Um ano depois da inauguração do seu primeiro módulo, o centro comercial do Cais de Santa Rita, no Centro do Recife, continua com apenas 40 dos mais de 400 quiosques previstos em funcionamento. Outros três módulos estão prontos há meses, aguardando a chegada dos comerciantes. Pelas brechas dos tapumes que os cercam – alguns caídos – é possível ver o mato crescendo.
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O módulo dois já está com 210 boxes de eletrônicos, importados, frutas, verduras e hortaliças. Ao lado, a fase é de montagem dos quiosques, para onde vão 116 comerciantes informais do ramo de cutelarias, ferragem, eletrônicos, frutas, verduras em atacado, cereais, embutidos, refeições e depósitos de bebidas. Também há espaços para administração, vigilantes e serventes, além de banheiros.
Logo em seguida, o novo Mercado das Flores, com 48 boxes, aguarda sua inauguração desde abril. Enquanto isso, no velho mercado os “sobreviventes” (muitos quiosques estão fechados) atendem os parcos clientes em bancas desbotadas, cobertas por lonas rasgadas, telhas caindo aos pedaços, portas remendadas após sucessivos arrombamentos e incêndios. “No final de semana arrancaram as grades da janela do banheiro que está todo quebrado. Não deram nenhuma previsão de quando vamos mudar”, diz Maria Oliveira, 64 anos, há oito no local.
Beirando os tapumes, vários comerciantes esperam a transferência em barracas e infraestrutura improvisadas, mantendo a velha imagem de degradação e desordem do local. Algumas precisaram ser “protegidas” por gelos baianos. “O pessoal vê esse improviso e acha sujo, só os clientes mais fiéis, que sabem da nossa higiene é que vêm, mas cliente novo procura o módulo inaugurado que é mais organizado”, comenta Maria Celeste Gomes, 52 anos, há 13 no Cais. “Saímos de nosso canto com promessa de três meses de obra e já se passaram três anos, mas acho que agora sai”.
MERCADO
Entre o antigo e o novo Mercado das Flores, a área é dividida entre um estacionamento provisório (onde os flanelinhas cobram quanto querem) e velhas bancas de feira, que funcionam sem qualquer estrutura. Um rato passeava entre as bancas durante a reportagem. “O movimento aqui fraco, ficamos escondidos entre os tapumes e o estacionamento”, lamenta Izaac Bezerra, 45 anos, há 20 no local. “Não sei ainda para aonde vou, nem quando”.
Além do novo centro comercial do Cais de Santa Rita, há cerca de um ano a prefeitura diz que “está em fase de conclusão” a infraestrutura dos anexos do Mercado de São José, que abrigarão outros 100 vendedores de ervas e especiarias que ficam em seu entorno.
OS PRIMEIROS
No módulo em funcionamento com 40 boxes de alimentação e venda de coco, a satisfação é maior entre os comerciantes do espaço interno. “Aos poucos estão chegando clientes diferentes. Ganho menos do que antes, quando era tudo bagunçado, mas estou melhor com essa organização”, diz Pedro José da Silva, 57, há dez anos no Cais. Já quem ficou com os boxes voltados para as ruas ainda se queixam de sol e chuva. “Ficaram de fazer outra coberta, vai fazer um ano e nada. O freguês não vem no sol nem na chuva. E eu vivo doente, abro um dia e fecho cinco porque adoeço”, lamenta Sônia Maria de Almeida, 55, há 35 no local.
Iniciada pelo município em 2015, a obra de revitalização do Cais sofreu vários atrasos, paralisações e só veio a ganhar fôlego com apoio da Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do Estado, que conseguiu disponibilizar 5,1 milhões para instalação de piso e coberta para os três módulos e R$ 1,9 milhão para o Mercado das Flores. Os recursos foram provenientes do provenientes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).