana, chinesa, francesa. São todos bem-vindos, mas essas empresas não têm a identidade que a Chesf tem com o Nordeste.
SÃO FRANCISCO
JC – Nos últimos cinco anos, houve uma redução de 71% da produção de energia por causa da pouca quantidade de água no São Francisco. Como o Sr. vê isso ?
SINVAL – Estamos passando uma das maiores crises de energia. Tenho a visão que cada vez mais a água do São Francisco terá outras prioridades, como o abastecimento humano, o saneamento e a irrigação. Hoje, estamos recebendo mais água do que liberando (o reservatório de Sobradinho está com a menor vazão da sua história, de 550 metros cúbicos por segundo). A prioridade hoje é restabelecer o armazenamento de água. Quem define o regime da água não é a Chesf. Isso é feito em conjunto por várias entidades e coordenado pela Agência Nacional de Águas (ANA).
JC – E com essa crise hídrica como ficará a geração de energia na região no futuro?
SINVAL – O Nordeste é uma região privilegiada por Deus. Temos condições de gerar, em diversos pontos do Nordeste, grandes volumes de energia com geração eólica e solar. A Chesf está se desenvolvendo para se especializar em energia solar. Estamos fazendo um projeto piloto no reservatório de Sobradinho com as placas (de geração solar) dentro do lago e implantando um Centro de Referência em Energia Solar (em Petrolina) que está prestes a ser inaugurado e estudará as diversas formas de geração de energia solar.
JC – E mesmo com o problema de queda da receita, a Chesf está planejando investir R$ 2 bilhões. Como?
SINVAL – Vamos vender as participações da Chesf em Sociedade de Propósito Específicas (SPEs). Quando cheguei à presidência da Chesf, encontramos 100 obras em atraso. Fizemos um plano para terminar todas as obras em atraso até o primeiro trimestre de 2019. No ano passado, concluímos 25 obras. Este ano, estamos trabalhando com 69, das quais 35 serão finalizadas este ano e 24 a serem finalizadas no primeiro trimestre de 2019.