Em vários trechos da orla do Grande Recife, placas com alerta sobre risco de ataque de tubarão estão deterioradas, apagadas, enferrujadas e pichadas. A falta de cuidado com essa sinalização reflete o descaso com estatísticas de um Estado líder nos incidentes com o animal. De junho de 1992 a dezembro de 2015 foram contabilizados 61 casos de ataques de tubarão no litoral pernambucano – quase 40% desses registros resultaram em morte (24). Nenhuma das 302 novas placas prometidas em setembro do ano passado foi instalada na faixa de restrição, que tem 34 quilômetros de extensão e vai de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho, à Praia de Rio Doce, em Olinda. Após nove meses, a promessa é de que parte dos letreiros seja colocada em até 45 dias.
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“Esse é o tempo estipulado pela empresa com a qual assinamos, na última sexta-feira, o contrato para instalação de 88 placas de alerta sobre tubarões. Outras 22 serão colocadas numa próxima etapa. E mais 50 com orientações sobre risco de praia, como correntes fortes, também vão ser implantadas num outro momento”, esclarece o coronel Clóvis Ramalho, presidente do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit).
Ele acrescenta que os novos modelos trazem mais informações e têm durabilidade maior (permanecem conservadas por cerca de 10 anos), em comparação com os letreiros atuais, implantados em 2010.
Além do descuido com a atual sinalização, para esclarecer banhistas e surfistas sobre riscos e cuidados ao usar as praias que apresentam riscos, o Estado deixou de contar com o convênio da Secretaria de Defesa Social com a Universidade Federal Rural de Pernambuco para monitoramento dos tubarões (o Protuba, que utilizava o barco Sinuelo). “Foi um convênio que terminou em dezembro de 2014 e permitiu a conclusão de muitas pesquisas. Queremos viabilizar a manutenção da captura e marcação de tubarões, mas aguardamos parecer do Ibama sobre a possibilidade de efetuar o trabalho”, acrescenta Ramalho.
Em julho de 2013, após a morte de uma turista paulista vítima de ataque de tubarão na Praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, a discussão em torno do assunto ganhou força. Na ocasião, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) recomendou ao Governo de Pernambuco e ao Cemit que algumas praias fossem interditadas para banho de mar. “Além disso, indicamos colocação de novas placas em trechos com mais ocorrências, como nas proximidades da Igrejinha de Piedade (em Jaboatão) e em frente aos Edifícios Acaiaca e Castelinho, em Boa Viagem. Também recomendamos a publicação de um decreto autorizando bombeiros a retirar banhistas de áreas de risco. Mas só parte das solicitações foi atendida”, informa o promotor de Defesa do Meio Ambiente da Capital, Ricardo Coelho.
Como as ações de prevenção de incidentes com tubarão continuam sem o reforço necessário, o promotor reconhece a necessidade de ordenar medidas. “Também é preciso exigir qualificação dos bombeiros, instalação de placas e proibição de banho em áreas de maior risco”, finaliza Ricardo.