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Jaboatão é o segundo pior município do Brasil em saneamento

Os dados são da pesquisa realizada anualmente pelo Instituto Trata Brasil

AMANDA RAINHERI
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AMANDA RAINHERI
Publicado em 11/04/2018 às 8:31
Foto: Guga Matos/ JC Imagem
Os dados são da pesquisa realizada anualmente pelo Instituto Trata Brasil - FOTO: Foto: Guga Matos/ JC Imagem
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Para os moradores do segundo município mais populoso de Pernambuco falta o mínimo: dignidade. Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, figura, desde 2009, entre os dez piores em saneamento básico do País, de acordo com o ranking do Instituto Trata Brasil. Em 2015, ficou em quarto lugar. No ano seguinte, passou ao terceiro e, no último levantamento, em 2017, desponta como vice-líder, atrás apenas de Ananindeua, no Pará. O problema, negligenciado por décadas, está longe de uma solução.

A pesquisa envolve as 100 cidades mais populosas do Brasil, com base nos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades. Os números do governo federal têm dois anos de defasagem. O ranking do ano passado considera dados de 2015. Entre as variáveis estudadas estão população, fornecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, investimentos e perdas de água.

De acordo com o levantamento do instituto, apesar de ter 74% da população atendida por água, Jaboatão tem apenas 6,66% de esgoto tratado. A falta de saneamento castiga os moradores. A dona de casa Cícera Maria da Conceição, 58 anos, vive há quatro décadas na mesma casa, em Barra de Jangada. “Nunca vi prefeitura ou Compesa por aqui. Quando chove, a água não escoa e alaga tudo. A gente fica com medo de atravessar pela água suja, mas qual a opção? Para o lixo, a gente queima para não atrair bicho. Mas da água da rua e da que corre dos esgotos não tem como fugir”, lamenta.

A falta de saneamento também adoece. Entre os principais males estão dengue, leptospirose e diarreia. A dona de casa Maria do Céu, 37, está na lista dos que apresentaram problemas de saúde. “Peguei um germe nos pés por causa da água suja. Foi mais de um ano de tratamento para descobrir o que era e tratar. Quando chove, temos que usar botas. Todo mundo tem medo da água, porque ela se mistura com os esgotos que escorrem pelas ruas e com o lixo espalhado”, conta.

AUSÊNCIA DE INVESTIMENTOS

“Essa realidade, infelizmente, é resultado da ausência de investimentos durante décadas”, lamenta o gerente de Saneamento de Jaboatão dos Guararapes, Alex Ramos. Para piorar a situação, a cidade não possui sequer plano municipal de saneamento, obrigatório por lei desde 2007. Sem o documento, não é possível receber recursos. O prazo para elaboração, que terminaria em 2017, foi prorrogado para 31 de dezembro de 2019. “Estamos contratando uma consultoria que vai criar o plano. Ele deve ficar pronto em meados de 2019, no prazo estipulado pelo governo federal. O documento define diretrizes para a universalização da água, do esgoto e de drenagem.”

De acordo com o gestor, o saneamento se divide em abastecimento, esgotamento sanitário, drenagem e coleta de lixo. Em Jaboatão, os dois primeiros ficam a cargo da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa). “A prefeitura está fazendo a sua parte, com a elaboração de 37 projetos de canais até o fim do ano. Com as obras da Compesa, que já estão em andamento, esperamos ter, nos próximos oito anos, 50% da cidade saneada”, explicou Alex Ramos.

As obras são do Programa de Saneamento do governo estadual, realizadas através de parceria público-privada (PPP). O objetivo é fazer intervenções nos 15 municípios da Região Metropolitana. Há serviços no bairro de Candeias. Em março, a Compesa anunciou mudanças no contrato. A empresa BRK Ambiental passou a ter maior participação financeira – pagará R$ 5,8 bilhões do total de R$ 6,7 bilhões – e maior prazo para execução dos serviços. A expectativa de conclusão é para 2035.

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