No vai e vem das ondas, a força e o poder de renovação da natureza. Se 2019 foi um ano de lições, algumas das mais duras e importantes vieram do mar. Entre os meses de outubro e novembro, Pernambuco viu toneladas de óleo mancharem alguns de seus principais cartões-postais, contaminando praias, rios, animais, plantas e afetando a vida de milhares de pessoas que vivem de atividades relacionadas ao mar. A pior tragédia ambiental do litoral brasileiro também despertou uma onda de solidariedade em prol da natureza. Turistas, pescadores, comerciantes e voluntários se uniram em uma corrente do bem para carregar no braço mais de 1,5 mil toneladas da substância tóxica.
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Entre os voluntários estava Laísa Araújo, 22 anos. A estudante de biblioteconomia e a irmã gêmea Laís Araújo, que estuda ciências biológicas, são as fundadoras da organização Xô Plástico, que há um ano atua na retirada de lixo das praias pernambucanas. Quando o óleo chegou em grandes quantidades ao Litoral Sul, elas decidiram que não poderiam ficar paradas. Através das redes sociais, mobilizaram voluntários em diferentes municípios, procuraram parcerias para transporte e arrecadaram Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). “Era desesperador. A gente que já trabalhava com plástico conhecia o descaso que existe com o meio ambiente. Mas foi chocante ver aquele crime, eu só queria chorar”, lembra Laísa.
Apesar do caos, a estudante lembra a solidariedade que presenciou nas areias. “A gente não tinha dimensão do que seria. Durante 15 dias levamos gente para as praias todos os dias. Teve ação que chegamos a encher três ônibus, com 45 pessoas em cada. Para mim, essa é a mensagem que fica. Juntos somos mais fortes e capazes de fazer muitas coisas boas. Que em 2020 as pessoas possam se sensibilizar e se preocupar mais com o meio ambiente.”
Os votos são compartilhados pela estudante de psicologia Heloísa Catunda, 22. Ela esteve à frente do grupo SOS Litoral PE, criado após a chegada das manchas em Pernambuco. “Foi impactante. Todos fomos pegos de surpresa pelo óleo. A lição que fica para o futuro é de que precisamos aprender a ser ecológicos. Criamos uma visão humanista, que se dedica de forma egocêntrica a cuidar do que é humano. Precisamos ir além, entender que o meio ambiente, o chão que pisamos, o ar que respiramos também é nossa morada”, argumenta.
Depois do óleo, a esperança
A esperança de dias melhores é também o que move as pessoas afetadas diretamente pela tragédia. Pescadora há 20 anos, Márcia Ramos, 43, não pôde comemorar o Natal. Também não terá ceia de ano-novo. Isso porque a procura por frutos do mar praticamente zerou desde que as manchas chegaram ao litoral. Pescadores artesanais que não possuem o Registro Geral da Atividade Pesqueira, como ela, não receberam o auxílio no valor de um salário mínimo do governo federal.
Nos momentos mais difíceis, foi a solidariedade que sustentou ela, o marido, que também é pescador, e os dois netos, de 5 e 8 anos que vivem com eles na Ilha de Deus, Zona Sul do Recife. “Muita gente nos deu alguma coisa. Também fui atrás de fazer faxinas e outros tipos de trabalho. A gente foi se virando como pôde. Para quem é pescador, 2019 foi um ano bem difícil. O óleo estragou o nosso ano. Espero que em 2020 as coisas melhorem, que fique tudo bem. Meu desejo é que nossa pesca volte a ser como era antes”, afirma.
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