O Ministério da Saúde informou, por meio de uma nota oficial, que o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, pediu demissão do cargo na manhã desta quarta-feira (15).
O secretário, que vinha sendo uma das autoridades do ministério e o que mais participava de entrevistas ao lado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deixa o cargo em meio à pandemia do novo coronavírus. Ele, assim como Mandetta, é defensor do isolamento social.
Mais cedo, Wanderson de Oliveira enviou uma carta aos funcionários do seu setor, em que diz que "a gestão de Mandetta acabou".
"Finalmente chegou o momento da despedida. Ontem tive reunião com o Ministro e sua saída está programada para as próximas horas ou dias. Infelizmente não temos como precisar o momento exato. Pode ser um anúncio respeitoso diretamente para ele ou pode ser um Twitter. Só Deus para entender o que o querem fazer", diz trecho da carta.
Confira o texto na íntegra:
“Bom dia! Finalmente chegou o momento da despedida. Ontem tive reunião com o Ministro e sua saída está programada para as próximas horas ou dias. Infelizmente não temos como precisar o momento exato. Pode ser um anúncio respeitoso diretamente para ele ou pode ser um Twitter. Só Deus para entender o que o querem fazer.
De qualquer forma, a gestão do Mandetta acabou e preciso me preparar para sair junto, pois esse é um cargo eletivo e só estou nele por decisão do Mandetta. No entanto, por conhecer tão profundamente a SVS, tenho certeza que parte do que fizemos na SVS vai continuar, pois é uma secretaria técnica e sempre nos pautamos pela transparência, ética e preceitos constitucionais.
A maioria da equipe vai permanecer e darão continuidade ao trabalho de excelência que sempre fizeram e para isso não precisam mais de mim.
Foi uma honra enorme trabalhar mais uma vez com você. Para que não tenhamos solução de continuidade, indiquei o meu amigo querido Gerson Pereira para ficar de Secretário interino. Ele é um Profissional excelente e vai dar seguimento a tudo que estamos fazendo.
Vou entregar o cargo assim que a decisão sobre o Mandetta for resolvida. Todos estão livres para fazer o que desejarem.
Tenho certeza que a SVS continuará grande e será maior, pois vocês é que fazem ela acontecer. Minhas contribuições foram pontuais e insignificantes, perto do que essa Secretaria é como uma só equipe. A SVS é minha escola e minha gratidão por ter trabalhado com você será eterna. Muito obrigado por me permitir estar Secretário Nacional de Vigilância em Saúde. Jamais imaginei que seria o primeiro enfermeiro a ocupar tão elevado e importante cargo e o primeiro de muitos que virão. Muito obrigado!”
Em conversa com equipe do Ministério da Saúde na noite dessa terça-feira (14), o ministro Luiz Henrique Mandetta teria avisado que o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) já está em busca de uma pessoa para substituí-lo. Em clima de despedida, Mandetta ainda teria dito que será demitido nesta semana. O acordo é de ele esperar a escolha de um novo ministro. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Na noite da terça, Mandetta participou de entrevista coletiva no Palácio do Planalto e, em seguida, realizou a reunião com a equipe. Alguns membros, inclusive, teriam sugerido que ele pedisse demissão de imediato, ideia rejeitada por ele. Antes da coletiva, o ministro participou de reunião do conselho.
No último domingo (12), em entrevista ao programa Fantástico, da Globo, o ministro afirmou que o ápice dos casos do novo coronavírus se dará entre maio e junho, reforçando a importância da população ficar em casa. Ele ainda comparou Bolsonaro com um diabético que o médico diz que não poder comer açúcar e ele assalta a geladeira para comer doce. Mandetta ainda declarou que não dava para "as pessoas" ficarem indo em padarias, sem citar Bolsonaro.
"Isso preocupa, porque a população olha e fala assim 'será que o ministro da Saúde é contra o presidente?' Quem a gente tem de ter foco, esse aqui que é o nosso problema, é o coronavírus. Ele é o principal inimigo. Se eu estou ministro da Saúde, por obra de nomeação do presidente. O presidente olha pro lado da economia. O Ministério da Saúde entende a economia, mas chama pelo lado de proteção à vida", disse Mandetta.
Também no domingo, dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 22,1 mil casos de coronavírus e 1,2 mil mortes, o presidente afirmou que "parece que a questão do vírus está indo embora". A declaração foi feita durante celebração de Páscoa por videoconferência com líderes religiosos. "Veio agora esse vírus. É o que tenho dito desde o começo, desde há quarenta dia, (é que) temos dois problemas: o vírus e o desemprego. Quarenta dias depois, parece que está começando a ir embora a questão do vírus. Mas está batendo forte a questão do desemprego. Devemos lutar contra as duas coisas", comentou.
Nesta quarta-feira, o presidente publicou um vídeo, nas redes sociais, com ataques a medidas de isolamento social adotadas no combate à pandemia da covid-19. Bolsonaro destacou o título do vídeo "Os sócios da paralisia", publicado originalmente pelo jornalista Guilherme Fiuza, em que é apresentada uma série de críticas ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
No vídeo, Fiuza cita um "show mórbido" e destaca que não existem "mapas" comprovando o efeito mitigador do distanciamento social na prevenção ao novo coronavírus. "Você está em casa assistindo o governador de São Paulo assumir a paternidade da cloroquina, o ministro da Saúde explicar que traficante também é gente, jornais estrangeiros publicar fotos de covas abertas para dizer que o Brasil não tem mais onde enterrar seus mortos, entre outras referências intrigantes e estridentes sobre o assunto. Se você está paralisado e catatônico é porque já sabe que isso é um show mórbido", afirma Fiuza no início do vídeo.
A referência a Mandetta é uma declaração do ministro, na semana passada, de que para proteger a população que vive em favelas dominadas por criminosas será preciso dialogar. "Como se entra no morro em guerra para retirar uma senhora com sintomas? Saúde não é polícia", disse Mandetta ao Estado na semana passada.
No vídeo compartilhado por Bolsonaro, o jornalista cita ainda os impactos econômicos do isolamento, com o fechamento de pequenas empresas e previsão de queda 4% no Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil.