AVIAÇÃO

Boeing 737-800: modelo de avião que caiu na China é comum no Brasil, mas apresenta altos níveis de segurança

Aeronave transportava 132 pessoas de Kunming para Guangzhou quando caiu em uma região montanhosa. No Brasil, há pelo menos 90 aviões do mesmo modelo

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Katarina Moraes

Publicado em 21/03/2022 às 11:59 | Atualizado em 21/03/2022 às 12:25
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No Brasil, só em uma companhia aérea, há pelo menos 90 aviões do mesmo modelo da empresa China Eastern Airlines que caiu no sul da China na manhã desta segunda-feira (21); mas não há motivo para pânico: especialistas consultados pela reportagem do JC apontam que o Boeing 737-800 é um dos mais seguros do mundo.

"Avião não cai, se derruba; algum motivo teve. Primeiro, temos que saber o que aconteceu, mas a fiscalização é muito presente em todas as etapas, do início ao fim. Todos os países têm protocolos muito rígidos em relação a aeronaves. No Brasil, temos muito controle de manutenção”, pontua Adilson Paradella, que tem vasta experiência em aeroportos.

Os dados assinam embaixo da constatação. Segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, em inglês), para cada um milhão de aviões que decolam, 1,6 apresentam problemas no percurso. A chance é ainda menor quando se trata de situações com mortes: a cada 40 milhões de voos, acontecem dez incidentes fatais.

Em número de vítimas fatais, o avião só perde para o elevador como o meio de transporte mais seguro do mundo, de acordo com o especialista em segurança de aviação Roberto Peterka.

“Costumo dizer que o maior risco que as pessoas passam é no deslocamento até o aeroporto. Dentro do que se tem em termos de segurança, o 737 está no 'top'. Os protocolos aplicados são mundiais, há trocas de experiências por todas as empresas. Durante a investigação, se houver alguma medida extra de segurança, todas as empresas que operam serão avisadas, até ter certeza que ele continua sendo seguro”, afirmou.

A aeronave que caiu no sul da China tinha capacidade para até 189 passageiros, mas transportava 132 pessoas de Kunming para Guangzhou, sendo 123 passageiros e nove membros da tripulação. Vídeos divulgados do momento do acidente mostram que a queda aconteceu em uma região montanhosa, provocando um incêndio no local. Até a publicação desta matéria, ainda não havia informações sobre número de vítimas.

A agência de notícias AFP publicou que o presidente chinês, Xi Jinping, declarou estar "comovido" e pediu uma investigação para que "sejam determinadas as causas do acidente o quanto antes". Um morador da área disse a um site de notícias local que o avião envolvido no acidente estava "completamente destruído" e que viu áreas florestais próximas destruídas pelo fogo causado pela queda na encosta da montanha.

Demonstrando luto, o site oficial da Eastern Airlines ficou em preto e branco após o acidente. Um porta-voz da Boeing disse à Reuters que a empresa "está ciente dos relatos iniciais da mídia trabalhando para coletar mais informações".

A Administração de Aviação chinesa informou que o contato com a aeronave foi perdido quando ela sobrevoava a cidade de Wuzhou. Às 14h20, no horário local, o avião voava a uma altura de 8,8 mil metros. Dois minutos e 15 segundos depois, ele já estava a 2.700 metros de altitude, conforme dados do site de monitoramento Flightradar24. Vinte segundos depois, a altura já era de apenas 900 metros.

Histórico de acidentes

Mundialmente, foram registrados quatro acidentes com este modelo de avião. Um deles aconteceu no Brasil, em 2006, onde 154 ocupantes morreram após uma colisão com um jatinho Embraer Legacy. Só os pilotos do jatinho foram apontados como os culpados pelo acidente, inclusive tendo sido condenados por ele.

Os outros aconteceram em Camarões, em 2007, matando todas as 115 pessoas a bordo; na Holanda, em 2009, onde, dos 127 passageiros e sete tripulantes, 80 saíram feridos e nove morreram; e na Índia, em 2020, quando uma ultrapassagem na pista de pouso matou 17 dos 191 passageiros a bordo.

Mesmo sendo da mesma "família", ele é diferente do Boeing 737 MAX, que teve voos suspensos por alguns anos após dois acidentes com características similares acontecerem com ele, em 2018, na Indonésia, e em 2019, na Etiópia. Na China, ele já não opera mais.

Ambos os acidentes foram causados por um desconhecimento dos pilotos em relação a um novo software no avião, que inclina o “nariz” dele para baixo automaticamente, evitando que ele perca a velocidade e a sustentação.

Após investigação, ficou constatado que houve falta de treinamento de pilotos sobre esse dispositivo, chamado de Maneuvering Characteristics Augmentation System (MCAS), ou, Sistema de Aumento das Características de Manobra. Então, os pilotos aprenderam sobre ele, e hoje voltou a ser operado.

O que será feito agora?

Peterka explica ser muito cedo para definir qual teria sido a causa da queda do 737-800 na China, mas que, pelos vídeos, “parece que não houve nenhuma emergência e colidiu com algum obstáculo.” “Vão ter que ver as duas caixas pretas, que não falam tudo, sincronizá-las, ver o radar, ver como os equipamentos estavam estavam funcionando… É um quebra-cabeça que precisará ser montado.”

Todo processo, segundo ele, pode durar de um ano a um ano e meio, e o que for descoberto será repassado às empresas ao redor do mundo para que aprimorem os aviões e os tornem ainda mais seguros.

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