PE é o segundo no País com mais jovens sem trabalhar nem estudar

Pesquisa do IBGE aponta que o Estado tinha 720 mil pessoas sem ocupação em 2017
Margarette Andrea e Ciara Carvalho
Publicado em 19/05/2018 às 6:13
Pesquisa do IBGE aponta que o Estado tinha 720 mil pessoas sem ocupação em 2017 Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem


Com um aumento de 9,6% do número de pessoas na faixa etária de 15 a 29 anos que não trabalhavam, não estudavam, nem faziam qualquer curso de qualificação, entre 2016 e 2017, Pernambuco foi o segundo estado do País a ter mais gente nessa situação, no ano passado. Das 2,2 milhões de pessoas nessa idade, 720 mil (32%) faziam parte da chamada geração nem-nem, no Estado (63 mil a mais do que em 2016), e 541 mil delas eram negras ou pardas, conforme Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só Alagoas teve percentual maior: 35,7%.

“O fato de esse grande número de pessoas não trabalhar nem estudar não significa que esteja sem fazer nada, pois há muitas mulheres cuidando de seus filhos e dos afazeres domésticos e isso pode ser valorado”, salienta a coordenadora da pesquisa, Marina Águas. De fato, os dados indicam que 429 mil pessoas eram do sexo feminino e 291 mil, do sexo masculino. A maioria dos nem-nem (400 mil) estavam na faixa dos 18 a 24 anos.

A posição de Pernambuco é bem mais acentuada que no País como um todo, onde, das 48,5 milhões de pessoas de 15 a 29 anos, 23% (11,2 milhões) não trabalhavam nem estudavam ou se qualificavam – 5,9% a mais do que em 2016, o que equivale a 619 mil pessoas. Um total de 17,4% dos homens e 28,7% das mulheres faziam parte da geração nem-nem no País. Entre as pessoas de cor branca, essa proporção foi 18,7% e entre as de cor preta ou parda, de 25,9%.

NA ESCOLA

A taxa de escolarização em geral se manteve estável, em todas as faixas, no Estado, começando com 26,5% de 0 a 3 anos; 90,4% de 4 a 5 anos e chegando a 98,9% entre os 6 e 14 anos, ao final do ensino fundamental. Já entre os adolescentes de 15 a 17 anos, 83,7% estavam na escola, percentual que caiu para 28,1% entre os de 18 e 24 anos e para 3,4% a partir de 25 anos. Já a taxa ajustada de frequência escolar líquida mostra que 94,8% dos alunos do início do ensino fundamental estavam na série adequada para a idade (6 a 10 anos), índice que já começa a cair para 81,7% na segunda etapa do fundamental (11 a 14), chegando a 61,8% no ensino médio (15 a 17 anos) e 15,8% no superior (18 a 24) – Bem distante da meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê, até 2024, 33% de pessoas nessa faixa etária matriculadas no ensino superior.

“Em Pernambuco, 38,2% dos jovens que deveriam estar no ensino médio ou estão atrasados, cursando turmas anteriores, ou se evadiram da escola”, observa Marina. “Mas essa defasagem já se acentua no final do ensino fundamental e como não se corrige isso, há mais chances de evasão”. Resultado: 74,2% não chegam ao ensino superior na idade adequada ou nem chegam.

O aumento da defasagem e evasão conforme as séries avançam é uma realidade nacional. Em 2017, 95,5% das crianças de 6 a 10 anos estavam nos anos inicias do fundamental, caindo para 85,6% entre os de 11 a 14 anos nos anos finais. Nessa faixa etária, 1,3 milhão de pessoas estavam atrasadas e 113 mil, fora da escola. O atraso e a evasão se acentuam no ensino médio, que deveria ser cursado por alunos de 15 a 17 anos. Para essa faixa de idade, a taxa de escolarização foi de 87,2%, porém a taxa ajustada de frequência escolar líquida foi de 68,4%, indicando quase 2 milhões de estudantes atrasados e 1,3 milhão fora da escola. Entre as pessoas de 18 a 24 anos, a taxa de escolarização foi de 31,7%

ANALFABETISMO

Devendo ter reduzido o analfabetismo para 6,5% em 2015 e erradicá-lo até 2024, conforme o PNE, nem o Brasil nem Pernambuco atingiram ainda a primeira meta. No País, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais foi estimada em 7%, o equivalente a 11,5 milhões, 300 mil a menos do que em 2016 (7,2%). As regiões Centro-Oeste (5,2%), Sudeste e Sul (ambas com 3,5%) estavam abaixo da meta nacional, enquanto que no Nordeste a taxa estava acima do dobro (14,5%) e no Norte era de 8,0%.

No Estado, ela se manteve estável, em 13,4%. E quando se trata de pessoas com mais de 60 anos, foi para 35,2% (bem acima do percentual nacional, de 19,3%. “As desigualdades não existem só entre regiões. No Recife, a taxa de alfabetização acima de 15 anos é de 4,8% e, depois de 60 anos, é de 10,6%”, salienta a pesquisadora.

“A alfabetização é um dos grandes desafios e deve ser uma das principais prioridades de qualquer governo”, defendeu o ministro da Educação, Rossieli Soares, que visitou o Estado ontem. “Antes de falar dos analfabetos jovens e adultos, é preciso entender que 50% das crianças ao final do 3º ano não estão sendo alfabetizadas devidamente. No Nordeste, esse indicador é de mais de 70% e em Pernambuco, de aproximadamente 74%. O primeiro ponto para atacar esse problema é garantir que as crianças até o final do 2º ano do ensino fundamental estejam alfabetizadas”, como prevê a primeira Base Nacional Comum Curricular, em implantação para os ensinos infantil e fundamental.

FORA DA ESCOLA

Com 16, 19 e 21 anos, os irmãos Carlos, Juliana e Adriana Borges estão fora da escola. Carlos, que tem um déficit de aprendizagem, parou logo no primeiro ano. Adriana ficou no terceiro ano e Juliana desistiu no quinto ano. Todos ainda no ensino fundamental. Moradores de Santo Amaro, na região central do Recife, eles deixaram a sala de aula, há mais de um ano. Cada um por motivos diferentes. Agora afirmam que querem voltar a estudar, mas a mãe, Nadja Batista Borges, 40, diz que não encontrou vagas na escola próxima à residência da família.

Com um filho de três anos, Juliana, a mais velha e que estudou mais anos, conta que sabe ler e “mais ou menos” escrever. Preocupada com o futuro dela e da filha, reconhece que, quanto mais tempo longe da escola, menores as suas chances de conseguir uma colocação no mercado de trabalho. “Sei que é a oportunidade que tenho de conseguir uma vida melhor. Mas não é fácil. Teria que estudar à noite e perto de casa”, diz Juliana, que parou de ir à escola após o filho nascer. Quando estava na sala de aula, diz que tirava boas notas. “Eu gostava de estudar. Seria bom voltar.”

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