ELEIÇÕES 2018

Mesmo preso, Lula mostra força política resiliente no Nordeste

Datafolha mostra que Lula mantém força política e capacidade de transferir votos no Nordeste mesmo após prisão

Paulo Veras
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Paulo Veras
Publicado em 17/04/2018 às 14:54
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Datafolha mostra que Lula mantém força política e capacidade de transferir votos no Nordeste mesmo após prisão - FOTO: Foto: EBC
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Preso há dez dias na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, no Paraná, o ex-presidente Lula (PT) tem mostrado uma resiliente força política no Nordeste. Segundo pesquisa do Datafolha, metade dos eleitores da região (50%) declarou votar no petista no primeiro turno. É muito, principalmente quando Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede), empatados em segundo lugar, amealham apenas 7% da preferência dos nordestinos quando Lula está na corrida.

Além disso, é no Nordeste que Lula parece ter mais capacidade de transferir votos. Na região, 51% dos eleitores dizem que o apoio de Lula a um candidato levaria a escolher votar nele com certeza. Outros 16% admitem que poderiam votar em um nome indicado pelo petista. Isso explica porque oito dos nove governadores da região, incluindo o pernambucano Paulo Câmara (PSB), foram para Curitiba prestar solidariedade ao líder petista no cárcere.

“Grande parte das políticas sociais do governo Lula tiveram um efeito maior sobre o Nordeste. Proporcionalmente, o impacto do Bolsa Família no Nordeste é maior justamente porque você tinha uma população muito grande que não tinha acesso à renda. Por isso, o apoio a Lula é tão forte. Em um momento de deterioração muito grande da ação governamental, é quase uma espécie de reação para preservação de conquistas”, explica o cientista político Marco Antônio Teixeira, professor da FGV.

arte do Nordeste

Embora o “lulismo” ainda tenha muita força no Nordeste, a pesquisa mostra que outros nomes do PT, como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jacques Wagner, ainda patinam na região. No cenário sem Lula, são o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) e a ex-senadora Marina Silva que mais crescem na região. Ciro triplica seus votos de 5% para 15%. Marina salta de 7% para 16%.

“Quem pode se beneficiar são os candidatos mais a esquerda. Você tem aí a Marina, o Ciro e talvez o Joaquim Barbosa. Eles poderiam dividir esses votos que iriam para Lula. Havendo uma candidatura do PT, que é o que tudo indica, ela vai também receber uma parte desses votos. Mas não todos”, explica José Alexandre Ferreira Filho, doutor em Ciência Política e professor da Universidade Católica de Pernambuco.

PSB

A força de Lula é o principal ativo político que o PT-PE tem. É o que faz a sigla ser cortejada pelo PSB do governador Paulo Câmara e o que estimula a pré-candidatura própria da vereadora do Recife Marília Arraes (PT). Para o cientista político Ernani Carvalho, professor da Universidade Federal de Pernambuco, Paulo tem um interesse estratégico no PT para se contrapor ao campo de centro-direita da oposição. “A potência eleitoral do PT no Estado vai estar ligada a descaracterização ou não da força do presidente Lula em transferir votos. Se o tempo apontar por um enfraquecimento da capacidade de Lula transferir votos, isso vai implicar uma interrogação muito grande do PSB em fechar uma aliança”, explica.

Presidente do PSB-PE, Sileno Guedes lembra que o partido ainda não tem uma definição sobre a candidatura do ex-presidente do STF Joaquim Barbosa. Ele garante que Lula tem a simpatia de grande parte do PSB e diz que a sigla reconhece o tamanho e a importância que Barbosa pode ter no processo eleitoral, mas que há uma distância entre isso e a afirmação de que o partido poderá ficar unido numa candidatura presidencial

“A aliança que pode ocorrer ou não com o PT se daria muito mais como ela sempre houve durante muitos anos, do que em torno da candidatura de Lula. Inegavelmente você tem o peso eleitoral do presidente Lula, que é muito forte. Mas o que está se buscando a nível nacional é um reencontro das forças de centro-esquerda no País para a construção de um projeto concreto de governo a partir de 2019. O que está nos unindo a se reencontrar com o PT é muito mais por esse viés”, diz Sileno.

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