IMPORTUNAÇÃO SEXUAL

Presidente do Náutico fala sobre caso de assédio no clube, cita uso eleitoral e oposição reage; ouça

Nesta segunda-feira (23), quatro personagens envolvidos no caso falaram em entrevistas à Rádio Jornal

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Davi Saboya, Carolina Fonsêca

Publicado em 23/11/2021 às 22:05 | Atualizado em 23/11/2021 às 22:33
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O caso de assédio relatado na última segunda-feira (22) por Tatiana Roma, ex-diretora de Operações do Náutico, continua repercutindo. Em um primeiro momento, apenas a suposta vítima se manifestou a respeito, enquanto o clube e o conselho deliberativo se limitaram a publicar notas. Entretanto, nesta terça-feira (23), quatro personagens envolvidos falaram em entrevistas à Rádio Jornal

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Durante o programa Bola Rolando, Tatiana conversou com Ednaldo santos e João Victor Amorim e respondeu algumas perguntas sobre o caso. Ela disse estar aliviada, certa de que tomou a decisão correta e contou que recebeu mensagens de outras mulheres do clubes prestando apoio e contando que viveram situações semelhantes à que ela alega ter sofrido. Roma acrescentou ainda estar decepcionada com o conselho deliberativo do Náutico e disse ter sido pressionada para retirar a denúncia. 

"O sentimento com tudo que o conselho fez é de pura decepção. [...] Eu conversei com o Alexandre [Carneiro, presidente do conselho] no dia 13 de setembro, dez dias após ter dado entrada na denúncia. Naquela época ele já queria protelar para depois das eleições ou para o ano que vem, com o argumento de desviar de que o assunto era político. Meu argumento foi de que o conselho deliberativo só pode punir um funcionário enquanto ele é funcionário. Eu conversei isso com ele, tenho essas falas com ele, de que o funcionário sairia no final do ano, junto com o final da gestão do presidente. Então, o que ele estava me pedindo na verdade era que não houvesse punição", disse. 

Depois de ter protocolado a denúncia ao conselho, Tatiana chegou a fazer um acordo extra-judicial com o suposto assediador. Segundo ela, ele não cumpriu o acordo e, por isso, ela voltou a pedir ao conselho do Náutico que tomasse alguma medida e também registrou um boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher. 

Ouça a entrevista com Tatiana Roma na íntegra: 

Edno Melo 

Presidente Executivo do Timbu, Edno Melo falou sobre o caso pela primeira vez. Ele disse ter decidido falar por estar muito triste com a situação e por estar "diante de inverdades". 

"Eu não podia calar. Eu queria resgatar aqui a verdade dos fatos, começando pela saída da Tatiana. Ela não pediu para sair, eu exonerei ela. E exonerei ela porque ela discutiu com várias pessoas, inclusive comigo, me destratando. E eu disse: "infelizmente não tem mais como você ficar aqui". Ela foi exonerada, ela não pediu para sair", afirmou. 

Edno disse ainda que Tatiana fez a denúncia no conselho e que ela mesma procurou acordo. Que ele teria apenas participado do acordo da quantidade de cestas básicas que seriam pagar pelo funcionário em questão. "Quero deixar bem claro que seja apurado com veemência. O nosso advogado já foi na delegacia da mulher, se colocou à disposição de qualquer situação. Eu quero que seja apurado, que seja usado a força da lei se existir algum tipo de erro. Agora, se ela também não estiver falando a verdade, que ela pague também. Tem que ser justiça pra os dois lados", reforçou. 

Questionado da razão para que as partes fizessem um acordo, o que seria evidência de que o assediador estaria assumindo o erro ao aceitar o acordo, Edno se esquivou da resposta. O presidente ainda comentou que Tatiana disse a ele que foi motivada a denunciar o assédio depois de saber de um caso semelhante na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). "Veja que loucura", disse. 

Edno Melo também frisou de que toda a situação foi plantada por motivos eleitorais. "Por que estourou agora, há dias da eleição? Por que tinha necessidade de fazer um acordo e depois voltar tudo de novo?", questionou. Ao ser perguntado por Ednaldo Santos se o uso eleitoral do caso é um fato, Edno foi taxativo: "Claríssimo", afirmou. 

"Veja quem fez o acordo, veja em que momento saiu, veja a situação que saiu. Claríssimo. Eu fico muito triste por tudo que eu fiz por esse clube ter que passar por uma situação dessa no fim do meu mandato. Acho que qualquer pessoa tem direito a ser candidato, pleitear o cargo de presidente, mas de forma correta, de forma ordeira. Isso ai vai mudar em que a eleição?", perguntou. 

