Nem a homofobia acaba com o amor pelo futebol

Karoline Albuquerque
Publicado em 25/07/2016 às 7:30
Nem a homofobia acaba com o amor pelo futebol


O torcedor tricolor Jefferson Dias não deixa a homofobia presente dos estádios abalar o amor pelo Santa Cruz.
foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem

No seu princípio, o futebol era um evento social, frequentado por homens e mulheres. Com o passar dos anos e a profissionalização do desporto, o ambiente começou a se tornar hostil àqueles que não se encaixavam nos padrões predominantemente masculinos. As mulheres, aos poucos, retornaram às arquibancadas, mas ainda existe uma grande incidência de machismo, racismo e homofobia no futebol. A intolerância, contudo, não é suficiente para apagar o amor de torcedores homossexuais ao Sport, Náutico e Santa Cruz.

A paixão pelo jogo não é restrita, não escolhe cor, gênero ou orientação sexual. Gostar de futebol pode até ser hereditário. "É de família, eu ia com meus primos e primas", relata o bancário Renato Neves, rubro-negro. O operador de loja Jefferson Dias sempre que pode está apoiando o Santa Cruz de perto. "Fui com meu pai pela primeira vez ao Arruda em 2004", conta o tricolor.

Diferente dos torcedores influenciados pelos pais, o professor de educação física, modelo e DJ Yuri Saintt escolheu o Náutico para torcer pelo rival da família. "Mesmo meu pai torcendo para outro time, o Sport, ele sempre procurou me levar ao estádio", relembra o ex-atleta de handebol.

O estudante de ciência política, Egerton Neto, afirma que volta a frequentar a Ilha do Retiro quando o Sport iniciar campanhas contra o preconceito. Foto: Arquivo pessoal

Então, no que interfere a orientação sexual do torcedor quando o assunto é o amor às cores do time do coração? O que difere a paixão de um torcedor homossexual pelo clube ao de qualquer outro expectador?

De acordo com o Grupo de Trabalho Gênero e Sexualidade do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco, os preconceitos são perpetuados nessa esfera com a função de manter o status quo da sociedade baseada numa cultura patriarcal. "Esse apagamento da responsabilidade particular gera um campo de anonimato onde atos impulsivos se retroalimentam. Desse modo, podemos pensar que o 'calor do jogo' promove um espaço de menor reflexão e senso crítico, onde expressões de agressividade podem surgir com a proteção do anonimato", explica o GT.

Os termos utilizadas incomodam alguns torcedores mais do que os outros, dadas as histórias individuais, segundo os especialistas em gênero. O professor de educação física Yuri, por exemplo, já não se deixa afetar pelos xingamentos. "Ser chamado de veado não é ofensa para mim. Eu sou veado. Eu entendo o quão é pejorativo, mas não me incomoda por saber que é da boca pra fora", diz o torcedor alvirrubro.

No história recente do esporte, já existem campanhas para reprimir a homofobia nos estádios. "Tem algumas posturas que começaram a mudar. Na seleção mexicana já existem campanhas. Pouco a pouco vejo atitude", comemora o Renato, citando o grito de "putos" na cobrança do tiro de meta dos torcedores do México.

Com a possibilidade de uma ação local para evitar o preconceito no futebol pernambucano, o estudante Egerton Neto pondera voltar a frequentar o estádio do Sport. "Fico feliz de ver esse passo sendo dado. Capaz de eu ir à Ilha para aplaudir", comemora o rubro-negro.

E como qualquer outro torcedor, eles também têm expectativas no time do coração. "Esse ano já fez muito além da expectativa, acho que a gente briga para se manter, para não cair, naquela luta até o final", palpita o tricolor Jefferson. A situação do Sport também é lamentada pelo rubro-negro Egerton. "Nada que a gente não esteja acostumado, essa gangorra que o Sport vive. Ano passado foi ótimo e esse ano está mais fraco", conclui o estudante. Porque o amor pelo futebol não escolhe cor, gênero ou orientação.

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