Goleiro que sofreu milésimo gol de Pelé foi agente da ditadura argentina

Karoline Albuquerque
Publicado em 18/11/2019 às 18:18
Edgardo Andrada sofreu o milésimo gol de Pelé. Foto: Santos/Divulgação


Da AFP - O milésimo gol de Pelé teve uma vítima direta: o argentino Edgardo Andrada, goleiro do Vasco da Gama, que não conseguiu defender aquele histórico pênalti em 19 de novembro de 1969 e que se tornou um agente da ditadura (1976-1983) em seu país.

O 'Gato', como era apelidado no futebol, foi um dos pilares do clube Rosario Central na década de 1960 antes de se transferir para o Vasco da Gama (1969-1975). Depois de uma ano no Vitória (1976), Andrada voltou à Argentina para defender o Colón (1977-1979) e o Renarto Cesarini (1982). Também vestiu a camisa da seleção argentina na Copa América da Bolívia de 1963.

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Mas Andrada, que faleceu em 3 de setembro passado aos 80 anos, teve vida secreta longe do futebol: foi agente de inteligência para a ditadura de seu país. Em 1981, ainda em atividade, o goleiro se tornou espião do exército para o Serviço de Inteligência 121 de Rosario, sua cidade natal a 310 km de Buenos Aires, revelou um arquivo confidencial tornado público em uma ação judicial.

"Sua figura de goleiro do Rosario Central atrai adesões e confiança, especialmente nos bairros operários, o que facilita sua penetração para objetivo traçado", escreveram seus superiores à época. Andrada foi denunciado em 2008 por outro ex-agente de inteligência condenado por crimes contra a humanidade.

O histórico goleiro foi acusado de integrar o grupo próximo a Agustín Feced, um temido delegado de polícia da ditadura, e de ter participado do sequestro e assassinato dos militantes peronistas Osvaldo Cambiaso e Eduardo Pereyra Rossi, em Rosario em maio de 1983, no fim do regime.

Em 2011, as denúncias públicas de organizações de direitos humanos forçaram sua renúncia do clube Rosario Central, no qual Andrada trabalhava. Apesar das denúncias, o ex-goleiro nunca sentou no banco dos réus. Antes do julgamento de 2016, o juiz Carlos Villafuerte Ruzo entendeu que não havia suficientes provas contra ele para dar sequência ao processo.

Outros dois jogadores e dois árbitros foram denunciados como agentes encobertos da ditadura argentina, responsável pelo desaparecimento de 30 mil pessoas.

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