Moradores da Ilha de Deus, no bairro da Imbiribeira, Zona Sul do Recife, puderam, na tarde deste sábado (19), fazer uma viagem no tempo. Uma exposição com algumas das 5 mil fotos da localidade, que foram trazidas da Alemanha pela ONG Aktion Kreis – primeira a fazer um trabalho social no local – ainda nos anos 1980. O evento marcou o descerramento da placa em homenagem ao padre Beda Dankt (missionário alemão que comandou o trabalho e que faleceu em 2015, em seu país natal) cujo nome vai batizar o Eco Museu da Ilha de Deus.
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O vigilante Esmeraldo Lima da Silva, de 41 anos, tinha apenas uma foto da mãe, que faleceu quando ele tinha apenas 13 anos. E, mesmo assim, era pequena, pois se tratava da carteira de identidade dela. Ele chorou ao ver uma fotografia em que Isaurina Alves aparece sozinha, em meio aos barracos da então recém criada ocupação. “Era minha preta”, diz ele, alisando a foto. “Agora eu tenho mais uma coisa dela para guardar de lembrança”. A mãe de Esmeraldo faleceu devido a complicações decorrentes da alta ingestão de bebida alcóolica.
Muitos moradores também reverenciaram a foto de Dona Albertina, parteira que trouxe ao mundo boa parte dos habitantes da Ilha de Deus. “Dois meus cinco filhos, quatro foi ela quem ´tirou´, acho que 90% dos meninos que nasceram aqui foram pelas mãos dela”, diz a dona de casa Lucileide Francisco. Segundo ela, era comum as mulheres terem filhos dentro da ilha, pois a única ligação possível com a terra era através dos barcos utilizados pela comunidade para a pesca do sururu – até hoje a principal fonte de renda das pessoas que vivem na ilha. “Já aconteceu muitas vezes de crianças nasceram nos próprios barcos, pois não dava tempo de chegar até o outro lado e ir a uma maternidade”, conta.
Segundo a museóloga Regina Batista, que coordena a concepção do museu, a história da Ilha de Deus será contada pelas próprias pessoas que a viveram. “Não teria sentido chegar aqui com um projeto pronto e simplesmente instalá-lo. Em vez disso, vamos fazer uma construção conjunta, ouvindo da comunidade que tipo de museu ela mesmo quer”, comenta.
ONG
A exposição fez parte do Encontro de Jovens da ONG Saber Viver, que há 30 anos atua na comunidade. Houve apresentações artísticas de grupos locais, palestras e plantio de 2 mil mudas de mangue. “Uma das principais preocupações, pelo fato de vivermos em uma área de preservação, é reforçar a consciência ecológica dos moradores”, explica Edy Rocha, um dos coordenadores da entidade.
A Ilha de Deus foi urbanizada durante a gestão do então governador Eduardo Campos. Assim que tomou posse no cargo, em janeiro de 2007, a localidade foi a primeira visitada por ele, sendo escolhida para o projeto piloto na área de urbanização. A comunidade fica no Parque dos Manguezais, reserva estuarina da Bacia do Pina, cercada pelos rios Pina, Tejipió e Jordão. Desde setembro de 2016, o local é rota de um passeio de catamarã promovido pela Catamaran Tours, em parceria com a própria Saber Viver.