O professor Sérgio Monteiro destaca o ineditismo da pesquisa Arqueologia da doença no cemitério histórico do Pilar, defendida por Ilana Elisa Chaves no Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). "É uma análise inédita, ela identifica uma população colonial europeia, vinculada ao período holandês (1630-1654)", declara. Ele orientou a pesquisa de Ilana, com a professora da UFPE Viviane Castro.
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De acordo com Sérgio Monteiro, professor do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da UFPE, o renomado arqueólogo italiano Alfredo Coppa, professor da Universidade La Sapienza, de Roma, fez uma visita ao Recife, viu os esqueletos e confirmou a descendência europeia, pelas características dos dentes.
Por enquanto, só uma das mortes é atribuída a ferimento durante combates. É o caso de um esqueleto com uma lesão no crânio provocada por arma. “A cicatrização aconteceu quando ele já estava morto”, explica o arqueólogo. As ossadas, provavelmente, seriam de soldados do exército da Companhia das Índias Ocidentais, empresa que financiou a ocupação holandesa no Nordeste brasileiro no século 17.
Há poucos casos de cárie, uma ossada com marca de golpe de espada (como a lesão cicatrizou com a pessoa ainda viva, não foi essa a causa do óbito), uma figura que teria só um olho (a pessoa deveria usar um tampão, diz o arqueólogo) e uma craniossinostose. “É uma deformidade que ocorre quando a moleira fecha antes do tempo, deixando a cabeça alongada”, diz ele.
Pela quantidade elevada de septo nasal fraturado, Sérgio arrisca dizer que os soldados do exército da Companhia das Índias Ocidentais deveriam brigar muito e levar socos no nariz. Os arqueólogos não conseguiram fazer exames de DNA, como pretendiam, porque não restou matéria orgânica nos ossos.
Nenhum esqueleto foi encontrado com vestígios de roupas e não há marcas de caixão ou túmulos. “Com a carência, fardamento, roupas e calçados de soldados mortos eram repassados para os vivos”, pondera. “Se houver uma listagem desse exército na Holanda, é possível dar um nome e uma família aos esqueletos”, completa Sérgio Monteiro.