Para Vitória e Parajuru, dois peixes-boi que viviam na sede do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene/ICMBio) na Ilha de Itamaracá, litoral Norte de Pernambuco, uma nova vida teve início na última quarta-feira (17). A fêmea de quatro anos e o macho de seis foram encontrados encalhados no litoral nordestino e passaram por reabilitação no centro pernambucano. Na madrugada da quarta-feira, foram levados para a Paraíba, onde agora passam por um processo de reintrodução no ambiente natural.
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Vitória foi encontrada por pescadores em Barra de Mamanguape, na Paraíba, no dia 1º de janeiro de 2015. “Estava em casa dormindo, quando fui chamado para resgatá-la. Na hora, pude ver que se tratava de um animal recém-nascido, que ainda tinha resquícios de cordão umbilical”, conta Genilson Geraldo dos Santos, agente de campo do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho (PVPBM), da Fundação Mamíferos Aquáticos.
A equipe tentou localizar a mãe do animal, sem sucesso. A solução foi levar Vitória até a unidade de reabilitação de Itamaracá, para receber a assistência necessária. “Na natureza, a mãe amamenta e ensina o filhote a respirar. Por isso, aqui o processo inicia com a colocação do animal em uma piscina pequena e rasa. À medida que ele vai crescendo, transferimos para piscinas maiores, com maior profundidade”, explica Iara Sommer, analista ambiental do Cepene/ ICMBio.
O processo de desmame dura cerca de 2 anos. Após esse período, os especialistas esperam até que o peixe-boi tenha tamanho e peso suficientes para o retorno à natureza. Para Parajuru, o tempo de reabilitação foi maior do que o de Vitória. Encontrado no município de Beberibe, no Ceará, o macho de seis anos também encalhou na praia ainda filhote, no dia 17 de janeiro de 2013. Foi resgatado pela equipe da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis) e transferido para Itamaracá naquele mesmo mês.
Na madrugada de quarta-feira, uma verdadeira operação foi montada para a transferência dos dois animais para Barra de Mamanguape. “Agora, um novo ciclo começa. Eles ficarão em um cativeiro em ambiente natural pelos próximos meses, se adaptando ao alimento, às correntes marítimas e aos outros organismos aquáticos. Esse período varia de animal para animal, mas leva em torno de quatro a oito meses”, explica o veterinário e coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, João Carlos Gomes.
PRESERVAÇÃO
Todo esse trabalho tem uma motivação maior: evitar o desaparecimento dos peixes-boi da costa nordestina, já que a espécie é ameaçada de extinção. “Isso vem de um processo histórico de caça. Atualmente, os problemas acontecem pela alteração do meio ambiente”, explica o veterinário. Segundo ele, o encalhe de filhotes é um dos maiores problemas. “Isso acontece porque as fêmeas, que procuram áreas estuárias para parir, não estão encontrando ambientes propícios. Acabam parindo no mar e a correnteza e as ondas carregam o filhote.”
Em Itamaracá, desde 1994, quando a sede foi inaugurada, cerca de 10% da população de peixes-boi existente no Nordeste (de 500 a mil animais), já passou pelo centro de reabilitação.