O atual presidente alvirrubro chegou a dizer ainda que hoje o Náutico é uma das coisas mais tristes da vida dele. "Só lamentar de verdade. Acho que o Náutico não precisa disso. Era para a gente estar aqui discutindo proposta, o crescimento do clube, o avanço do clube, mas infelizmente a gente perde esse tempo com situações pessoais no meio de uma eleição que poderia ser uma eleição de crescimento do clube, mas infelizmente. Eu vou dizer uma coisa que eu achei que nunca ia dizer: uma das coisas mais tristes da minha vida hoje é o Náutico. É uma coisa que está me fazendo mal. Esse clima eleitoral que se criou vai ter um reflexo muito grande lá na frente. A eleição é um ponto, a governabilidade é outra. Eu não vi essa sede de poder dessas chapas de oposição lá atrás em 2017, 2018, quando o Náutico estava afundado na Série C", destacou. 

Ouça a entrevista com Edno Melo na íntegra: 

Alexandre Carneiro 

Depois da entrevista de Tatiana, Alexandre Carneiro se colocou à disposição da reportagem e também conversou ao vivo com Ednaldo Santos e João Victor Amorim. Na sua versão, Carneiro fez questão de frisar diversas vezes a preocupação com o sigilo do caso. Além disso, ele acrescentou que o conselho não podia fazer mais nada depois que as partes realizaram um acordo extra-judicial e a própria Tatiana Roma protocolou um pedido de retirada da denúncia anteriormente feita por ela ao conselho. 

"Me chegou o acordo, não vi indícios de coação, de hipossuficiência nem social, nem econômica, nem insubordinação na transação extra-judicial. Na transação também tem escrito confidencialidade, então tem confidencialidade na entrada e na saída. Depois disso, a mim coube apenas zelar pela confidencialidade, sigilo, eleita pelas partes. [...] Não me cabia absolutamente nenhuma outra providência no âmbito do conselho. Depois do acordo feito, no dia seguinte, ela protocolou um pedido de retirada da denúncia. Em âmbito de conselho deliberativo, eu decidi por não quebrar essa confidencialidade e esse acordo, no meu entender, livre de coação na oportunidade. Se ela narra hoje algum tipo de coação, vai ser analisado, mas na oportunidade não vi indícios de coação. Só me cabia respeitar o sigilo e a confidencialidade das partes. Só me cabia isso. Em âmbito de conselho", reforçou. 

Ouça a entrevista com Alexandre Carneiro na íntegra:

Bruno Becker

Vice-presidente jurídico, na época, Bruno Becker explicou na Rádio Jornal a participação que teve no caso antes de se tornar público. Ele contou que apenas escreve o acordo entre as partes e entrou como testemunha. Além disso, sem citas nomes, afirmou que membros da atual gestão "vivem do clube". Becker é candidato a presidente do Náutico, na eleição do dia 5 de dezembro, como "cabeça" da chapa Náutico Sustentável.

"Lamento o que esses dois cidadãos (Edno Melo e Alexandre Carneiro) falaram. Desafio qualquer um dos dois a sentar numa mesa e retufar qualquer coisa que eu esteja falando. Agora, quero ver se eles provam o que estão falando da minha pessoa. Sobre o acordo, eu redigi, assinei como testemunha. As partes vieram ao meu escritório, onde eu dou expediente", afirmou Bruno Becker.

Ouça a entrevista com Bruno Becker na íntegra:

"Não dou expediente no clube, diferentemente de outras pessoas. O acordo foi celebrado aqui, de forma pública. Internamente, as partes sabiam. Desafio seu Alexandre Carneiro e seu Edno Melo a provarem que estou faltando com a verdade. Agora, se ele quiserem atacar a minha honra, não será o melhor caminho", completou.

Becker ainda rebateu as declarações de Edno Melo (presidente do Executivo) e Alexandre Carneiro (presidente do Conselho Deliberativo). Ele declarou que ambos estão querendo transformar o caso em uma ação eleitoral. O candidato a presidente do Náutico também reiterou e frisou que irá mostrar quem são as pessoas "que vivem do clube".

"Estão dizendo que estou criando fatos, o que é uma denúncia gravíssima, dizer que isso se trata de uma ação eleitoral. Não só uma pessoa se queixou sobre isso. Talvez seja uma covardia misturada com medo por parte deles. Não tenho medo de nada e de ninguém. Não tenho o que esconder. Ao contrário do lado de lá, pois parece que a covardia é gigante", comentou.

"Todo mundo sabe quem vive do clube. As coisas devem e irão aparecer. Irei apresentar ao Conselho e quero ver se o presidente cumprirá com a sua obrigação vai engavetar. Quem está dando cunho eleitoral ao caso são essas duas pessoas. O fato chegou ao conhecimento do senhor Edno Melo em julho, quando não existia eleição na pauta do clube. No Conselho Deliberativo, a mesma coisa. Chegou em setembro", acrescentou.

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