Para o governo do Estado, a retomada da redução de homicídios e crimes contra o patrimônio passa pela reformulação do combate ao tráfico de crack e do atendimento aos usuários. A Polícia Civil instituiu, há cerca de três meses, uma metodologia em que equipes do Departamento de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) trabalham em conjunto com as do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). “Como na maioria das vezes os crimes são relacionados, a expertise de cada equipe em sua área agiliza a resolução e a identificação de autoria. Já estamos tendo resultados na diminuição de homicídios”, diz o delegado Luiz Andrey.
Segundo o policial, os esforços do Denarc são no sentido de evitar que as grandes quantidades de pasta-base e mesmo de crack pronto para o consumo cheguem ao Estado. Também existe um projeto para a interiorização do departamento. “É um pleito antigo nosso, mas que deverá ser concretizado a médio e longo prazo. Reforçará o enfrentamento ao tráfico no Agreste e no Sertão”.
O programa Atitude também finalizou um projeto de reformulação que deverá ser entregue em breve ao governador Paulo Câmara. “Em 2016, quando o projeto completou cinco anos, começamos a discutir o que poderia ser melhorado e onde estávamos bem. Foi um processo que contou com a participação de várias entidades e dos próprios usuários”, explica Márcia Ribeiro, secretária executiva de Políticas sobre Drogas do governo.
O Atitude sofreu com o contingenciamento de recursos do governo do Estado, anunciado em 2015 devido à crise econômica. Equipes foram reduzidas, os salários dos funcionários chegaram a atrasar, colocando em risco o atendimento dos usuários. A gestão discorda. “Dentro do quadro de cortes, posso dizer que o Atitude não sofreu tanto, pois é uma política prioritária no enfrentamento à violência, e é um dos eixos do Pacto pela Vida”, completa Márcia.
Profissionais da área pedem uma valorização maior para a iniciativa. “O governo deveria direcionar cada vez mais investimentos para o Atitude, e não transferir responsabilidades do tratamento dos usuários para comunidades terapêuticas privadas. Isso é matar o Sistema Único de Saúde (SUS)”, diz a professora Renata Almeida, da Unifavip.
“O que não pode ser esquecido é o atual estado dos Centros de Atendimento Psicossocial para álcool e outras drogas (Caps-Ad), no âmbito das prefeituras. São a primeira referência no tratamento para os usuários antes do Atitude, que é para onde vão aqueles que estão sob ameaça. Os Caps do Recife estão com defasagem de pessoal, sem comida, sem lençóis. Serviços que deveriam funcionar por 24 horas não estão funcionando”, alerta Anamaria Carneiro, secretária executiva do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas (Cepad).
A Prefeitura do Recife explica que não procede a informação sobre falta de comida nas unidades. Avisa também que ainda este ano será realizado um concurso para contratação de novos profissionais. “Desde 2013, foram nomeados 1.917 em diversas áreas de saúde”.