Equipes da UFPE descobrem nova espécie de sapo na Chapada do Araripe

A espécie foi registrada há pouco. Por depender diretamente de água corrente, o sapo pode estar ameaçado de extinção
Cidades
Publicado em 19/10/2018 às 12:31
A espécie foi registrada há pouco. Por depender diretamente de água corrente, o sapo pode estar ameaçado de extinção Foto: Foto: Divulgação


Uma nova espécie de sapo foi descoberta recentemente por equipes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) na Chapada do Araripe, mais especificamente na cidade do Crato, no Ceará. Nomeada Proceratophrys ararype, a espécie foi registrada no mês passado e apresenta características que se assemelham a dos anfíbios amazônicos. Apesar de descoberto há pouco, o animal já pode estar ameaçado de extinção por depender diretamente de riachos de água limpa e corrente, alvos constantes de modificações humanas.

Encontrado durante pesquisas de campo de alunos do curso de Ciências Biológicas, o sapinho mede de três a cinco centímetros de comprimento e tem cor amarronzada. De acordo com a equipe, o anfíbio tem relação com o gênero dos sapos de chifres, que apresentam uma elevação na região dos olhos, mas perdeu esta característica. Ele ainda possui uma voz, emitida em momento de reprodução, diferente de outras espécies do mesmo grupo e região.

Suas especificidades evidenciam a possibilidade de, no passado, a Floresta Amazônica ter estado presente na região do Araripe. “Quando fizemos um estudo genético, percebemos que existe uma relação maior com sapos amazônicos do que com espécies do nordeste. É mais uma prova da conexão que já existiu entre essa região e a Floresta Amazônica” comenta o doutor em zoologia e líder do Laboratório de Herpetologia da UFPE, professor Pedro Nunes.

Por seu habitat ser bastante específico, o animal está mais vulnerável à ameaça de extinção do que outras espécies. Segundo o professor Pedro, isso reforça a necessidade de preservação da área. “A região da Chapada abriga uma série de espécies endêmicas, ou seja, que só existem lá. Se as condições da área não forem mantidas, essas espécies exclusivas podem sumir”, diz.

No caso do Proceratophrys ararype, isso ocorre pelas alterações que são feitas constantemente no curso da água. “Eles dependem diretamente de água limpa e corrente. Como os riachos estão sendo desviados para uso humano, como lavoura e abastecimento, a água está acabando e o sapinho pode desaparecer”, acrescenta o docente, que faz parte da equipe que descobriu a nova espécie. A situação também se repete com a ave Soldadinho-do-araripe, que vive na área e depende dos mesmo riachos para sobreviver.

Registro

O anfíbio foi descoberto e coletado nos anos de 2014 e 2015, mas só agora foi registrado. Um estudo de descrição sobre ele foi publicado em um artigo liderado pela professora Sarah Mângia, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), junto com a UFPE, a Universidade Federal do Cariri (URCA) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Atualmente, espécimes - machos, fêmeas e jovens - coletadas do sapo estão conservados em álcool e serão depositados na Coleção Herpetológica da UFPE, que já tem mais de mil exemplares de anfíbios, lagartos, serpentes, tartarugas e crocodilianos de várias partes do Brasil.

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