COMENTÁRIO

Náutico tenta fazer o absurdo: transformar assédio em factoide

"O caso da denúncia de assédio sexual é colocado em terceiro plano. O que importa é a eleição"; leia o comentário de Marcelo Cavalcante

Imagem do autor
Cadastrado por

Marcelo Cavalcante

Publicado em 24/11/2021 às 20:40 | Atualizado em 24/11/2021 às 21:16
Artigo
X

É estarrecedor o que está acontecendo no Náutico. O caso de denúncia de assédio sexual da ex-funcionária do clube, Tatiana Roma, é triste, revoltante. E absurdo como a atual diretoria está tratando a situação.

>> Ex-diretora do Náutico acusa funcionário do clube de importunação sexual

Na entrevista que o presidente do Náutico, Edno Melo concedeu ao programa Bola Rolando, na noite da terça, foi reveladora. Ele admitiu que houve um acordo. Ora, se houve acordo, houve o assédio. Não importa de quem partiu. Se assinaram algum documento para pagamento de cestas básicas, a diretoria reconhece o crime.

>> Presidente do Náutico fala sobre caso de assédio no clube, cita uso eleitoral e oposição reage; ouça 

>> Após denúncia de assédio no clube, Náutico anuncia contratação de empresa para combater e prevenir novos casos

>> Caso de assédio no Náutico: advogado de funcionário classifica acusação como "factoide" e questiona anonimato de outras vítimas

Entendo que Tatiana, no primeiro passo, agiu certo: tentou resolver a situação internamente. Evitar uma exposição de algo constrangedor. Nenhuma mulher expõe algo assim de imediato quando são vítimas de assédio. Tanto que, após a denúncia de Tatiana, outras mulheres ganharam força para revelar outro tipo de assédio, no Globo Esporte.

O Náutico, no entanto, mantém o pé em dizer que a denúncia de Tatiana não passa de um factoide político. Edno Melo acusou o candidato da oposição, Bruno Becker, de estar por trás dessa denúncia. Na noite desta quarta-feira, o advogado José Augusto, também em entrevista ao programa Bola Rolando, reforçou a ideia de que tudo não passa de cena política, já que o clube está às vésperas da sua eleição. Desqualifica a denúncia de Tatiana e de outras mulheres, dizendo que quem acusa deve aparecer,
mostrar a cara. Sinceramente, cada declaração que só piora a gestão no Náutico. O caso do suposto assédio sexual é colocado em terceiro plano. O que importa é a eleição.

Para completar, depois de tantas argumentos de que a denúncia da ex-funcionária nada mais é que um ato político, o Náutico anunciou, na tarde da quarta-feira, a contratação a Women Friendly, empresa especializada em treinamentos, canais de apoio e consultoria para prevenir e combater o assédio ou qualquer outra importunação sofrida por mulheres em organizações e entidades.

Hora bem oportuna, não?

VEJA MAIS CONTEÚDO

Tags

Autor