Arqueologia

Cemitério encontrado no Bairro do Recife estaria vinculado ao período holandês

Pesquisa apresentada na UFPE indica a provável origem dos equeletos: jovens que faziam parte do exército da Companhia das Índias Ocidentais

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 04/11/2015 às 8:08
Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Os esqueletos humanos encontrados no cemitério histórico do Pilar, no Bairro do Recife, possivelmente eram de soldados da Companhia das Índias Ocidentais, empresa que financiou a ocupação holandesa no Nordeste brasileiro de 1630 a 1654. Europeus, jovens e do sexo masculino, a maioria morreu de doença e não em decorrência de ferimentos de guerra.

De 28 sepultamentos analisados, 19 apresentam sinais de escorbuto, como retração alveolar (ossos dos dentes), abscesso e perda de dentição. A enfermidade é provocada pela carência de vitamina C. “Em menor escala, constatamos indícios de doenças infecciosas como bouba, sífilis venérea e varíola”, informa a arqueóloga Ilana Elisa Chaves.

Ela pesquisou os esqueletos no curso de mestrado e defendeu a dissertação Arqueologia da doença no cemitério histórico do Pilar, em setembro de 2015, no Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Fiz o levantamento das doenças no período holandês e das condições de vida das pessoas nessa época”, diz Ilana.

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Arqueólogos da Fundação Seridó e da UFPE localizam cemitério histórico no Bairro do Recife, em 2013 - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Cemitério histórico do Bairro do Recife na comunidade do Pilar. Foram encontradas 68 ossadas humanas - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Cemitério colonial ficava em terreno entre o Rio Beberibe e o mar. Ossadas seriam do século 16 ou 17 - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Esqueleto humano do século 16 ou 17 resgatado por arqueólogos no Pilar, Bairro do Recife, em 2013 - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Numa área de 780 metros quadrados do Bairro do Recife, arqueólogos descobriram 68 esqueletos humanos - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Numa área de 780 metros quadrados do Bairro do Recife, arqueólogos descobriram 68 esqueletos humanos - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Esqueleto humano completo, do século 16 ou 17, encontrado no Pilar, Bairro do Recife, em 2013 - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Esqueleto humano completo, do século 16 ou 17, encontrado no Pilar, Bairro do Recife, em 2013 - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Terreno do cemitério secular do Bairro do Recife está abandonado, cheio de lixo, esgoto e mato - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Vigas de novas construções na área do cemitério histórico do Bairro do Recife. Obra está paralisada - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Trechos escavados do velho cemitério do Bairro do Recife acumulam água de chuva, esgoto e lixo - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Trechos escavados do velho cemitério do Bairro do Recife acumulam água de chuva, esgoto e lixo - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Esgoto de casas da Rua de São Jorge jogado no terreno do cemitério histórico do Bairro do Recife - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Trechos escavados do velho cemitério do Bairro do Recife acumulam água de chuva, esgoto e lixo - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Trechos escavados do velho cemitério do Bairro do Recife acumulam água de chuva, esgoto e lixo - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Trechos escavados do velho cemitério do Bairro do Recife acumulam água de chuva, esgoto e lixo - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Esgoto de moradia existente na área do antigo cemitério do Bairro do Recife lançado sobre os achados - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Cemitério do Recife colonial, na comunidade do Pilar, ocupa área onde será construído habitacional - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Trechos escavados do velho cemitério do Bairro do Recife acumulam água de chuva, esgoto e lixo - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Trechos escavados do velho cemitério do Bairro do Recife acumulam água de chuva, esgoto e lixo - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Vigas dos novos habitacionais destruindo alicerces de casas do séculos 17 e 18 do Bairro do Recife - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Vigas dos novos habitacionais destruindo alicerces de casas do séculos 17 e 18 do Bairro do Recife - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Edificações iniciadas e paralisadas no terreno do cemitério histórico do Pilar, no Bairro do Recife - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
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Edificações iniciadas e paralisadas no terreno do cemitério histórico do Pilar, no Bairro do Recife - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem

 

Entre as 22 moléstias listadas, escorbuto, bouba, varíola e sífilis venérea, em estágios avançados, poderiam ser confirmadas nas ossadas, explica a pesquisadora, que fez uso da bioarqueologia e da paleopatologia para caracterizar as enfermidades. A avaliação morfológica do crânio e da região pélvica confirmou o sexo masculino de 27 esqueletos.

Um deles, talvez pela pouca idade, apresentou resultado ambíguo. “Era o mais jovem, com idade estimada em 15 anos ou menos”, informa. Observando o grau de fusão dos ossos dos braços e das pernas, ela chegou à conclusão de que quase todos teriam de 15 a 21 anos. Só dois tiveram a idade avaliada de 14 a 25 anos.

Sem dúvida, declara a arqueóloga, é um cemitério de europeus, de nacionalidades diversas. Ela descarta a hipótese sugerida inicialmente de ser um cemitério exclusivamente judaico. “O exército da Companhia das Índias Ocidentais era formado por alemães, holandeses, franceses, italianos, belgas e judeus da Península Ibérica e do Norte da Europa”, justifica.

Ilana lembra, ainda, que o antigo Forte de São Jorge (ficaria nas imediações da Igreja do Pilar) foi usado como hospital de referência da companhia para receber soldados feridos na guerra contra os luso-brasileiros ou que chegavam doentes ao Recife vindo dos Países Baixos, em viagens de navio. “Também eram atendidos soldados de outros lugares ocupados pelos holandeses, como Alagoas, Sergipe e Bahia”, acrescenta.

Arqueólogos da Fundação Seridó, contratados pela Prefeitura do Recife, localizaram as ossadas em janeiro de 2013, quando faziam o acompanhamento da obra de urbanização da comunidade do Pilar. A pesquisa foi suspensa em abril de 2014, com a identificação de 65 esqueletos. Vinte e oito foram exumados (14 estão na UFPE e 14 na Fundação Museu do Homem Americano, no Piauí) e 37 continuam no cemitério.

Não há previsão de retorno das escavações no Pilar. A prefeitura está fazendo licitação para escolha da empresa que vai dar continuidade ao estudo. “O achado é importante demais para a cidade e a área do cemitério pode ser maior. Novos esqueletos deverão surgir”, diz Ilana.

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