CRISE

Derrota do Brasil na Copa América deveria abrir uma brecha no tempo para fechar as feridas

Seleção passa por uma crise de identidade há bastante tempo, mas o ufanismo nacional trata de esconder

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Marcelo Cavalcante

Publicado em 11/07/2021 às 17:55 | Atualizado em 11/07/2021 às 19:10
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Existe um embate no futebol brasileiro que já dura anos. De um lado, os que defendem o futebol arte, espetáculo, vistoso, que joga com a proposta de atacar o adversário. Futebol total para vencer. Do outro, os que se importam com o resultado, independente de como se joga, vencer é o que interessa. Mas a realidade da seleção brasileira vive ao limbo dessas definições. Uma crise que teve como maior e forte exemplo a famigerada goleada humilhante sofrida perante a Alemanha, em 2014, mas que não serviu para nenhum tipo de reflexão, infelizmente. 

O Brasil que perdeu para a Argentina, no sábado, o título da Copa América, em pleno  estádio do Maracanã, não é muito diferente daquela do técnico Felipão. Muito menos daquela que foi eliminada pela Bélgica, na Copa do Mundo de 2018, já sob o comando de Tite. A seleção não tem uma identidade, não tem o futebol total, nem o de resultado. É uma mesmice irritante. E muita teoria antes e depois dos jogos.

A geração atual, francamente, depende de Neymar. De fato, a estrela do PSG conduz a equipe ao ataque, buscando a vitória, com velocidade, inteligência, dribles, gols e coragem. Sim, coragem. Porque não teme botinadas. Vai para cima do adversário sem medo de ser feliz.  Mas ele é a única alternativa. Os demais jogadores do elenco são do mesmo nível técnico.

A derrota para a Argentina chateia, claro. Mas nada é pior do que a letargia do futebol brasileiro e ufania dos seus dirigentes. A impressão que se tem é que não se faz uma avaliação mais ampla do nosso cenário. Da falta de condições da maioria dos clubes de fomentar bons jogadores. E de também manter aqui e, por isso, boa parte dos talentos são vendidos para o experientes e ainda jovens, o que impede o fortalecimento da relação da seleção com a sua pátria, com seu torcedor.  É o cachorro correndo atrás do próprio rabo. 

E aí, surge o ufanismo cegar todos de uma realidade que nos pesa bastante. O nível técnico do futebol brasileiro é bem abaixo do europeu. O Brasil não é testado com as tradicionais  seleções do mundo, a nossa forma de atuar é mesma há anos. As revelações que Tite tentou emplacar, a meu ver, não deram certo e nem empolgam. Mas o que preferem realçar: a invencibilidade de Tite na seleção, o recorde de Neymar e que o brasileiro é o pais do futebol e que o Brasil tem cinco títulos mundiais. Isso no discurso é tão bonito. Mas não entra em campo, não resolve. Porque as seleções adversárias sabem desse cenário e buscam meios para criar uma nova situação, superar suas limitações. O Brasil, não... Se acha o máximo e os adversários que se cuidem.  E eles estão se cuidando.

Por essas e outras que surgiu, durante a semana, a discussão sobre torcedor contra o Brasil. Bom, esse é um assunto até para um texto, dedicado apenas para esse assunto. Mas acontece que o torcedor tem direito a escolher para quem torcer. Até mesmo contra a seleção. Podemos até achar isso triste. Mas não é um erro, um pecado, um crime. Ao invés de condenar, o mais sensato seria refletir: por que está havendo essa dissidência? Porque será que o torcedor está perdendo o orgulho do futebol brasileiro?

Há algo de errado no reino do futebol verde e amarelo. 

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