O município de Palmares, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, a 120 quilômetros do Recife, foi devastado pela enchente do Rio Una em junho de 2010. Ruas, casas e praças sumiram debaixo d’água. A paisagem que o rio levou ficou estampada em fotografias hoje expostas na Fundação Casa de Cultura Hermilo Borba Filho, no bairro Santa Luzia, e no Cine Teatro Apolo, no Centro da cidade.
Édson Silva, presidente da fundação, selecionou 36 fotografias do acervo da entidade e de contribuições de moradores para montar a exposição Palmares de Antigamente, que ocupa uma das salas da estação ferroviária com recortes da cidade de 1914 até os anos 1980. Uma das imagens, de 1955, mostra os jardins cultivados com capricho na Praça Ismael Gouveia, no Centro, destruídos na cheia de 2010.
A Rua Visconde do Rio Branco (Rua Nova), danificada pela enchente, aparece elegante e arborizada em registro da década de 1940. Na mesma imagem se vê o Ginásio Municipal, renomeado como Colégio Municipal Fernando Augusto Pinto Ribeiro, que ficou submerso e está sendo reconstruído. As fotografias compõem um livro com 50 cartões-postais para resgatar a memória afetiva da cidade, à venda na fundação e no cine teatro por R$ 30.
Na estação ferroviária, prédio inaugurado em 1862 para as viagens de trem no interior do Estado, o público encontrará uma exposição em homenagem ao teatrólogo Hermilo Borba Filho (1917-1976), que nasceu no Engenho Verde, em Palmares. A mostra, organizada pela historiadora Betânia Corrêa de Araújo, foi inaugurada em julho de 2017 para comemorar o centenário de nascimento de Hermilo.
“A exposição ficará de forma permanente, para contar aos visitantes a trajetória do nosso patrono”, diz Édson Silva. A linha do tempo apresenta o teatrólogo, dramaturgo e escritor em textos e fotos. Uma delas, de 1926, traz o casarão do Engenho Verde, inundado pela Barragem Serro Azul construída pelo governo do Estado para abastecimento e contenção de enchentes na Mata Sul.
A Casa de Cultura Hermilo Borba Filho, criada em 1983, funciona no prédio da antiga estação ferroviária de Palmares desde o começo da década de 1990 e recebe os visitantes das 7h às 13h, de segunda a sexta-feira, com entrada gratuita. “Estamos reorganizando o acervo do museu porque perdemos muitas peças nos últimos anos”, informa.
Para ampliar as poucas peças em exposição – panelas, ferros de engomar, tesouras – a fundação está pedindo a colaboração de moradores da cidade. “Lançamos uma campanha este ano e estamos solicitando a doação de objetos, não é um trabalho fácil porque as pessoas têm apego aos bens”, comenta Édson Silva.
Quem vai à fundação não pode deixar de conhecer o Cineteatro Apolo, na Rua da Conceição. “O prédio foi construído em 1909 para hospedar o governador de Pernambuco (Herculano Bandeira de Mello) que estava de passagem pelo município. E em 6 de dezembro de 1914 ele abre como cinema”, diz Marquinhos Cabral, que recepciona os visitantes e atua na sala de projeção.
Inundado em 2010, recuperado em 2017 e novamente atingido pela cheia do Rio Una em maio de 2017, o cineteatro voltou a funcionar e exibe para o público os primeiros equipamentos da casa de espetáculos. Marquinhos Cabral destaca o projetor moderno comprado em 1958 para competir com o novo cinema que seria inaugurado em Palmares, o São Luiz. “A máquina chegou em Palmares desmontada, pela estrada de ferro”, afirma.
O antigo alto falante, posicionado atrás da tela quando em uso, e a bilheteria de madeira da época da abertura do cineteatro também estão expostas na edificação de estilo arquitetônico eclético e tombada como patrimônio do Estado. “É uma casa rica de histórias, Hermilo Borba Filho trabalhou aqui como ponto, a pessoa que coordena a entrada e saída dos atores em cena, e atuou como ator em poucas peças”, comenta Marquinhos Cabral.
Vestígios da cheia de 2010 foram mantidas num espaço da edificação, batizado Sala da Memória. A marca da água nas paredes continua visível e o lugar está decorado com cadeiras de madeira do extinto cinema Trianon do Recife compradas no passado para a plateia do Apolo de Palmares, latas de filmes e a escrivaninha de Amaro Bezerra de Vasconcelos, antigo proprietário do cineteatro.
O Apolo abre das 8h às 12h e das 14h às 17h, de terça-feira a domingo, sem cobrança de ingresso. As sessões de cinema, apenas aos sábados e domingos, custam R$ 5. E o agendamento de visitas é feito pelo telefone (81) 3662-1247. O cineteatro é vinculado à fundação e os dois equipamentos são mantidos pela prefeitura.