Atualizado às 17h37
Até onde o apoio de um prefeito pode influenciar na corrida para o Palácio do Campo das Princesas? O JC fez um levantamento sobre o apoio dos chefes dos executivos municipais pernambucanos, cujo eleitorado seja igual ou superior a 50.000 eleitores e o de toda a Região Metropolitana do Recife (RMR), aos candidatos a governador do Estado nas eleições deste ano.
Nas 26 cidades analisadas, o senador Armando Monteiro (PTB) tem o apoio de 14 prefeitos e sai na frente na disputa. Ele encabeça a chapa oposicionista Pernambuco Vai Mudar (PTB, PSDB, DEM, PSC, PPS, PRB, Podemos, PV, PSL, PRTB, PHS, PSDC e PMB) e tem como pré-candidato a vice o vereador do Recife Fred Ferreira (PSC) e ao Senado os deputados federais Mendonça Filho (DEM) e Bruno Araújo (PSDB). Já o governador Paulo Câmara (PSB), que tenta a reeleição, tem 11 desses gestores municipais no seu palanque. Ele comanda a Frente Popular (PSB, PT, MDB, PCdoB, PP, PSD, PMN, PPL, PR, Patriota, PRP, Solidariedade). Os quatro primeiros partidos da coligação são contemplados na chapa majoritária. A deputada federal Luciana Santos (PCdoB) é a candidata a vice e o senador Humberto Costa (PT) e o deputado federal Jarbas Vasconcelos (MDB) buscam uma vaga no Senado.
Os demais candidatos ao governo de Pernambuco, Maurício Rands (PROS), Júlio Lóssio (Rede), Dani Portela (PSOL) e Simone Fontana (PSTU), não têm apoio de nenhum prefeito dos municípios analisados pelo JC, mas isso não significa que eles não possam vir a ser apoiados nas demais cidades.
Apenas um prefeito dessa lista, Luciano Duque (PT), que comanda Serra Talhada, ainda não declarou o apoio a nenhum postulante. Um dos principais aliados de Marília Arraes (PT), Duque pode vir a apoiar a candidatura de Rands, que surgiu como uma alternativa após a candidatura da petista ser rifada devido ao acordo entre PSB e PT.
Somado o eleitorado das cidades em que o prefeito apoia Armando, ele chega a 1.624.735. Já nos municípios comandados por aliados de Paulo, o quantitativo é de 2.110.994 eleitores.
Em tese, o prefeito apoia o candidato da coligação que o seu partido integra. Quando conquistou o seu primeiro mandato, em 2014, Paulo Câmara ganhou em 20 dos municípios considerados nesse levantamento. Já Armando foi vitorioso em seis deles: Araripina, Belo Jardim, Garanhuns, Pesqueira, Santa Cruz do Capibaribe e Serra Talhada. Naquele pleito, Paulo e Armando se enfrentaram nas urnas, e o socialista venceu no 1º turno, com 68,08% dos votos.
Mas de lá para cá, a Frente Popular perdeu nove partidos e o apoio em cidades do interior importantes na economia do Estado, como Petrolina (Miguel Coelho; PSB) e Caruaru (Raquel Lyra; PSDB). Por outro lado, a coligação manteve para as eleições deste ano aliança com municípios estratégicos, como o Recife (Geraldo Julio; PSB) – maior colégio eleitoral –, Olinda (Professor Lupércio; Solidariedade), Paulista (Junior Matuto; PSB), Cabo de Santo Agostinho (Lula Cabral; PSB).
Já o Pernambuco Vai Mudar não tem a mesma formação partidária da coligação de Armando na eleição passada, intitulada “Pernambuco Vai Mais Longe”. Ela perdeu o PT, que agora marcha com Paulo, o PDT e o PTdoB (agora Avante), que apoiam Rands. O PSC, que integrava a chapa de Armando em 2014, se aliou ao governador após as eleições, mas desembarcou recentemente da base e ingressou novamente no bloco do senador.
Armando também conseguiu neste pleito o apoio de siglas como o PSDB e o DEM, que em 2014 faziam parte da Frente Popular. Armando conta com o apoio em prefeituras como Camaragibe (Demóstenes Meira; PTB), Garanhuns (Izaías Régis; PTB), Igarassu (Mário Ricardo; PTB), Ipojuca (Célia Sales; PTB) e Jaboatão dos Guararapes (Anderson Ferreira; PR), que é o segundo maior colégio eleitoral do Estado.
Ter prefeitos aliados pode ser decisivo para dar respaldo aos candidatos na corrida eleitoral, levando em consideração as mudanças na dinâmica das eleições, como o tempo de campanha de apenas 45 dias e a proibição do financiamento de campanha empresarial. Mas a transferência de votos não é imediata, explica a cientista política Priscila Lapa. “Existem elementos do contexto que podem atrapalhar essa transferência. Um prefeito extremamente mal avaliado pode ter dificuldade de transferir votos. E mesmo um bem avaliado, mas que muda de palanque e apoia um candidato novo no seu grupo político, também pode ter dificuldade de transferir votos”, diz Priscila. Vale salientar que estar filiado ao partido de uma determinada coligação não implica, necessariamente, em uma afinidade com o candidato que encabeça a chapa.
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Análise do cenário
O cientista político Elton Gomes ressalta o papel das prefeituras na composição dos acordos políticos e na mobilização dos fatores que têm impacto na eleição. “O prefeito é o chefe político local. Ele comanda a máquina partidária no nível local e dá capilaridade para os candidatos ao governo estadual como alguém viável”, explica.
No interior, tal influência se mostra ainda mais evidente pela proximidade do prefeito com os cidadãos. “O eleitor responsabiliza de forma mais direta o gestor pelos resultados políticos”, conta Priscila Lapa.