Três anos de silêncio. Longa espera por uma resposta que não veio. Neste domingo, completam 1.096 dias da queda do avião da Noar Linhas Aéreas que matou 16 pessoas após a aeronave explodir num terreno baldio na Praia de Boa Viagem, no dia 13 de julho de 2011. A tragédia segue impune. Ninguém foi preso. Não houve julgamentos nem condenação. Essa é a dor maior que hoje carregam os familiares que perderam filhos, pais, irmãos e amigos no acidente que comoveu o Recife. Passados três anos, a impunidade revolta, mas também serve de combustível para não desistir. Não esquecer nem deixar que seja esquecido. O sentimento de tristeza, mas sobretudo o de luta, une parentes que, há três anos, vivem uma saudade que não passa.
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Em fevereiro deste ano, um importante passo foi dado para buscar a responsabilização pela tragédia. Apesar de, na época, a informação não ter sido divulgada, a Polícia Federal (PF) finalmente concluiu o inquérito que apura o acidente e encaminhou os autos para o Ministério Público Federal (MPF), que analisará o trabalho da PF. Como o processo corre em segredo de Justiça, nem a polícia nem o MPF deram detalhes sobre o resultado das investigações. Informações extra-oficiais, no entanto, levam esperança às famílias das vítimas.
"Pelo que soubemos, o inquérito aponta culpados e, acredito, responsabiliza a empresa. Estamos confiantes que essa notícia será confirmada. Esperamos por isso há três anos", anima-se Geyson Soares, presidente da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do voo 4896 da Noar (Afav-Noar). Ele é irmão do engenheiro Marcos Ely Soares, um dos 16 mortos na queda do avião. A associação vai contratar um advogado, até o final deste mês, para que seja solicitada ao MPF a quebra do segredo de Justiça do processo.
Em julho do ano passado, após dois anos de investigação, um detalhado relatório produzido pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) concluiu que uma combinação de falhas técnicas e humanas contribuiu para a queda da aeronave. O documento apontou uma série de erros que colaboraram para a tragédia, mas não chegou a definir causas nem apontar culpados. Segundo o relatório, o desastre teve início com o rompimento na base da haleta metálica de número 27 da turbina esquerda do LET-410, o que ocasionou a quebra do motor esquerdo. A falha, no entanto, poderia ter sido contornada, de acordo com o Cenipa, pois a aeronave tinha condições de executar um voo monomotor, já que o motor direito operava normalmente. O problema é que o piloto da Noar havia feito um treinamento para pouso de emergência incompleto e o copiloto sequer teve acesso a esse treino. Apesar de apontar diversas falhas, o inquérito do Cenipa não tinha caráter punitivo, mas apenas de orientação para evitar novos acidentes.
Amanhã uma celebração religiosa marcará a data. Os familiares vão participar de uma missa, às 8h, na Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, na tradicional pracinha do bairro, na Zona Sul da capital. A celebração será uma oportunidade para os parentes se reencontrarem, já que muitos só mantêm contato por telefone, email ou redes sociais. A dentista Taciana Guerra Farias diz que todo dia é uma tentativa de recuperar o vazio deixado pela perda. Dentista igual a mãe, Raul Farias Cintra tinha 24 anos e viajava para Natal, destino do voo da Noar, para dar aulas numa faculdade particular. Do que sente mais falta do filho? Taciana é ligeira na resposta. "Da enorme alegria de viver que ele tinha. Estava feliz com a carreira e cheio de planos. Brincalhão e comunicativo, era a minha alma gêmea." Confiante no poder libertador das palavras, ela buscou na escrita a sua catarse. Publicou dois livros sobre o longo processo de superação. Na última quinta-feira, Taciana criou coragem e voltou ao local onde o avião caiu, na Avenida Boa Viagem. "Fui lá fazer uma oração. Ali é um lugar que simboliza o fim, mas também o recomeço. É difícil, mas a vida precisar seguir."