Só um em cada três pacientes graves sobrevive ao coronavírus no Brasil, diz levantamento

Segundo especialistas, o porcentual reflete as precariedades do sistema de saúde do País e, eventualmente, o uso indiscriminado de medicamentos sem benefícios comprovados
Agência Estado
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Publicado em 25/05/2020 às 8:19
Pernambuco disponibiliza 581 leitos de UTI para pacientes com sintomas de covid, via Sistema Único de Saúde (SUS) Foto: BOBBY FABISAK/ACERVO JC IMAGEM


Apenas um em cada três pacientes graves de covid-19 que são entubados nas UTIs brasileiras se recupera e consegue voltar para casa. A mortalidade desses doentes é de 66%, um número muito alto quando comparado aos internacionais. Segundo especialistas, o porcentual reflete as precariedades do sistema de saúde do País e, eventualmente, o uso indiscriminado de medicamentos sem benefícios comprovados cientificamente, como a cloroquina.

A conclusão é de um levantamento do Projeto UTIs Brasileiras, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) e do Epimed - uma ferramenta de análise de dados e desempenho hospitalar. A coleta de informações foi feita entre os dias 1º de março e 15 de maio em 450 hospitais em todo o Brasil, envolvendo 13.600 leitos de terapia intensiva - o que equivale a cerca de um terço das vagas para adultos nessas unidades.

Os pacientes mais graves são aqueles que estão internados em uma unidade de terapia intensiva e demandam apoio de ventilação mecânica para continuar respirando. Por isso, a mortalidade desses doentes é forçosamente alta em qualquer lugar do mundo. No Reino Unido, por exemplo, é de 42%, e, na Holanda, chega a 44%. Um outro estudo, restrito à cidade de Nova York, revelou um porcentual ainda mais alto, de 88%.

"A mortalidade geral na UTI é de 21%, entretanto, entre a população de pacientes mais graves, chega a 66%", compara o coordenador do Projeto UTIs Brasileiras, o médico intensivista Ederlon Rezende. "Ou seja, de cada três pacientes que vão para a ventilação mecânica, apenas um sobrevive. Essa doença não é uma gripezinha."

O também médico intensivista Jorge Salluh, pesquisador do IDOR e fundador da Epimed Solutions, concorda com o colega e especula sobre as razões da mortalidade tão alta. "Este porcentual é muito alto para qualquer doença, qualquer estatística, é um número assustador", diz. "Eu não tenho esses dados, é uma inferência, mas o que parece é que estamos esquecendo de medidas de prevenção adotadas nas UTIs. O uso de tratamentos experimentais, como a cloroquina e outras substâncias, todas igualmente com poucas evidências, podem ser um fator. Intervenções farmacológicas não comprovadas aumentam o risco de morte por efeitos colaterais", comenta.

Os dados das UTIs são levantados a partir de questionários respondidos diariamente sobre os pacientes (como sexo e idade) e os procedimentos adotados. Os medicamentos ministrados não constam do levantamento. "Pessoalmente, acho que o uso da hidroxicloroquina tem prejudicado nossos pacientes, principalmente aqueles que evoluem com a forma grave da doença e vão para as UTIs", afirmou Rezende. "Mas estes dados não nos permitem afirmar isto", completa.

A infectologista da Unicamp Raquel Stucchi tem opinião semelhante. "Pelos estudos com pacientes graves já publicados, sabemos que a cloroquina aumenta o risco de efeitos adversos e morte. Mas não dá para inferir isso para o Brasil enquanto não soubermos quem usou e quem não usou a droga."

Curiosamente, essa mortalidade é similar nas unidades privadas (65%) e públicas (69%). Uma das razões pode vir do próprio perfil do universo pesquisado. Foram 322 hospitais privados e 128 públicos. Os especialistas, no entanto, levantam outras hipóteses. "Em geral, o paciente dos hospitais privados são menos graves que os dos públicos; como a rede privada tem mais leitos disponíveis, ela é mais flexível no critério de admissão em UTIs", explica Rezende. "Mas quando olhamos a mortalidade de um subgrupo muito específico, essa comparação é mais correta e vemos que a mortalidade é parecida."

Os especialistas lembram que os hospitais que participam do levantamento tendem a ser os mais bem organizados, o que pode levar a um retrato mais otimista da realidade. "Temos de olhar para esses dados com a ideia de que sejam melhores do que o do nosso mundo cão, em hospitais que não estão organizados e já apresentam o sistema colapsado", diz o especialista.

Um outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores foi a faixa etária dos pacientes de covid-19 internados em UTIs. Quarenta e um por cento têm menos de 65 anos. O porcentual é ainda mais alto (51%) entre os internados por síndrome respiratória de caráter infeccioso - condição que pode indicar casos não diagnosticados de coronavírus. "Definitivamente, esta não é uma doença de velhinhos", afirmou Rezende.

A grande maioria dos internados em UTIs com covid-19 (71%) ou síndrome respiratória (75%) apresenta alguma comorbidade, como problemas cardíacos, diabetes e obesidade. "Ainda assim, é bom ressaltar que cerca de 30% não tinham nada", lembrou o coordenador do levantamento. "Ou seja, a doença pode afetar qualquer pessoa."

Outro dado confirmado pelo levantamento é que o tempo de permanência nas UTIs por covid-19 é bem acima da média de outras condições, chegando a dez dias. "As internações são mais longas do que a média na terapia intensiva, que é de seis a oito dias", explicou Salluh. "Além de serem muitos pacientes em situações muito graves, eles ficam muito tempo na UTI e o giro de leito fica bastante restrito."

A taxa de ocupação das UTIs revelada por esse levantamento já é alta: 88% na rede pública e 74% na rede privada. No entanto, os especialistas acham que estes números já estão subestimados. "O nosso levantamento começou no início da epidemia; tem aí um momento bom", afirmou Rezende. "Hoje, os porcentuais já estão acima disso, com o sistema já colapsado. Provavelmente os próximos 30 dias serão mais difíceis."

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O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

Confira o passo a passo de como lavar as mãos de forma adequada

 

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