Homem atira em rodoviária, fere 2 e mantém 16 reféns em ônibus por 3h
Criminoso estaria tentando fugir do Estado por rixa entre facções criminosas
Um homem manteve ontem 16 passageiros de um ônibus intermunicipal reféns por cerca de 3 horas, no Terminal Rodoviário do Rio. Antes de se entregar, ainda quando assumiu o controle do veículo, ele feriu duas pessoas, e uma delas ficou em estado grave. A suspeita é de que estaria tentando fugir do Estado, por uma rixa entre facções criminosas, e imaginou estar sendo seguido por policiais à paisana.
O criminoso foi identificado como Paulo Sérgio de Lima, de 29 anos, teve a arma apreendida e acabou levado para a 4ª Delegacia de Polícia. Segundo a PM, ele tem duas passagens por roubo e ficou preso de 2019 a março de 2022 - tendo sido beneficiado por progressão de pena. Em entrevista à GloboNews, o secretário da Polícia Militar, coronel Henrique Marinho Pires, afirmou que o sequestrador é morador da Favela da Rocinha.
Informações preliminares apontam que ele estaria fugindo do Rio para Minas, por causa de problemas com membros da facção criminosa da qual faz parte e que invadiu a Favela da Muzema, na zona oeste. Ele comprou a passagem em dinheiro e entrou no terminal armado com uma pistola 9 mm, por volta das 15h. Mas começou a desconfiar de que estaria sendo seguido por policiais à paisana.
COMO FOI
Neste momento, Lima sacou a arma e começou a atirar. Houve tumulto e gritaria na rodoviária, que chega a receber 38 mil passageiros diariamente. Bruno Lima da Costa, de 34 anos, foi baleado três vezes no tórax e no abdome. A polícia acredita que o criminoso imaginou que ele fosse um policial. O paciente foi socorrido rapidamente, em estado grave de saúde, e passou por cirurgias com três equipes médicas ainda na tarde de ontem, no Hospital Municipal Souza Aguiar, na capital. Ele recebeu seis bolsas de sangue e seu quadro se mantinha grave no início da noite.
A polícia relatou uma segunda vítima, que teria sido atingida por estilhaços - ou por uma bala de raspão, segundo a versão de algumas testemunhas. Conforme o major Fábio Contreiras, porta-voz do Corpo de Bombeiros, a vítima recebeu atendimento na própria rodoviária e foi liberada, preferindo continuar o tratamento em uma clínica particular, já que o ferimento era superficial.
A aposentada Cleuza Aparecida relatou à TV Brasil que o momento foi de muita apreensão e nunca tinha visto algo semelhante na Rodoviária do Rio. "Um caos, faz 40 anos que eu viajo pela Novo Rio e nunca aconteceu isso. Eu estava perto do ônibus que foi sequestrado. Uma menina mandou todo o mundo que estava lá perto se esconder no banheiro."
O eletricista Jorge Nascimento Lopes disse que comprava a passagem quando começou a escutar os tiros. "Daí, foi uma correria e a polícia colocou todo o mundo para fora da rodoviária, porque a gente ficaria mais protegido assim."
NEGOCIAÇÃO
Logo na sequência, Lima subiu no ônibus da empresa Viação Sampaio, que ia para Juiz de Fora, em Minas Gerais. A empresa havia vendido 43 passagens (37 em poltronas comuns e 6 leitos), mas nem todos haviam embarcado quando o sequestro começou.
A polícia decidiu esvaziar o terminal rodoviário (antes chamado de Novo Rio) para as negociações. O coronel Pires disse que o criminoso apresentava um comportamento agressivo enquanto mantinha os passageiros reféns e negociava com a PM. Houve relato de tiros contra dois agentes do Bope às 17h, mas, à medida que o batalhão tomava a frente das ações, o sequestrador foi ficando mais calmo. Ele se rendeu por volta das 18h.
O porta-voz da PM, Marcos Andrade, disse que todos os reféns foram libertados sem ferimentos e depois atendidos pelo Corpo de Bombeiros. Entre eles, havia uma mãe com uma criança de colo e vários idosos. "Chegamos ao melhor resultado possível, com o criminoso preso, e os reféns libertados sem ferimentos."
O governador do Rio, Cláudio Castro, usou a rede social X (ex-Twitter) para dizer que monitorava a situação e pediu dedicação máxima às forças policiais. Já o prefeito, Eduardo Paes, ressaltou que todo o entorno da rodoviária estava fechado, e que equipes da Prefeitura estavam orientando motoristas na região.
ATRASO
Após o fim do sequestro, o primeiro ônibus que saiu da rodoviária partiu rumo a São Paulo. O embarque de passageiros ocorreu fora da rodoviária, na Rua Equador. A viagem, que estava prevista para 15h30, ocorreu às 17h52. Por volta das 19h, houve um princípio de confusão, com pessoas tentando abrir as portas da rodoviária. A prefeitura chegou a orientar que passageiros que tinham passagem para a noite remarcassem a viagem.