Oito anos de idade. Quatro deles, acordando às 6h para ir ao Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), nos Coelhos, Centro do Recife. José Enrico nunca pôde tomar banho de mar ou piscina por causa do tratamento. Passa quatro horas, três vezes por semana, sentado em uma poltrona enquanto uma máquina filtra todo o sangue por meio de hemodiálise. A rotina seria digna de um dos super-heróis que ele vê na tela do monitor enquanto joga videogame em uma das salas do instituto. Apesar de duras, as sessões, que antes o deixavam inquieto e choroso, passaram a ser enfrentadas de forma mais lúdica, graças aos equipamentos multimídia do projeto Q’Alegria. São oito cadeiras com monitores para recreação dos pacientes infantojuvenis em hemodiálise.
“Era muito chato. Mas quando chegou esse computador aqui eu me alegrei”, conta Enrico. Os dispositivos foram desenvolvidos pela Casa da Criança e doados pelo Ministério Público-6ª Região à Nefrologia Pediátrica. O serviço nefrológico do Imip atende, mensalmente, mais de 300 crianças, de 0 a 14 anos. Destas, 36 estão em terapia renal, ou seja, fazem hemodiálise. Em casos de insuficiência renal, o paciente necessita fazer o tratamento diariamente. Mais de 90% das crianças atendidas vêm do interior.
“Temos pacientes do Estado todo. Eles já chegam cansados. Antes, se queixavam, passavam mal. Hoje a gente ouve dos pais que eles até querem vir às sessões”, diz a enfermeira Clécia Sales, no setor há 18 anos. Segundo ela, com o espaço, o desconforto é amenizado. “Nos hospitais as crianças estão muito fragilizadas. Agora podemos mudar um pouco a realidade e quebrar a rotina.”
Com os equipamentos, os pequenos podem assistir a vídeos, jogar videogame, acessar internet e desfrutar do sistema de cromoterapia. O programa acalma o usuário a partir da mudança de cores.
“Quando termina ele diz ‘mainha, quero ficar mais um pouquinho, me deixa mais cinco minutos’. Antes era muito mais difícil”, relata Rose Mendes, a mãe de Enrico, enquanto o filho comemora com o amigo do lado os gols feitos durante a partida jogada no aparelho.
A metodologia Q’Alegria, criada pela ONG Casa da Criança já ajudou mais de 50 instituições infantis no Brasil inteiro. O projeto foi aplicado em seis Estados.