Apesar de concordar com a operação-padrão decretada por policiais militares em assembleia geral anteontem, a Associação de Bombeiros Militares de Pernambuco (ABM-PE) diz que não vai participar de uma possível paralisação. O presidente da entidade, sargento Ricardo Medeiros, afirma que a causa é justa, mas discorda da forma. “Está acontecendo uma briga mais pessoal do que coletiva, entre coronéis e associações. Não concordo em radicalizar nesse momento”, declara.
O sindicalista diz se sentir “como marido traído”, pelo fato de o governo ter negado um aumento aos PMs e dado aos policiais civis. Sentimento de toda a tropa. “Mas não há como, na crise em que a gente vive, o governo dobrar os salários em dois anos. A proposta apresentada nunca poderá ser cumprida e não defendo aquilo em que não acredito”. Segundo ele, não havia mais de 50 bombeiros entre os milhares de manifestantes da passeata de anteontem.
Contudo, Medeiros salienta que o governo precisa investir mais na corporação. “Em 2010 os bombeiros tinham 24 viaturas e ambulâncias, hoje só tem seis e a sociedade passa 30, 40 minutos esperando socorro. Estamos sucateados. Os policiais não têm rádio para se comunicar, usam coletes vencidos, falta munição. E, em vez de dialogar, o governo vem e fecha de repente a mesa de negociações que havia sido criada e tenta impedir os militares de participar de uma reunião. Voltamos à ditadura”. O fórum que discutia melhorias na PM foi extinto por meio de portaria, publicada anteontem, passando as negociações, inclusive salariais, para o comandante-geral da Polícia Militar.
A pauta apresentada ao governo pelos militares pede salário de R$ 6,1 mil para soldado em julho de 2018. Hoje é de R$ 3,2 mil. Um coronel passaria de R$ 13 mil para R$ 26,1 mil. As associações de classe dizem querer, pelo menos, isonomia com os policiais civis. E deram prazo até amanhã para ter uma resposta do governo. Nova assembleia está marcada para as 14h, na Praça do Derby, área central do Recife, e eles falam em possibilidade de greve.
O presidente da Associação de Cabos e Soldados (ACS), Alberisson Carlos, afirma que mais de 95% dos Programas de Jornada Extra de Segurança (PJEs) já foram entregues. “Eles representam mais de 60% do policiamento nas ruas, mas ninguém é obrigado a trabalhar no horário de folga. O reflexo é imediato”, observa. E nega haver motivação política na mobilização.
Por meio de nota, a PM diz que seu efetivo ordinário trabalha normalmente nas ruas. “Apenas o serviço voluntário do PJES sofreu desistências”, salienta, sem dar números. Diz, ainda, que desvios estão sendo apurados e que se mantém aberta ao diálogo.