Em julho, Pernambuco foi o Estado brasileiro que registrou o menor percentual de testes para detecção da covid-19 na população. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Covid-19), divulgada nesta quinta (20) pelo o IBGE. No mês passado, 13,3 milhões de pessoas fizeram algum teste para diagnóstico da doença, o que representa 6,3% da população. O Distrito Federal foi a unidade da federação com o maior percentual de testes realizados (16,7%), enquanto Pernambuco registrou o pior percentual (4,1%).
Em entrevista coletiva na tarde desta quinta, o secretário estadual da Saúde, André Longo, foi questionado sobre esses números. Ele preferiu minimizar a eficácia do trabalho. "O próprio IBGE avalia que essa pesquisa tem um caráter experimental", disse. Segundo ele, o Ministério da Saúde tem dados mais confiáveis a respeito do tema, pois informa o número exato de pessoas testadas.
"Não cabe fazer amostragem domiciliar para saber a quantidade de testes que foram efetivamente realizados. Então, quando você faz uma amostra domiciliar, você tem uma margem de erro muito grande. A ideia é fazer a comparação com o efetivo número de testes", justificou. Dentro deste critério, disse Longo, Pernambuco ficaria entre os seis Estados que mais testam.
O secretário, no entanto, terminou reconhecendo que o Estado testou menos e dividiu a responsabilidade com os municípios. "Pernambuco é o sexto Estado com mais testagem de RT-PCR, que é o padrão-ouro dos testes de covid-19. Entre todos os Estados, Pernambuco, de fato, fez menos testes rápidos porque nós não apostamos na compra de testes rápidos, que ficaram a cargo dos municípios. O Estado, como gestor da média e alta complexidade, sempre se preocupou com os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave. Fizemos testagem desde o início, dentro do padrão-ouro que é o teste molecular de RT-PCR. Pernambuco tem um padrão de testagem muito maior do que outros Estados", disse.
Pelos números do Ministério da Saúde, o Estado realizou até a 33ª semana epidemiológica (18 de agosto), 137.920 testes RT-PCR, ou swab. Esse número coloca o Estado na décima posição. No Nordeste, a Bahia é o que mais testa pelo método swab (319,7 mil), seguido do Ceará com 144,9 mil.
Apesar de o secretário destacar os números relativos ao RT-PCR, outras fontes de informação confirmam a baixa testagem em Pernambuco quando se coloca outras técnicas de testagem. O próprio IBGE informa que as perguntas feitas aos moradores pesquisados procurava identificar se eles haviam realizado "algum teste (que poderia ser o exame com material coletado com cotonete na boca e/ou nariz – SWAB; com coleta de sangue através de furo no dedo; ou com coleta de sangue através da veia do braço) para saber se estava infectado pelo novo coronavírus".
O professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Dalson Figueiredo, do mestrado profissional em Políticas Públicas, ressaltou que os números da PNAD dificilmente teriam um furo. "Toda pesquisa é amostral, isso não é desculpa. A amostra é pensada para ser representativa da população. Se há erro nos números de Pernambuco, também vai haver nos outros Estados", ressaltou.
Figueiredo citou dados compilados pelo site Cota (https://covid19br.wcota.me/) para reforçar que, sim, Pernambuco estaria realizando poucos testes. "Pelos dados do IBGE, Pernambuco, Minas Gerais e Rio Grande do Sul aparecem nas últimas posições. De acordo com os dados do Cota, na variável de testes por 100 mil habitantes, que é a melhor base de comparação, os últimos do ranking são Goiás, Pernambuco e Mato Grosso, respectivamente. Então, Pernambuco é o único que aparece duas vezes nas duas estimativas como local de pouco teste em relação à população", disse.
Os dados do Cota são compilados por professores da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Segundo a ferramenta, Pernambuco realiza 2,9 mil testes por 100 mil habitantes, fica na frente apenas de Mato Grosso (1,9 mil testes por 100 mil habitantes). O Distrito Federal, com 15,8 mil testes por 100 mil, é a unidade da federação que mais testa, o que termina confirmando o resultado amostral da PNAD.
Em números de testes realizados, o Cota também ratifica os dados do Ministério da Saúde. Pernambuco já teria realizado 281,7 mil testes, ficando em 11º lugar quando a comparação é em números absolutos. São Paulo, com 3,03 milhões, seria o Estado que mais realizou testes.
Os números do IBGE divulgados também mostram que não há diferença no percentual de homens e de mulheres que fizeram algum tipo de teste: 6,2% e 6,4%, respectivamente. Por grupos de idade, o maior percentual foi entre as pessoas de 30 a 59 anos de idade (9,1%). Entre as pessoas de 60 anos ou mais de idade, 5,1% realizaram o teste.
A PNAD mostra ainda que, quanto maior o nível de escolaridade, maior é o percentual de pessoas que fez algum teste. Entre pessoas sem instrução ao fundamental incompleto, 3,1% e, entre aqueles com superior completo ou pós graduação, 14,2%. Quanto maior a classe de rendimento domiciliar per capita, maior o percentual de pessoas que realizaram algum teste para covid-19, chegando a 14,2% entre as pessoas de maior poder aquisitivo e de 4,0% entre aquelas de menor renda.
No geral, o percentual de pessoas que testaram positivo foi de 20,4% (2,7 milhões de pessoas) dos 13,3 milhões que fizeram algum teste.