Arquitetura

O Recife e suas edificações de inspiração art déco

Movimento surgiu na Europa no século 20 e chegou à capital pernambucana nos anos 30

Cleide Alves
Cadastrado por
Cleide Alves
Publicado em 28/06/2015 às 8:08
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
FOTO: Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Leitura:

Sabe aquela época das mulheres modernas e ousadas desfilando pelas ruas com a boca bem pintada e envergando elegantes vestidos a caminho do cinema, bem Paris nos anos 20? Transporte esse cenário para a arquitetura e você vai se deparar com as casas art déco do Recife, com suas formas geométricas mais retilíneas, quinas arredondadas, despojadas de enfeites nas fachadas, mais verticalizadas e caprichosamente decoradas.

Qualquer semelhança com o Clube Náutico Capibaribe, na Avenida Conselheiro Rosa e Silva, nos Aflitos, ou com o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, na Rua Henrique Dias, no Derby, não é coincidência. O art déco, movimento ligado à vida agitada das cidades europeias na década de 20, teve forte influência na arquitetura de clubes, cinemas e cassinos no Recife dos anos 30 e 40 do século passado, declara a arquiteta Sônia Marques.

O Cine Pathé (primeiro cinema do Recife, na Rua Nova), o Cine Torre (Rua Conde de Irajá) e o Cine Polytheama (Rua Barão de São Borja) faziam parte desse ciclo da história do Recife, informa Sônia Marques, professora aposentada da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenadora local da ONG internacional Documentação e Conservação do Movimento Moderno (Docomomo).

“Nenhum deles existe mais”, lamenta Guilah Naslavsky, professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE e pesquisadora da arquitetura moderna desde o curso de graduação. Mas o Cinema da Fundação continua lá, exibindo aos frequentadores de sua simpática sala os frisos art déco da fachada e os vitrais coloridos em paredes internas, tão característicos do estilo.

Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Sede do Clube Náutico Capibaribe, na Avenida Rosa e Silva, no Recife, e suas linhas art déco - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Sede do Clube Náutico Capibaribe, na Avenida Rosa e Silva, no Recife, e suas linhas art déco - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
A fachada retilínea do Mercado da Encruzilhada, no Recife, preserva a elegância do estilo art déco - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
A fachada retilínea do Mercado da Encruzilhada, no Recife, preserva a elegância do estilo art déco - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
A fachada retilínea do Mercado da Encruzilhada, no Recife, preserva a elegância do estilo art déco - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Os frisos da fachada do Cinema da Fundação, no Derby (Recife), são carcterísticos do art déco - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Os frisos da fachada do Cinema da Fundação, no Derby (Recife), são carcterísticos do art déco - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Vitrais do Cinema da Fundação, no bairro recifense do Derby, também são marcantes no estilo art déco - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Vitrais do Cinema da Fundação, no bairro recifense do Derby, também são marcantes no estilo art déco - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
O prédio-sede dos Correios, na Avenida Guararapes, Centro do Recife, é um exemplo do art déco - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
O prédio-sede dos Correios, na Avenida Guararapes, Centro do Recife, é um exemplo do art déco - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
O prédio-sede dos Correios, na Avenida Guararapes, Centro do Recife, é um exemplo do art déco - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
O Edifício Almare, na Avenida Guararapes, Centro do Recife, também tem características do art déco - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
A Avenida Guararapes, no Centro do Recife, também é art déco no Edifício Arnaldo Bastos - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
A Avenida Guararapes, no Centro do Recife, também é art déco no Edifício Arnaldo Bastos - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
O art déco nas casas puristas de varandas charmosas da Rua Bispo Cardoso Ayres, no Centro do Recife - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
O art déco nas casas puristas de varandas charmosas da Rua Bispo Cardoso Ayres, no Centro do Recife - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
O art déco nas casas puristas de varandas charmosas da Rua Bispo Cardoso Ayres, no Centro do Recife - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Edifício de inspiração art déco na Rua das Flores, localizada no bairro de Santo Antônio, no Recife - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC ImagemFoto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Edifício de inspiração art déco na Rua das Flores, localizada no bairro de Santo Antônio, no Recife - Foto: Sérgio Bernardo/JC ImagemFoto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Edifício de inspiração art déco na Rua das Flores, localizada no bairro de Santo Antônio, no Recife - Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem

Fachada revestida com pó-de-pedra, como se vê no Cinema da Fundação, também marca esse período, afirma Guilah. “É um erro cobrir com tinta”, avisa. Geralmente preparado com cal e mica (minerais), o pó-de-pedra tem alta durabilidade e é um excelente isolante térmico, diz o professor de arquitetura da UFPE Luiz Amorim. “Não é específico do art déco, foi usado por aqui até os anos 60”, declara o arquiteto.

O estilo “típico da modernidade urbana do início do século 20”, na definição de Sônia Marques, se espalhou por imóveis residenciais, públicos e comerciais da capital pernambucana, levando para as construções primeiro andar com escadas bem verticais, vidro nas janelas e varandas graciosas. A Avenida Guararapes, no bairro de Santo Antônio (Centro), preserva o art déco na sede dos Correios, nos Edifícios Almare, Almare-Anexo e Sul-America, diz Guilah.

Recife é art déco no prédio da TV Jornal, na Rua Capitão Lima, em Santo Amaro; nas duas casas puristas da Rua Bispo Cardoso Ayres, já chegando na Avenida Visconde de Suassuna, no mesmo bairro; e na decoração da Igreja de Nossa Senhora de Fátima do antigo Colégio Nóbrega, na Rua Oliveira Lima, bairro da Soledade. Todos no Centro.

O art déco também se apresenta, e quase ninguém percebe, em meio a tantos imóveis reformados, numa moradia da Avenida Manoel Borba, no bairro da Boa Vista. “Esta bela e sóbria senhora está lá lindinha com os frisos e a elegância que a fariam participar de uma série urbana europeia, sem vergonha de sua simplicidade”, observa Sônia. A única ressalva é o revestimento de porcelanato no muro. “Descaracterizou a casa.”

PARIS

O termo, de origem francesa, surgiu com a Exposição de Arte Decorativa realizada na cidade de Paris, em 1925, para mostrar as novidades produzidas pela indústria, diz Guilah. “O art déco era um estilo de vida, uma tendência em todas as artes, incluindo objetos, móveis e roupas, e que chegou à arquitetura”, explica.

No Recife, esclarece a professora, o art déco (abreviatura de arte decorativa ou arts décoratifs na língua francesa) se mistura com o ecletismo, aquela junção de estilos arquitetônicos num só prédio. “Há o aspecto geométrico nas fachadas, mas a planta da edificação ainda é neoclássica, presa às concepções acadêmicas de projeto”, explica.

“Ele se opõe ao art nouveau, que era mais orgânico, com linhas curvas, arabescos e elementos que remetem à flora e à fauna”, comparam Guilah e Sônia. O art déco tende para o exótico, com inspiração indígena e também em figuras náuticas, como a casa-navio destruída na Avenida Boa Viagem, diz Guilah.

Os motivos náuticos, esclarece, eram usados “como analogia aos transatlânticos que possibilitaram viagens transcontinentais. Também foi uma referência significativa para os primeiros modernos no século 20”, diz ela. No art déco, o floral é mantido, porém estilizado e mais geométrico, detalha. As construções, seja por um questão de gosto ou por razões econômicas, eram mais baratas.

Últimas notícias