GIRO METROPOLITANO

Desafio para salvar as lagoas de Olinda

Cursos d'água Sementeira, Azul e Artol, nos bairros de Jardim Brasil I e II vêm sendo aterrados para dar lugar a imóveis e lotes clandestinos

Bianca Bion
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Bianca Bion
Publicado em 28/09/2015 às 9:48
Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
Cursos d'água Sementeira, Azul e Artol, nos bairros de Jardim Brasil I e II vêm sendo aterrados para dar lugar a imóveis e lotes clandestinos - FOTO: Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Conservar as três lagoas dos bairros de Jardim Brasil I e II, em Olinda, no Grande Recife, é um desafio. Em função da grande quantidade de lixo, ações de aterro constantes e construções irregulares, os olhos d’água Artol, Sementeira e Azul estão sufocados. As áreas têm importante valor histórico e ambiental para a localidade, mas não recebem tratamento adequado. A maior preocupação da prefeitura é em relação a aterros realizados por empresas e moradores da área para comercialização irregular de terrenos. 

A constatação foi feita por meio do projeto da prefeitura Caminho das Águas, que tem por objetivo coibir o aterro e a obstrução das lagoas do município. A ação mais recente ocorreu na Artol, a mais comprometida. Quatro pessoas receberam intimações para prestar depoimento na polícia. Segundo estudos da gestão, entre 2007 e 2015, metade da lagoa foi aterrada. 

“Fazemos o monitoramento, mas as agressões são constantes. Empresas e moradores invadem e jogam metralhas para construir casas. Contamos com apoio da polícia e há, inclusive, um inquérito correndo na justiça, mas é difícil conter a ação. Os envolvidos agem de madrugada ou nos fins de semana. Agora, vamos enviar um relatório para o Ministério Público de Pernambuco referente à Lagoa Artol. Espero que este órgão, com seu poder de investigação, possa nos ajudar”, diz o secretário de Meio Ambiente de Olinda, Roberval Veras. 

As outras duas lagoas não sofrem menos com o lixo e as invasões. A Sementeira tem trecho bem conservado na Rua Paraíba. Entretanto, nas proximidades do Estádio Olindão, está tomada por invasões. Uma pequena comunidade se estabeleceu nas margens. Há pessoas que vivem ali há anos e aguardam moradia popular prometida pela gestão municipal. Já a Lagoa Azul é negligenciada pelo serviço de coleta de lixo.

Muitos moradores da região estão interessados na preservação, mas não não conseguem evitar as invasões e a poluição das lagoas. Na Travessa da Rua Brasília, várias casas apresentam rachaduras causadas pela pressão da água. “A prefeitura já veio aqui e marcou várias residências, dizendo que vai retirar todo mundo, mas não faz nada nem manda posicionamento. A comunidade luta, corre atrás para ajudar e orienta os vizinhos que cometem irregularidades, mas não adianta”, relata o topógrafo Paulo Laurindo, 35 anos. 

Os três olhos d’água de Jardim Brasil I e II são artificiais. Foram criados por causa da perfuração de poços em busca de fosfato no século 20. Os bairros cresceram em torno de uma fábrica de exploração de minério e hoje comportam 17.058 habitantes, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. 

Atualmente, são agentes fundamentais no sistema de drenagem da localidade, conectadas com o Canal da Malária. Como estão sufocadas, não há para onde a água correr, gerando alagamentos. Para melhorar a situação, a gestão investe no projeto de revestimento do canal e na urbanização de Jardim Brasil, com a pavimentação de 70 ruas e construção de cinco estações elevatórias de esgoto. Também está prevista a entrega de 800 moradias para remoção de famílias que vivem às margens das lagoas.

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