Acidentes aéreos crescem no Brasil, mas transporte segue sendo o mais seguro, segundo especialista
Em 2024, país registrou o maior número de mortes em uma década; fiscalização do setor de aviões de pequeno porte é o maior desafio para prevenção

Entre janeiro e os primeiros dias de fevereiro de 2025, o Brasil registrou 23 acidentes aéreos, segundo o painel do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer), que causaram a morte de 10 pessoas.
Dados do Sipaer também revelam que 2024 foi o ano mais letal no Brasil nos últimos dez anos em relação ao número de mortes por sinistros aéreos: foram 152 vítimas.
De acordo com o especialista em segurança de voo Roberto Peterka, em entrevista ao programa Passando a Limpo desta quinta-feira (13), na Rádio Jornal, o aumento de acidentes aéreos no Brasil está relacionado ao crescimento da aviação geral, que enfrenta mais limites de fiscalização.
“Quando ocorre um acidente, isso causa uma comoção, porque realmente os acidentes não são raros. Eles começam a crescer à medida que a atividade cresce. Tudo é proporcional”, diz Peterka.
Segundo a Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), a frota do setor, que inclui aeronaves como aviões de pequeno porte, jatos executivos e helicópteros de propriedade particular, cresceu 6% entre junho de 2023 e junho de 2024. Ao todo, são 10.285 aeronaves em operação.
Além do crescimento da aviação geral, o especialista diz que a recorrência recente de condições meteorológicas adversas também tem relação com o aumento dos acidentes aéreos.
“A maioria dos acidentes que ocorreram, principalmente no Sudeste, teve a meteorologia envolvida, porque são aviões que não voam por instrumento, são aviões que não estão preparados e às vezes ele é pego de surpresa, ou às vezes o piloto insiste em voar e acaba ocorrendo um acidente”, explica.
Condições dos pilotos
Peterka afirma que embora a ação dos pilotos contribua para evitar ou causar um acidente, um sinistro aéreo envolve muitos fatores além da atuação dos profissionais.
“O acidente não é um fato isolado. Ele é uma sequência de eventos que acabam se tornando irreversíveis e o piloto é o último a evitar ou, às vezes, até contribuir para o acidente”, diz.
Ele explica que apesar de os pilotos receberem treinamento, eles são “humanos” e estão sujeitos a falhas.
“Os treinamentos são capacitadores, mas não podemos nos esquecer que lidamos com seres humanos, e o ser humano em si é falho, ou seja, o avião você pode estabelecer um tempo limite de vida para cada peça, já o ser humano você não sabe como ele pode reagir no próximo passo, então vai depender muito da conscientização”, aponta.
Prevenção
Para evitar acidentes, Peterka afirma que a melhor ação é adotar medidas preventivas, que necessitam do empenho de fiscalização dos órgãos governamentais e dos órgãos da aviação.
Ele diz que a aviação comercial e os serviços de táxi aéreo já são contemplados por uma fiscalização abrangente no Brasil desde a década de 90, mas que o maior desafio é a aviação geral, justamente o setor mais relacionado a acidentes.
Os desafios de fiscalização dos aviões de pequeno porte estão ligados à forma como o setor funciona, que o especialista classifica como “esparsa”.
“Fiscalizar a aviação geral é muito difícil, você tem pistas de pouso em fazendas, você tem pista de pouso em cidades pequenas, onde não é possível a inspeção atingir todos eles, então torna-se um pouco difícil”, avalia Peterka.
Apesar do cenário que pode assustar, o especialista ressalta que o transporte aéreo continua sendo o mais seguro. “Ainda é a atividade mais segura que existe no mundo. Você corre mais risco se dirigindo até o aeroporto do que do aeroporto até o outro aeroporto”.
Saiba como se inscrever na newsletter JC