O Pátio de São Pedro tem 24 imóveis. Onze funcionam como equipamentos culturais. Cinco são restaurantes. Os demais têm usos variados, públicos e particulares. Nenhum escapou da ação de pichadores. Paredes, portas e janelas estão rabiscadas de cima a baixo, para espanto de quem frequenta o velho reduto boêmio do bairro de Santo Antônio, no Centro do Recife.
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“Tenho restaurante aqui há mais de 30 anos e nunca vi nada igual. É a primeira vez que a pichação acontece com essa dimensão”, afirma o comerciante Carlos José Bezerra, um dos proprietários do Buraco do Sargento. Até a Igreja de São Pedro dos Clérigos, cercada por tapumes para obra de restauração, estampa as marcas do vandalismo nos tapumes e na parede lateral da Rua das Águas Verdes.
Construção do século 18, o Pátio de São Pedro (igreja, casario e praça) é tombado como conjunto arquitetônico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1938. A depredação do casario configura crime contra o patrimônio histórico brasileiro e a Polícia Federal precisa ser envolvida, avisa o engenheiro Frederico Almeida, superintendente do Iphan em Pernambuco.
“Dá uma tristeza quando olho as casas desse jeito”, diz Joseilda Brito, uma das herdeiras do Bar e Restaurante Aroeira. Inaugurado em 1940, é o mais antigo em atividade no local. “Isso é uma vergonha, abandonaram de vez o Pátio de São Pedro. Acabou-se o tempo da cultura, como antigamente”, lamenta Maviael Ribeiro de Barros, morador do bairro de São José e frequentador do lugar.
Comerciantes afirmam que os imóveis amanhecem mais sujos às quartas-feiras, depois da festa Terça Negra, um dos eventos realizados no local. Terça-feira passada (4), com o pátio lotado, o casario foi depredado mais uma vez. “Era cedo, 23h, quando um grupo de 15 pessoas começou com a algazarra. Um subiu nas costas do outro para pichar as partes mais alta das paredes, na frente de todo mundo. A grade de uma das casas também foi usada como apoio”, relatam.
Jorge Nascimento, um dos comerciantes, disse que telefonou para a Polícia Militar e avisou do ataque aos imóveis. “A polícia apareceu, mas demorou a chegar e não encontrou ninguém. Nos sentimos obrigados a fechar as portas às 23h30, meia hora antes do previsto. Antes da ação dos vândalos, a festa estava bonita, porém a falta de segurança é total”, diz.
As pichações também se espalham pela vias de acesso, como a Rua do Fogo, Travessa de São Pedro (Beco do Veado Branco) e Rua das Águas Verdes. “Esse tipo de problema sempre existiu na cidade, mas o que aconteceu com o casario é muito agressivo e vem piorando desde o Carnaval deste ano”, declara o gestor do Pátio de São Pedro pela Prefeitura do Recife, Bruno Padilha Castanha.
Ele fez um documento relatando a depredação e enviou à Secretaria de Cultura do Recife (proprietária de 21 casas do pátio) e à superintendência do Iphan. “Vamos fazer uma reunião para discutir formas de fiscalização, o mais rápido possível, com a participação da Guarda Municipal, PM e organizadores da Terça Negra”, informa. A festa tem apoio da prefeitura e no momento, por razões financeiras, só é realizada duas vezes por mês.
“Provavelmente, os vândalos agem após o evento, na madrugada”, afirma Bruno Castanha. A prefeitura, diz ele, ainda não tem solução para a limpeza da fachada do casario. “Não adianta fazer a nova pintura, antes de traçarmos um plano de controle e fiscalização, porque as paredes serão pichadas outra vez.”
Bruno Castanha acrescenta que os rabiscos também aparecem após os eventos de reggae promovidos por um dos bares, aos domingos. Em 2012, a empresa de Tintas Coral, numa parceria com a prefeitura, pintou as casas do pátio. A assessoria de imprensa da Secretaria de Defesa Social disse que a câmera de vigilância do pátio flagrou pichadores em ação. As imagens serão encaminhadas ao delegado responsável pelo caso.