O coronel Luiz Scipião de Albuquerque Maranhão, primeiro prefeito republicano de Igarassu em 1890, tinha em casa um oratório do século 18 com a imagem de um Cristo amorenado e de olhos puxados. Victor Vieira de Melo, coronel da Guarda Nacional em Nazaré da Mata no século 19, guardava sua corneta de caça apoiada num par de chifres de veado. Relíquias que no passado ocupavam lugar de destaque nas moradias, as duas peças hoje compõem o acervo do Museu Histórico de Igarassu, no Litoral Norte do Grande Recife.
“Não são os nossos objetos mais antigos, mas sempre chamam a atenção dos visitantes pela curiosidade”, declara Jorge Barreto, diretor do museu. Um das peças mais longevas em exposição é uma cadeira de feitor do século 17, feita de madeira, que pertenceu a um antepassado do coronel Victor Vieira de Melo. “Para onde ia, ele levava a cadeira e botava num lugar estratégico no campo para fiscalizar os escravos”, relata o historiador Jorge Barreto.
Outro tesouro do século 17 em exibição no centro cultural é a cana do leme de uma embarcação hispano-portuguesa possivelmente envolvida na batalha naval de Itamaracá de 1640, na época da dominação holandesa no Nordeste brasileiro (1630-1654). Alavanca que permite manobrar o leme de um barco, a cana é uma barra de madeira toda decorada e foi encontrada em Vila Velha, na Ilha de Itamaracá, informa.
O museu, inaugurado em janeiro de 1954, ocupa três casas conjugadas no Centro da cidade, ao lado da Igreja dos Santos Cosme e Damião. “Ele nasceu à luz das comemorações do tricentenário da Restauração Pernambucana, criado por José Eduardo da Silva Brito, presidente do Instituto Histórico de Igarassu à época”, diz Jorge Barreto. Era um dentista do Recife, apaixonado por história e que atendia em consultório na cidade, acrescenta.
De acordo com Jorge Barreto, em 1972 o instituto enfrentava dificuldades financeiras e doou o museu à prefeitura, que assumiu administração do prédio e dos bens. Atualmente, o centro cultural tem 260 peças dos séculos 17 ao 20 em exposição organizadas em nove salas, um arquivo de documentos, uma sala para restauração de papel e uma ambiente para restauração de objetos de madeira. “Noventa por cento do acervo é anterior ao século 20”, afirma.
Entre as peças sacras, há o oratório do século 18 com o Cristo indiano da família do coronel Luiz Scipião; outro oratório típico de residências do século 19 que passou por obra de restauração ano passado; e um Cristo crucificado da Capela do Engenho Araripe do Meio do fim do século 18 ou início do 19. “Do engenho, na Zona Rural de Igarassu, só resta a capela e com risco de desaparecer”, alerta Jorge Barreto.
No museu, o visitante pode contemplar o facão rabo-de-galo do século 19 usado por um antigo vigia do Engenho Monjope, em Igarassu; uma arma batizada misericórdia por ser usada para acabar com o sofrimento dos feridos; e espadas de ferro resgatadas no Forte Orange, em Itamaracá, provavelmente das tropas luso-brasileiras, pela simplicidade, no período holandês, informa Jorge Barreto.
O acervo, diz ele, preserva a história do Litoral Norte e de cidades da Zona da Mata que faziam parte de Igarassu e se separaram ao longo dos séculos, como Nazaré da Mata, Limoeiro, Paudalho, Tracunhaém, Carpina e Taquaritinga do Norte. “Famílias dessas cidades doaram peças para o museu”, comenta o historiador. Ele pretende produzir um mapa para usar em palestras e mostrar aos visitantes a antiga extensão das terras do município.
“Temos documentos importantes no arquivo, como inventários e testamentos, trasladados do cartório municipal em 1985, que contam a história da cidade”, acrescenta. Localizado na Rua Barbosa Lima, 18, o Museu Histórico de Igarassu ocupa desde 1958 as antigas moradias das famílias Maviael do Prado e Santiago de Andrade, construídas no século 18 e hoje acessíveis a portadores de necessidades especiais.
O espaço cultural, com rampa na entrada para cadeirantes, banheiro e duas salas adaptadas, funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 13h. É mantido com recursos do município e recebe ajuda do Estado e da União para execução de obras. O ingresso custa R$ 5 (inteira) e R$ 2,50 para estudantes e maiores de 60 anos. O acesso é livre a moradores de Igarassu com endereço comprovado. Para agendar visitas basta enviar a solicitação para o e-mail mhigarassu@gmail.com.