O levantamento Datafolha, publicado no último fim de semana, revela que em nenhuma outra região do País a ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa presidencial produz tantos desamparados como no Nordeste. Sem o petista, o índice de nordestinos que vão votar em branco, nulo ou em nenhum dos outros postulantes dá salto do patamar de 14% para 34%, a depender do cenário.
Doutor em filosofia e professor de Ética Política na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Roberto Romano avalia que a falta de representatividade é um perigo para a estabilidade democrática. “Se você não tem candidatos viáveis e não tem partidos viáveis, você destrói na base o princípio da representação política. Se o eleitor não consegue escolher seus representantes, como garantir um processo democrático de longo alcance?”, questionou o professor.
Ainda de acordo com Romano, a crise política acaba engolindo os temas importantes da vida pública brasileira que deveriam estar sendo debatidos. “É um problema da situação política no Brasil. Não se vê uma saída viável para a direita ou esquerda, para baixo ou para cima”, ironizou. “Com a saída de Lula, você tem um vácuo e os candidatos com menor apelo popular ficam à deriva. Eles não têm contra quem se firmar, nem a favor de quem se firmar”, completou.
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A nível nacional, o percentual dos que rejeitam votar em outro candidato que não seja Lula também é alto. Nos seis cenários do levantamento sem o ex-presidente, a porcentagem de votos brancos e nulos varia entre 23% e 24%, o que é maior do que a intenção de voto no candidato em primeiro lugar.
Brancos e nulos devem cair
Ainda assim, para o cientista político Ernani Carvalho, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o número de brancos e nulos deve cair com o passar do tempo. “Esse número pode ser diluído com a proximidade das eleições, até para que os insatisfeitos se posicionem sobre o atual quadro”, disse.
Ele destaca que o alto número de pessoas que não declaram apoio a nenhum candidato demonstra um enorme descontentamento com a classe política do País. “Esses números podem ser vistos como um fruto de um grau excessivo de polarização da política nacional, um acirramento muito grande político-ideológico e isso aumenta o descontentamento com a classe política”, comentou o cientista político.